Linkbão Oi Torpedo Click Jogos Online Rastreamento Correios Mundo Oi oitorpedo.com.br mundo oi torpedos mundo oi.com.br oi.com.br torpedo-online Tv Online torrent Resultado Dupla Sena Resultado Loteria Federal Resultado Loteca Resultado Lotofacil Resultado Lotogol Resultado Lotomania Resultado Mega-sena Resultado Quina Resultado Timemania baixa-facil Link-facil Resultado Loterias

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Entrevista exclusiva com o cineasta Sérgio Rezende

Terça-feira, quatro horas da tarde. Lá vou eu, debaixo de um sol castigante para a minha primeira entrevista profissional. Estreia em grande estilo, pois o entrevistado era ninguém menos que Sérgio Rezende, diretor de grandes sucessos nacionais, como O Homem da Capa Preta, Guerra de Canudos e Zuzu Angel e cujo novo filme, Salve Geral, foi o escolhido desse ano para representar o Brasil no Oscar 2010.

Obviamente estava nervoso, mas bastou começar a conversar que tudo fluiu e o que era para ser uma entrevista de 15 minutos virou um bate-papo super agradável de 40 minutos, permeado de “causos” impagáveis (mas infelizmente impublicáveis) e interrompidos aqui e acolá por algum veículo de comunicação querendo falar com o Sérgio, afinal, Salve Geral estreará nesta sexta-feira em todo o país e todos querem falar com ele.

O diretor demonstrou estar muito ansioso para saber como será recebido seu filme pelo público, mas bem otimista e sempre simpático com os jornalistas, independente de quais veículos cada um representava, o que surpreendeu-me positivamente.


O resultado da entrevista vocês conferem adiante:


Fred BurleSérgio, será que finalmente veremos um drama nacional fazer boa bilheteria neste ano?

Sérgio Rezende – Rapaz, este negócio é igual eleição. Só depois da apuração... não dá para cantar vitória antes da hora. Eu estou com uma expectativa boa, acho que esse filme tem um punch maior que Zuzu Angel, que já teve uma bilheteria excelente, perdendo naquele ano somente para Se Eu Fosse Você, coincidentemente a maior bilheteria desse ano, com sua continuação. Salve trata de um assunto mais contemporâneo, de São Paulo, que é o maior mercado de cinema do Brasil... Mas temos que ver. Cinema é imprevisível.



FBSeus filmes quase sempre contam um pedaço da história do Brasil, mas em Zuzu Angel e Salve Geral o enfoque é numa mãe em busca da salvação da filho, ficando o aspecto histórico como pano de fundo. O que te atrai nas histórias dessas mulheres, quer sejam reais, quer sejam fictícias?

SR – É evidente que essas histórias me atraem, mas na verdade é o público que gosta mais disso do que eu, porque já fiz doze filmes, mas os filmes que o público mais viu foram aqueles baseados em histórias verídicas. Até mesmo em Guerra de Canudos o cerne do filme era uma família e que também tinha uma mulher como protagonista. Eu acho que tem umas questões na dramaturgia, que quanto mais quente a relação entre os personagens, mais dramático aquilo se dá. Se você faz um filme sobre dois desconhecidos que se encontram num trem, ok, aquilo pode esquentar. Se forem dois amigos que se encontram no trem, já esquentou. Se forem dois irmãos, pô, já esquentou mais ainda. Se eles dois se comerem, aí a temperatura... (risos) Quanto mais próximos os personagens forem, mais facilmente o público se identificará com aquilo. Em Zuzu, a personagem era ela porque o filme obviamente era sobre ela, mas em Salve não. A Lúcia foi inventada, mas eu achei que aquilo esquentava, porque é uma mulher de classe média que vai descobrir um mundo jamais imaginado. Ela está lá, tocando piano, no seu mundinho, quando de repente uma bomba cai no seu colo e ela percebe como as coisas realmente são lá fora.



