A história de um médico alemão que trabalha há anos numa comunidade no meio de uma floresta no Camarões foi o foco da coprodução Alemanha/ França/ Holanda, exibida neste sábado (12), pela Mostra Competitiva do Festival de Berlim.
Assim como no caso do filme exibido na noite anterior (Margin Call), Schlafkrankheit ("Doença do Sono", em português) também é um projeto de estreia cujo roteiro foi baseado em experiências pessoais do diretor. Ulrich Köhler nasceu na Alemanha, mas viveu quase toda a infância no Zaire, a tira-colo do pai, médico que cumpria missão por lá.
Respaldado pelo seu conhecimento de causa, Ulrich extraiu daquela sua fase a sensação que teve ao voltar para seu país de origem: a de estar deslocado, perdido entre dois mundos.
O médico do filme, Ebbo, encontra-se em estágio de dormência, assim como a doença – cujos sintomas não são exteriores e o desenvolvimento é silencioso – que assola a região. Ele já não reconhece mais a filha, que há anos não o vê, pois estuda numa escola alemã. A mulher, depois de alguns anos em sua companhia, não se sente em casa no Camarões e há três voltara para Alemanha, para cuidar da filha.
Desenvolvida esta parte, outro médico chega para ajudar Ebbo. É Alex Nzila, o caso inverso do doutor europeu. Alex nasceu na África, mas há muitos anos morava na França, onde se formou. Ambos encontram-se neste estágio de alma apatriado.
A construção da rotina dos médicos missionários, as dificuldades do seu trabalho e da lida com sua vida pessoal é o ponto forte do filme, que retrata um mundo pouco conhecido e muito rico em conteúdo. Elementos folclóricos ou da realidade da região, como o alto número de mortes por hipopótamos e as crenças do povo em torno daquele animal também permeiam o filme, com um simbolismo que só se entende no final.
Obviamente que, para passar aquele sentimento de vida inerte, a montagem precisou puxar o freio de mão e andar de marcha lenta. Talvez entediados ou por não gostar do estilo ou por não terem entendido o recado, parte dos críticos presentes à sessão em Berlim vaiaram o longa, ao final da sessão. Foi o primeiro sinal de repúdio da competitiva deste ano, dado injustamente, para um filme que cumpriu corretamente o seu dever de casa.
2 comentários:
Uma consideração: Schlafkrankheit é, em português, doença do sono, e não 'doença adormecida'. Trata-se de uma doença parasitária infecciosa, a tripanossomíase africana, mas isso ninguém é obrigado a saber, não é? Pelo que tenho lido sobre o filme, a doença é usada como metáfora da vida do dr. Ebbo, o médico alemão que vive na África.
Miriam, obrigado pela correção. Já fiz a devida alteração no post.
Abraço
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