Mudando o Festival de Berlim de ares, mas mantendo o tema-mor do ano, “discussão de relacionamentos”, a coprodução Israel/Inglaterra “Lipstikka” trouxe novos ares à competição, com uma trama envolvente e sexy, ainda que sua dose maior seja de drama.
Como a própria sinopse define, é um drama psicológico que retrata o vínculo sexual e emocional entre Lara e Inam, duas adolescentes palestinas. A histórias é contada em três etapas que se entrelaçam pela montagem: a da adolescência na Cisjordânia, o início da vida de ambas em Londres e o reencontro sete anos depois disso, quando Lara já tem vida estabelecida, casada e com filho e Inam ainda com situação a ser resolvida.
As idas e vindas do roteiro criam o tom de suspense e deixa muitas perguntas no ar. As respostas que veem abrem ainda mais questões, que serão todas explicadas numa crucial retomada de cena no final. É o chamado ponto de vista esclarecedor, quando o que uma parte acha que aconteceu assim revela-se assado a partir da perspectiva da outra.
Ainda que com um sotaque inglês terrível, as atrizes Clara Koury e Nataly Attiya possuem química e seguram as pontas como as amigas em sua fase adulta. Mas é a novata Moran Rosemblatt que verdadeiramente impressiona, na pele da despudorada Inam, enquanto jovem.
O ressentimento é o principal componente daquela relação, que sempre fora amorosa (no sentido carnal e sentimental), mas sendo aparentemente uma via de mão única. Este amor, os mistérios e as motivações psicológicas foram pontos que o diretor Jonathan Sagall (Urban Feel) tratou muito bem. Fora a excelente direção de fotografia, de cores acinzentadas no presente e mais saturadas e coloridas no passado – é como se aquele tempo de descobertas fosse mais intenso que o atual. E isso é bem verdade.
O diretor já havia concorrido ao Urso de Ouro com seu primeiro filme, em 1999, e pode até não ter força suficiente para tirar o prêmio das mãos do iraniano Asghar Fahradi ou do húngaro Béla Tarr, mas já sobe mais um degrau no conceito do festival berlinense. A sua vez ainda pode chegar.
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