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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Crítica: O Vencedor (The Fighter)



Hollywood adora um filme sobre lutadores. Já ajudou a consagrar “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood, e “O Lutador”, de Darren Aronofsky. Ambos laureados em suas respectivas temporadas de premiações. Agora encontraram em “O Vencedor” mais um queridinho do gênero de lutas. O filme é dirigido por David O Russell (Três Reis) e tem, entre outros, produção executiva de Darren Aronofsky – de novo ele.

Mas, enquanto os dois primeiros tinham seus méritos divididos entre os vários quesitos que compõem um filme, os elogios para este terceiro vieram mais desequilibrados, concentrados especialmente na figura de Christian Bale (Batman – o Cavaleiro das Trevas), oficialmente apenas um coadjuvante.

É baseado na história real do boxeador Micky Ward, famoso boxeador dos anos 80. Micky era treinado pelo irmão Dicky Eklund, ex-lutador promissor que pôs a carreira a perder ao se envolver com drogas. O forte envolvimento com a volumosa e conturbada família atrasavam a evolução de Micky nos treinamentos. Pressionado pela namorada (Amy Adams), ele teria que escolher entre a família ou a carreira.

Primando por um roteiro quadrado, o diretor mostra-se competência para sequências dramáticas, mas não se sai bem nos combates. Estes são duros, sem alma, com pouco dinamismo de montagem e movimentação de câmera e uma péssima sonoplastia “soc-pum-pow”. O slow motion utilizado nas primeiras vezes só explicita a fragilidade destas cenas, que beiram a sonolência.

A metalinguagem se faz presente, em ótimas cenas com os membros da família, ora sendo entrevistados para programas de tevê – como um documentário que a HBO produziu sobre Dicky Eklund – ora aparencendo nas transmissões das lutas de Micky.

Se por um lado a ação não convence, o elenco realiza um trabalho primoroso e criam todos uma (anti) química incrível. Amy Adams (Julie e Julia) finalmente se livra do papel de boazinha que todos já sabem que ela faz bem para mostrar que é uma excelente atriz também para papéis de personagens mais duros. Melissa Leo dá um show no papel da mãe-louca da família, mas quem toma conta do espetáculo é mesmo Christian Bale, voltando a emagrecer mais de uma dezena de quilos – assim como fez em “O Operário” - em prol do personagem e não só isso: consegue diferenciar esta de qualquer outra atuação sua. Sua versatilidade e determinação impressionam.

A ponta frágil da corda é segurada por Mark Wahlberg, que é apenas correto, carregado o tempo todo por algum coajuvante. Assim como ele, seu personagem é muito mais desinteressante do que o de Christian Bale. O roteiro poderia ter sido facilmente alterado para que o protagonista fosse Dicky Eklund, mais denso e defeituoso que o irmão mais novo.

Os próprios cartazes do filme demonstram que o estúdio percebeu que uma inversão dos pontos de vista teria muito mais potencial, tanto que colocam sempre Bale à frente de Wahlberg, mais destacado.

Este é um filme que triunfa pelos seus elementos periféricos. A vitória dos coadjuvantes.

Trailer:

(The Fighter, EUA, 115 minutos, 2010)
Dir.: David O Russell
Com Mark Wahlberg, Christian Bale, Melissa Leo, Amy Adams
Nota 7,5

4 comentários:

Rafael Carvalho disse...

Também acho que as cenas de luta nao sao das melhores, mas vejo o filme nao como sobre boxe, é, mais do que isso, um grande drama familiar. Os personagens e suas relaçoes entre si sao o que na verdade contam nesse filme. Nesse sentido, acho o roteiro muito bem desenvolvido, fugindo dos lugares comuns e enriquncendo todos os 4 personages em maior evidência, cada qual com seus defeitos e qualidades. Fiquei muito surpreso com esse filme, muito bom.

Rafael Carvalho disse...

Também acho que as cenas de luta nao sao das melhores, mas vejo o filme nao como sobre boxe, é, mais do que isso, um grande drama familiar. Os personagens e suas relaçoes entre si sao o que na verdade contam nesse filme. Nesse sentido, acho o roteiro muito bem desenvolvido, fugindo dos lugares comuns e enriquncendo todos os 4 personages em maior evidência, cada qual com seus defeitos e qualidades. Fiquei muito surpreso com esse filme, muito bom.

fiuduarte disse...

Também acho que as cenas de luta são não são inovadoras, mas as cenas em família valem a pena. Melissa Leo o Christian Bale estão incríveis. Aliás, os dois não são coadjuvantes na minha opinião. E realmente, o Wahlberg fica apagado pelos atores "coadjuvantes". Achei interessante quando os créditos finais sobrem e vemos os dois personagens principais. Como o Bale conseguiu ficar igual ao Dick Ecklund. Incrível.

Fred Burle disse...

Rafael, concentrar-se nos personagens e nas relações interpressoais é o que a maioria dos atuais bons diretores já fazem há algum tempo, felizmente. Não vejo nada que diferencie este filme de Menina de Ouro ou de O Lutador, ambos melhores que ele. Mas é bonzinho, ainda assim.

Fiu, gosto muito da Melissa Leo, desde que vi Frozen River, mas acho que ainda não é a vez dela. Já o Bale, este sim deve levar a estatueta que há tempos merece.

Abraços!

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