FBQue foi o que aconteceu com a população de São Paulo no dia daqueles ataques, ou seja, a realidade invadiu a vida das pessoas e aquilo foi como uma bomba pra todo mundo...

SR – Exatamente, esse submundo irrompeu como se fosse um bueiro e começaram a sair larvas dali de dentro e as pessoas, sem saber, estavam sentadas em cima de um vulcão.



FBPosso interpretar então, que você, quando escolhe um argumento para desenvolver, você leva sempre em consideração a identificação com o público...

SR – Com certeza. Eu não faço filme para mim. Não tenho essa arrogância de não querer falar com os outros. Estou num jogo e convido o público para jogar esse jogo. Pode ser que o público aceite e goste, pode ser que não goste. É um jogo. O público não é formado de bossais ou “Zé Manés”. Não dá para desconsiderá-los e eu não desconsidero mesmo.



FBDe onde você tirou todas aquelas informações de bastidores do PCC?

SR – Foi a coisa mais fácil do mundo. Informação, no mundo de hoje, é mato. Na época do acontecido, a tevê dedicou horas de cobertura, os jornais publicaram páginas e mais páginas, na internet você clica e encontra um monte de informação, então esse negócio de pesquisa foi muito fácil.



FBMas você conversou com policiais, presidiários...

SR – Com policiais sim, com presidiários, não. Conversei com promotor de justiça, com procuradores, com jornalistas, com o delegado Rui Fontes, que foi o cara responsável por prender a maior parte daqueles líderes. Até acho que o filme não trata dos bons policiais, mas eles existem. Tanto que aqueles caras estão presos. Se fosse tudo porcaria, a prisão estaria vazia. Mas nesse caso específico, a polícia formou um outro lado, a banda podre, que fez coisas escabrosas. Com os presidiários não conversei, porque os líderes estavam presos em regime diferenciado e não dava pra eu chegar lá e dizer “olha, estou fazendo um filme e quero falar com vocês”...



FBPor que a fixação em ter a Andréa Beltrão no papel principal, em meio a tantos rostos desconhecidos?

SR – A Andréa tem uma carreira no teatro, que eu acompanho faz muito tempo e sempre tive loucura em trabalhar com ela. Escrevi pensando nela e ainda bem que deu certo. Não tenho nada contra as grandes estrelas, já fiz muito filme com elas e quero voltar a fazer um dia, mas nesse filme eu queria um figura pública um pouco mais discreta e a Andréa é assim. Eu precisava de um elenco desconhecido, para dar um certo mistério sobre quem era o mocinho ou o bandido, mas evidentemente nenhuma distribuidora me daria recursos pra fazer um filme, se eu não tivesse pelo menos um nome. Apesar de a Andréa ser superconhecida do público e reconhecida como uma grande atriz, ela não tem a superexposição que uma atriz de novelas tem. E por ser de teatro, sabia que ela estaria à vontade com o restante do elenco.



FBAlém da Andréa, a Denise Weinberg também está muito bem no filme, como todo o elenco. Como foi a preparação do elenco? Seí que você fez questão de prepará-los, sem que fosse preciso ter um preparador de elenco na equipe...

SR – Aí entra a questão pornográfica da história, porque “pô”, você casa, mas ao invés de ir pra lua-de-mel, você chama um preparador de sexo pra ir no seu lugar? Como é que eu vou abrir mão do maior prazer, o orgasmo do cinema, que é preparar os atores? Não que não dê certo ter um profissional assim. Até dá certo, o cara “pode ser bom de cama”, mas “pô”, dá licença que essa noite é minha! (risos)



FBVocê já declarou não ser muito a favor da câmera na mão, mas nesse filme você cedeu e resolveu usá-la em favor da narrativa e da própria dinâmica do filme. Depois disso, você mudou sua opinião com relação aos “tremidos” na fotografia?

