Os registros pictóricos mais antigos da humanidade encontram-se na caverna de Chauvet, sul da França. Foi descoberta por um trio de espeleólogos em 1994 e, desde então, tem sido delicadamente explorada por um seleto grupo de pesquisadores. O cineasta Werner Herzog foi o primeiro a conseguir permissão para filmar no interior da caverna. Felizmente, numa época de existência da tecnologia 3D.
De ausência sentida no festival, Herzog contou sobre seu encantamento com a caverna, em material enviado à imprensa: “Meu despertar intelectual e espiritual estava, de certa forma, conectado a pinturas das cavernas paleolíticas. Aos doze anos, vi um livro numa vitrine com o desenho de uma cavalo da caverna Lascaux, quando um indescritível desejo de tê-lo tomou conta de mim. Como o dinheiro da minha mesada era apenas um dólar por mês, comecei a trabalhar como gandula em jogos de tênis. Também peguei dinheiro emprestado com meus irmãos. Toda semana, eu verificava se o livro ainda estava lá. Acreditava que aquele seria o único exemplar. Levou metade de um ano, até que eu levantasse o dinheiro para comprar o livro. O tremor de maravilhamento e excitação tomou conta de mim e nunca me deixou”.
Com seu inconfundível estilo de narrar histórias, Herzog constroi sua história detalhadamente, desde o começo, como se estivesse escrevendo um romance. Fascinado pelas pinturas rupestres contidas na caverna, tenta transmitir sua excitação, mas o formato massante pelo qual optou, sem nenhum recurso imagético para conferir dinamismo à história – trechos de animação, por exemplo, para ilustrar o período paleolíticos e os costumes que acredita-se que o povo tinha não fariam mal ao filme – fazem-no parecer filme de escola ou peça de museum.
O cineasta tem o costume de fazer piada em cima dos seus personagens sociais e muitas vezes ridicularizá-los, mas desta vez errou na dose. Faz com que pesquisadores pareçam bitolados lunáticos, os submete a ações calculadas para, na edição, zombá-los em nome de um humor difícil de engolir.
Analisando as partes e deixam o geral de lado, o filme tem seus momentos interessantíssimos, como os cerca de 15 minutos (quase) finais, somente com imagens das pinturas e dos fósseis da caverna, cujos fascínio é ampliado enormemente pelo 3D.
Genial em quase toda a sua filmografia, o mestre Herzog, desta vez, não foi completamente feliz em suas escolhas, mas ganha méritos por oferecer uma chance única para quase todo mortal, que nunca terá a chance de ver aquilo tudo ao vivo, de ver e sentir, tridimensionalmente, toda aquela riqueza cultural.
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