"Tales of The Night" inaugura bem o dia do 3D no Festival de Berlim

Este domingo foi o dia do 3D no Festival de Berlim. Ao incluir filmes do formato na programação, o festival assume a tecnologia como parte do cinema, algo que alguns críticos e profissionais da área ainda se negam a reconhecer como arte.

O dia iniciou com a exibição da nova animação do francês Michel Ocelot (Kirikou; As Aventuras de Azur e Asmar), “Os Contos da Noite”. Com as mesmas características visuais místicas dos seus outros filmes, Ocelot uniu seis pequenas histórias de príncipes e princesas, costuradas pela reunião de um escritor e dois atores, que discutiam que peça poderiam representar.

Cada conto se passa em um reinado diferente, desde vilarejos antigos até reinados africanos. São histórias mágicas, contadas à moda antiga, como se um pai contasse histórias de ninar para seus filhos.

Foto: Getty Images | Michel Ocelot

“Espero dar ao público, com este filme, 80 minutos de prazer, algo que flutue suavemente, em algum lugar dentro dele”, disse Ocelot, em coletiva.

Perguntado sobre a experimentação que faz com diversas tecnologias dos seus filmes, Michel Ocelot: “Todas as técnicas são interessantes e cada uma trás uma nuance diferente para o que você produz. Mas elas não passam de ferramentas, pelas quais eu não sou necessariamente apaixonado. O que venero são boas histórias e beleza”.

A experimentação da tecnologia tridimensional numa animação essencialmente 2D, que joga com luz e sombra em todo o seu decorrer, pouco funciona da forma com que o público está acostumado. Não existem objetos flutuantes ou jogados para cima do espectador, apenas as cores ganham ainda mais vivacidade. Não parece ser o uso mais adequado para a tecnologia e assistir a “Os Contos da Noite” em 2D seria mais agradável, sem perda de imersão naquele mundo mágico e extremamente agradável.

“Usar o 3D foi uma maneira de testar um novo brinquedo. Paradoxalmente, a tecnologia tão nova me levou de volta ao tipo de imagens que eu criava quando não tinha dinheiro. Sempre fiz pequenas coisas em relevo, recortes e colagens. Este avanço tecnológico me permitiu retornar a um certo encantamento, que eu tinha com os meus primeiros trabalhos. Este encantamento vinha dos recortes de papel. Quando eu os filmava, era como se fosse transportado para um conto de fadas”, conta o diretor, sobre sua experiência.

A ousadia foi muito válida e o Festival de Berlim pode ser pioneiro, caso resolva agraciá-lo com o Urso de Ouro, reconhecendo o 3D definitivamente como mais uma das possibilidades de se fazer arte. Mas, se o fizer, o mérito maior deverá ser da encantadora película criada por Ocelot, pois efeitos por efeitos, outros longas já foram capazes de mais.