SR – Mudei! Mas é que quando você faz um filme histórico, o seu espaço cenográfico é limitado. O cenógrafo construi ali uma parede e você não pode mexer a câmera fora dali, senão aparece um carro 0Km num filme de época e isso não dá. Isso engessa um pouco a câmera. Mas nesse filme, que é um filme contemporâneo, eu resolvi soltar a câmera, porque isso dá aos atores uma liberdade total de movimentação, porque a câmera pode seguí-los à vontade. Até comecei filmando com steadycam, mas lá pelas tantas vi que o Fábio Burti (operador de câmera) era tão bom que resolvi deixá-lo fazer a câmera na mão, porque aí os atores criavam a mise-en-scène e o câmera os seguia jornalisticamente. Não acho que tenha ficado treme-treme, mas que dessa liberdade da câmera eu gostei pra cacete, isso eu gostei!



FBTive uma curiosidade com relação à trilha sonora, que rege momentos incríveis no filme, especialmente na sequência dos ataques. Uma vez o Ronaldo Duque (diretor de Araguaya) me disse que não dava para contratar uma orquestra inteira para compor um trilha (por questões financeiras), então era comum usar elementos falseadores para criar uma música orquestrada, mas que na verdade era feita por apenas umas três pessoas! Você teve que usar desses recursos ou o orçamento do filme deu pra pagar uma orquestra inteira?

SR – Deu pra fazer orquestrada! Mas o Miguel Briamonte (que assina a trilha do filme), que é um grande diretor de musicais para teatro, conhece muitos músicos e não sei que mágica que ele fez com os caras, mas ele reuniu a maior orquestra que eu já tive num filme. Eram 21 violinos, não sei quantas violas e violoncelos, era uma maçaroca sonora brutal e por um preço, cara... barato pra caramba!



FBSérgio, você consegue vislumbrar um cenário cinematográfico nacional mais industrial e menos estatal? Pra você, qual dos dois sistemas é melhor?

SR – O melhor sistema é o empresarial. Eu acho uma coisa constrangedora que eu, aos 58 anos, tenha que de dois em dois anos prestar vestibular de novo. Nenhum médico faz vestibular outra vez, nenhum engenheiro faz vestibular duas vezes. O cineasta faz. Ele vai ao BNDES, se inscreve, faz até prova oral pra defender o projeto, pra ver se continua trabalhando ou não. Nas outras profissões, se o cara demonstrar capacidade, continuará trabalhando, mas no cinema você tem que demonstrar sempre que você é capaz de fazer os filmes. Isso acontece porque o mercado de cinema brasileiro é ridículo. O Brasil tem 180 milhões de habitantes, mas vende 90 milhões de ingressos ao ano, ou seja, cada um vai meia vez por ano ao cinema. Isso compõe um mercado deste tamaninho e que não é rentável. Isso é um problema do Brasil, porque quando houver renda suficiente pra população ir ao cinema duas vezes ao ano, aí vai dar pra ir ao banco, pegar o dinheiro, fazer seu filme e recolher o recurso no mercado, senão o Estado tem que continuar apoiando, o que é maravilhoso, porque só assim fazemos nossos filmes, mas tem todas essas aporrinhações.



FBComo você recebeu a notícia da seleção do Salve Geral para representar o Brasil no Oscar? Você pretende divulgá-lo no circuito de festivais que antecedem o Oscar?

SR – Não, eu estou jogando no campeonato nacional. Se eu chegar entre os quatro, aí eu vou disputar a Libertadores. Se eu ganhar a Libertadores, eu vou pra Tóquio. Eu acho que o meu objetivo é conquistar o mercado brasileiro. Sexta-feira o filme vai entrar em cartaz e é isso que me deixa doente, ansioso, porque é o Brasil, é pra cá que eu fiz o filme, pro público daqui. Então esse é o primeiro desafio. Se a gente conseguir atrair o espectador brasileiro e ele gostar, eu acho que o espectador é igual no mundo todo. Quando a luz apaga, somos todos iguais. Se conquistarmos o público brasileiro, isso me dará mais confiança de que podemos conquistar o público externo. Achei uma maravilha ter sido indicado, mas também já estou numa idade que não tenho mais deslumbramento com as coisas, porque sei que tudo é possível, mas tudo é difícil. Mas vou jogar o jogo, porque acho ridículo o cara entrar em campo dizendo que treinou a semana inteira, mas está preparado pra perder. Tem que ter coragem pra ganhar e tem que ter coragem pra perder.


