Foto: Getty Images |
Ralph Fiennes aportou hoje (14) na Berlinale para mostrar o seu primeiro trabalho de direção em cinema. Para debutar, ele escolheu a difícil peça de Shakespeare, Coriolanus.
Coriolanus era o maior herói de Roma, mas que, por demonstrar ambição e desprezo pelo povo, causa revolta e acaba sendo banido. Ele resolve então se juntar ao inimigo, Tullus Aufidius, que jurou se vingar da cidade.
Ralph Fiennes interpretou Coriolanus em 2000, na peça shakespeariana, em Londres. “Embora fosse uma peça densa e difícil na sua forma, eu pensava que a narrativa possibilitava naturalmente ser convergida em filme e aquele pensou permaneceu, e se desenvolveu, em minha cabeça”, conta Fiennes.
Numa coletiva de imprensa extremamente amistosa, elenco e equipe fizeram a festa dos jornalistas e deram a elas toda a simpatia esperada. Gerard Butler foi alvo de perguntas nitidamente de jornalistas histéricas, que queriam saber sobre os papéis masculinos e sexys que ele faz, mas respondeu tudo com bom humor. A atriz Vanessa Redgrave derreteu-se sobre a estreia de Fiennes na direção: “desde o começo, sempre confiei nele e no que ele estava fazendo. Este sentimento era geral na equipe”.
Embora a ideia da adaptação tenha partido do ator/diretor, o roteiro foi escrito por John Logan, de “Gladiador” e “O Último Samurai”. Logan diz que ambos enxergavam a adaptação da mesma forma, de que eles não gostariam de fazer uma “peça de museu”, mas fazer a história ser acessível ao público contemporâneo. “Shakespeare tinha uma linguagem difícil e muito específica do teatro. Meu maior trabalho foi pegar isso e adaptá-lo com a mesma força dramática para o cinema”, explica-se o roteirista.
Contemporanizando, mas não facilitando a linguagem, Fiennes realizou uma alegoria política dos tempos atuais, mostrando que a crítica que Shakespeare fazia se faz até hoje. A manipulação do povo pelos governantes, a mudança de opinião de ambas as partes, os interesses pessoais e as traições ganham força no roteiro.
Fiennes realiza em Coriolanus um delírio artístico que poucos entenderão e assim como ser aplaudido pela ousadia, pode ser chamado de megalomaníaco e virar motivo de chacota. A imprensa aplaudiu, mas não deixou de rir no momento do filme em que ele “ressurge das cinzas” cabeludo, para se juntar ao inimigo. Aquela cabeleira sim, deveria ser suprimida.
Apesar de o elenco inteiro falar inglês, mesmo a história se passando em Roma, estão todos muito bem e Fiennes, à vontade num papel que já lhe pertenceu nos teatros por muito tempo, se destaca. Com a mesma força que ele, só mesmo Vanessa Redgrave, no papel de sua mãe.
Ralph Fiennes arriscou e petiscou uma boa estreia na direção e ainda contou com a excelente direção de fotografia de Barry Ackroyd e o trabalho de som de Ray Beckett, que pode garantir presença no Oscar do ano que vem, por isso. Mas o provável reconhecimento, pelo menos do agora também diretor, poderá vir ainda neste Festival de Berlim.
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