Longa estadunidense abre a competição no Festival de Berlim

Na foto (esq. p/ dir.): J.C. Chandor, Zachary Quinto, Kevin Spacey, Jeremy Irons e Paul Bettany | Crédito: Pascal Le Segretain

Primeiro filme em competição exibido no Festival de Berlim, o longa estadunidense “Margin Call” abriu os trabalhos do para o júri e o público fazerem suas análises. Pelo tapete vermelho e acenando para os alvoroçados fãs que se espremiam junto acerca de proteção à espera de conseguir um autógrafo ou uma foto, passaram o diretor J C Chandor, os atores Kevin Spacey, Jeremy Irons, Paul Bettany e Zachary Quinto, além da equipe de produtores do filme, acompanhados pelo sempre sorridente e fanfarrão diretor do festival, Dieter Kosslick.

“Eu acho que um monte de gente gostaria de saber onde poderia encontrar uma compreensão sobre desta indústria (financeira), sem ter que trabalhar nela”, diz o estreante diretor, que também conta que pode falar do assunto com conhecimento de causa, já que seu pai trabalhou por 40 anos para a Merrill Lynch, seção de administração do patrimônio do Bank of America. Seu pai, aliás, serviu de consultor durante todo o processo da produção.

Foi com este respaldo que o diretor e roteirista levou para a tela grande uma trama intrincada, sobre os dias que antecederam a crise financeira mundial de 2008. Ao descobrir, repentinamente, através do estudos dos gráficos de desenvolvimento da empresa, um banco de investimentos, que em cerca de um mês a crise eclodirá, os cabeças de lá se reúnem imediatamente e viram a noite tentando achar uma solução para o que de pior está por vir.

É num período de 24 horas que a história se desenrola e por mais complicado que o tema possa ser, o enquadramento dos personagens nos moldes tradicionais de Hollywood – o funcionário emergente e talentoso, o novato ignorante e engraçadinho, o chefe sem escrúpulos, o demitido cheio de segredos – é pertinente e ajuda a explicar a situação de maneira didática, mas nem por isso desinteressante.

“É maravilhoso ver a extensão criativa da experiência de alguém tão bem amarrada pela escrita e tão interpretável para um ator, que é realmente único”, diz Zachary Quinto, um dos atores principais e também produtor do filme. “Estes personagens possuem características muito reais e possuem muito de nós em si. Foi uma economia de tempo trabalhar com J C, já que este é o mundo do qual ele vem e ele sabia exatamente comunicar ao elenco onde os personagens se encontravam no processo e qual a relação deles com o material, os números, o dinheiro... foi realmente inspirador”.

Enxuto, o filme concentra quase todas as cenas no prédio do banco e sai de lá somente quando é estritamente necessário. O elenco afinado se responsabiliza por prender a atenção do público. Os veteranos Kevin Spacey (Beleza Americana) e Jeremy Irons (Eragon) tomam conta do pedaço, mas causa a maior empatia é Penn Badgley (do seriado Gossip Girl), de humor leve, na pele de Seth, o funcionário inexperiente que participa da confusão por um mero acaso. É ele quem representa a grande maioria da população que é consciente da existência de uma crise como foi aquela de 2008, mas fica perdido em meio a tecnicismos, sem saber de onde ela (a crise) veio ou para onde ela vai.

Cheios de sorrisos, a equipe compareceu à sessão de gala do filme no Berlinale Palast e só decepcionou aqueles que esperavam que eles fizessem mais do que apenas uma apresentação da equipe pelo diretor e umas poucas palavras proferidas por Kevin Spacey, exaltando o filme e agradecendo por estar em Berlim. Um pacote básico para um filme básico.