Agradecimentos: Luciana Seabra.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Crítica: Salve Geral

Escolhido para representar o Brasil no Oscar, Salve Geral estreia com a aura de bom filme (afinal, venceu a disputa com ótimos filmes, como O Contador de Histórias, Feliz Natal e A Festa da Menina Morta) e cercado de expectativa de boa bilheteria, algo que ainda não aconteceu este ano com um drama nacional, mas que o diretor Sérgio Rezende tem experiência em fazer.

O filme conta a história de Lúcia, professora de piano, uma mãe desesperada para tirar o filho da cadeia. Sem dinheiro para pagar o advogado, acaba envolvendo-se com a facção criminosa paulistana denominada Comando (ou PCC), responsável pela onda de terror que invadiu São Paulo no fatídico Dia das Mães de 2006.

A história política é baseada em fatos reais (imagino que todos se lembrem), mas a história central é fictícia. Foi a maneira que Rezende encontrou de mostrar as mulheres por trás do Comando e os motivos que as levam a perder a integridade.

A personagem Lúcia é concebida como uma metáfora à sociedade, que acha fácil julgar as questões sociais, vive numa “redoma”, mas que ao ter uma proximidade grande com aquele mundo, passa a agir como o “sistema” deles impõe e além disso, entende as razões deles e põe em xeque tudo aquilo que a conduzia moralmente, ao ponto de envolver-se inclusive emocionalmente com um dos chefes da organização.
Numa cena crucial, ela conversa com a irmã sobre as barbáries que estão acontecendo na cidade e desabafa: “Só não quero ser juíza de nada.” Uma pena que tal cena tenha sido mal explorada, pois era o momento dos roteiristas/diretor elaborarem melhor a sua visão e principalmente, o momento para Andréa Beltrão arrebatar definitivamente o público com sua interpretação – sensacional, é bom que se diga – mas que não tem uma cena em que realmente emocione, sendo sempre muito dura e amargurada.

O elenco todo está muito bem (composto em sua maioria por atores de teatro), com destaque para Denise Weinberg, no papel de Ruiva, a sujeita que mantém a “fachada” para o Comando e que aproxima Lúcia à organização. Que medo dela!

Outro destaque fica a cargo da trilha sonora, assinada pelo estreante em cinema Miguel Briamonte. A música que permeia toda a ação é bem forte, com ritmo insandecido, com toda a tensão e pulsação que a situação pedia.

Salve Geral é uma megaprodução, bem executada, mas que não passa disso. Falta algo e eu julgo que seja um pouco mais de intensidade, há muita economia. Usa poucas imagens de arquivo, economiza na emoção dos personagens e nas cenas de ação do filme. Ainda que soasse “atração” para o grande público, mais cenas de perseguição, tiroteiro, assaltos e afins não faria mal ao filme. Poderia ser mais “soco no estômago” e menos “água-com-açúcar”.

Certa hora, um dos presidiários diz um dos lemas do Comando: “Nosso grito se espalhará pelo país. Se for para amar, amaremos. Se for para matar, mataremos.” O grito deles espalhou-se por São Paulo e pelo país, mas a julgar pelo que vi, o grito de Salve Geral (o filme) dificilmente ecoará mundo afora, quiçá no Oscar.

Ainda assim, Salve Geral é um bom filme e merecerá se for prestigiado pelo público brasileiro.
Trailer:


Salve Geral
(Brasil, 119 minutos, 2009)
Dir.: Sérgio Rezende
Com Andréa Beltrão, Denise Weinberg
Nota 7,0
* a partir de sexta-feira, 02/10.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Goodbye... Solo

Dizem que as histórias estão no ar. Às vezes chego a acreditar nessa máxima, mas o que penso é que, na verdade, as ideias surgem de uma necessidade quase sempre coletiva de tratar de determinados assuntos e/ou pensamentos.

Vencedor do prêmio da crítica no Festival de Veneza, Goodbye... Solo estreia no Brasil pouco tempo depois de termos visto um drama muito parecido, O Visitante. Ambos os filmes retratam o relacionamento de um estrangeiro e um nativo, nos EUA, cuja convivência há de ensinar muito a ambos. Os estrangeiro, nos dois filmes, é um africano que sonha estabelecer “vida nova” na América. O nativo, nos dois filmes, é um idoso em crise existencial. O que move cada um, ou seja, a desculpa para existir, muda de um filme para o outro, mas o que percebo é a necessidade quase que urgente de afirmar o sentimento que se criou com relação aos EUA, particularmente. O que aquele país significa? Para a maioria dos estrangeiros, uma esperança de vida melhor. Para os que cresceram e viram a história ser construída cheia de conflitos (por isso a escolha de um idoso nativo como personagem), uma decepção e mais do que isso, uma descrença de que algo pode melhorar.

Mas atenhamo-nos a Goodbye... Solo. O filme começa de forma bem direta: um senhor pega um táxi e propõe ao motorista que lhe leve, dentro de alguns dias, ao topo de uma montanha da região, denominado “Blowing Rocks”, para que possa suicidar-se. Depois de relutar, o taxista aceita a proposta e vai além. Por estar em crise com a esposa grávida do primeiro filho, vai “morar” no quartinho de motel que o senhor alugara para passar os últimos dias. O relacionamento dos dois é construído aos trancos e barrancos, já que o senhor é discreto e não aceita intromissões do senegalês, que tenta descobrir os motivos que levaram aquele carrancudo senhor a querer se matar.

O roteiro pouco enfoca nas "molas propulsoras", interessando apenas as escolhas cruas dos personagens e isso é de se entender, já que os motivos, se explorados, poderiam levar o filme para um indesejado caminho melodramático e tanto roteirista quanto diretor não demonstram o menor talento para o drama carregado, já que a cena mais folhetinesca do filme (a cena do berçário, na qual o senegalês conversa com a esposa) é a cena mais inverossímil do filme, desde a escolha do bebê até a relação do casal e os diálogos não-críveis.

De resto, as escolhas são acertadas, o ator Souleymane Sy Savane sai-se muito bem na pele do senegalês taxista e a fotografia, particularmente nas cenas de montanhas, parece pintada, de tanta beleza que consegue extrair da paisagem.

Voltando à comparação, se tivesse que escolher, eu ficaria com O Visitante (muito mais simpático e emocionante), apesar de Goodbye... Solo não ser nem um pouco de se jogar fora.

Se o tema abstrato tratado nesses filmes continuar sendo convertido em boas histórias, serão sempre bem vindos, agora, se a repetição continuar e as ideias continuarem sendo captadas nos mesmos ares, aí a diversão vai ficar chata logo, logo.



Trailer:




Goodbye... Solo
(idem, EUA, 90 minutos, 2008)
Dir.: Ramin Bahrani
Com Souleymane Sy Savane, Red West
Nota 7,0



Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!

domingo, 27 de setembro de 2009

Fred Burle agora também no Idearium!


Pois é, pessoal.

Há um tempo recebi o convite do Felipe Tavares, para integrar o time de postantes do Idearium, blog que começou em Uberlândia/MG e hoje conta com 19 postantes de diversos lugares do país, cada qual com uma especialidade, o que torna aquele blog bem variado e interessante.

Com o maior prazer, aceitei o convite e agora sou o 20º integrante Idearium.

Fica a dica do blog, para os que não conhecem. Muito legal!

E aguardem que vem mais novidade por aí!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Revendo: O Cheiro do Ralo

A paixão de um homem por uma bunda. Esse é o tema central do segundo filme de Heitor Dhalia, pernambucano que dirigiu anteriormente o filme Nina (narrativamente e visualmente inovador no cinema brasileiro) e posteriormente o excelente filme À Deriva, ainda em cartaz pelo Brasil.

A trama da paixão pela bunda esconde o sentimento de autodeterioração do ser humano, que acontece o tempo todo, às vezes até mesmo conosco, mas não percebemos quando isso toma conta de nossas atitudes.

Lourenço é dono de uma loja que compra objetos usados, frequentada por pessoas com os mais diversos objetos à venda, cada qual com seu desespero, a fim de alimentar vícios ou simplesmente de se desfazer de bugigangas. Ali, Lourenço alimenta uma certa perversidade ao ter em suas mãos o poder de possibilitar ou não a chance de pessoas ganharem um dinheirinho. Ele encara isso como se fosse um deus e oferece pelos objetos o valor que lhe convém, com critérios que vão da afinidade dele pelo objeto oferecido até a afinidade pela pessoa que vende o objeto, tudo no maior sarcasmo e desprezo por cada ser humano que entra em sua “sala de análise”.

Tomado por esse exercício de oferta-e-compra, ele vislumbra um mundo em que pode comprar o que quiser, “coisificando” tudo, inclusive a bunda pela qual ele se apaixona, cuja dona é uma garçonete na lanchonete onde ele faz seus lanches diariamente e que estaria disposta a “dar-lhe a bunda” – horrível isso! -, mas que passa a recusá-lo quando ele faz oferta de compra do objeto desejado.

Seu mundo vai abaixo quando essa paixão se torna obsessiva e ele é obrigado a rever seus conceitos, levando-o a um mergulho profundo em sua essência, que pode ser nada agradável, como o cheiro horrível proveniente do ralo de seu escritório.

O filme foi produzido no chamado “esquema de guerrilha”, pois a grana disponível obrigou a produção a tomar coisas emprestadas, pedir favor aqui e ali para tornar viável sua produção com apenas 330 mil reais (uma pechincha para os padrões brasileiros), com elenco e produção trabalhando praticamente de graça, movidos pela vontade de tornar o projeto realidade.



Felizmente o público deu o retorno e o filme arrecadou mais que quatro vezes o seu valor. O próprio Selton Mello declarou que a realização só se tornou possível pelo “tesão” que todos os envolvidos tinham em fazer algo bom e inovador, com uma linguagem peculiar, sem empréstimos de influência televisiva ou teatral. Projeto nacional com linguagem totalmente cinematográfica.

Todo esse clima de “paixão” é percebido em cada momento do filme. O cuidado com figurino, cenários, caracterização dos personagens, os diálogos bem trabalhados, tudo faz com que O Cheiro pareça ter sido produzido com muito mais grana do que o foi.

O filme tem seus podres, torna-se algumas vezes enfadonho, com chances de ser engraçado desperdiçadas, mas nada que abafe seus méritos. Selton Mello entrega sua melhor e mais sutil atuação no cinema, provando que pode sair do estereótipo que vive fazendo, em busca de bilheteria.

Vitória para o cinema nacional, para o diretor (que amargou um fracasso injusto pelo seus outros longas), para Selton Mello e vitória para Lourenço Mutarelli, um sujeito excêntrico, que sofre constantemente com TOC (transtorno obsessivo compulsivo), mas que teve a confiança de Heitor Dhalia depositada nele para escrever esse roteiro que poderia ser denominado como “agulha no palheiro” e ainda ganhou um personagem no filme, o segurança do... Lourenço!



Trailer:



O Cheiro do Ralo
(Brasil, 112 minutos, 2006)
Dir.: Heitor Dhalia
Com: Selton Mello, Paula Braun, Silvia Lourenço, Lourenço Mutarelli, Alice Braga...
Nota 8,0

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Santiago: O documentário

Poucas vezes um filme impactou-me tanto quanto este documentário nacional, dirigido pelo competente João Moreira Salles. Assisti por acaso, na última sessão do último dia do filme em cartaz aqui em Brasília, em 2007. Lembro até do horário da sessão: 16:40.

Depois daquele dia, foram dois longos anos torcendo para que o diretor liberasse a venda do filme em dvd, já que ele não tinha esta intenção, por achar que o filme expunha demais a sua intimidade, bem com as suas fraquezas. Eis que em fevereiro deste ano a distribuidora VideoFilmes resolveu lançar uma edição limitada do dvd. Eu, obviamente, corri e comprei o meu, antes que acabasse (e, de fato, acabou, uma semana depois).

Santiago é um filme cheio de camadas. Cada um que o assiste tira dali um tema diferente a ser discutido. A primeira camada é a que acompanha o mordomo (que dá nome ao filme) da família Moreira Salles, durante cinco dias. Uma figura incrível, excêntrica, culta e que construiu um mundo paralelo, no qual viveu até o fim dos seus dias, por não se encaixar no mundo real. Vestia-se com um fraque para tocar Beethoven ao piano, mesmo sem público, por achar que devia tamanho respeito ao compositor. Escreveu, em mais de 30 mil folhas e durante 30 anos, a história da aristocracia mundial. Cria ser um aristocrata e lhe gostava pensar que o casarão no qual trabalhava era o Palácio Pitti.

Foi crescendo e observando o mordomo que João Moreira Salles teve a ideia de fazer um documentário sobre aquela encantadora figura. Filmou tudo em 1992, mas somente em 2005 retomou o material para, finalmente, concluir sua edição e percebeu, então, que aquilo que havia filmado não era exatamente o filme que tinha em mãos. Mudou o foco, despiu-se de qualquer vaidade e resolveu relatar sobre a ética que o regia (ou não) para construir o documentário como bem entendesse.

Foi aí que o filme me ganhou. Sempre estudei que, para analisar um documentário como fonte de pesquisa, é preciso ter desconfiança, pois as situações filmadas nem sempre correspondem ao real, pois poderiam ter sido ensaiadas ou falseadas. A simples presença da câmera já faz com que o depoente aja de maneira diferente do que agiria em uma situação corriqueira. Mas nunca um diretor teve a coragem de se expor e dizer “eu erro”, “eu falseio”, “eu invento”, “eu manipulo situações e cenários” e por aí vai.

Além disso, João Moreira recheia o filme com referências (Fred Astaire, Werner Herzog, Ozu, etc).

Santiago é um documentário metalinguístico, que discute as questões intrínsecas ao gênero e reconstrói e discute o tema “memória” (através das memórias de Santiago e a da família Moreira Salles) com brilhantismo, muita beleza e muita poesia em suas cenas e falas, apesar dos planos sempre muito duros e da quase ausência de planos próximos. Tal resultado só pôde ser alcançado por causa da maturidade do diretor ao longo dos treze anos (que fizeram o hiato entre as filmagens e a conclusão do filme) e da excelente montagem de Lívia Serpa.

Uma aula de documentário, a ser imensamente estudada e cultuada ainda.

Ganhou prêmios e mais prêmios pelo mundo, mas foi pouco divulgado no Brasil. E infelizmente, não foi sequer vendido para as locadoras.

Os poucos privilegiados que ainda encontrarem o dvd para comprar, poderão ainda conferir uma faixa comentada pelo diretor, dois curtas metragens e mais alguns outros bons extras.

Boa sorte na procura pelo filme, mas uma coisa eu garanto: valerá muito a pena!

Esse filme pode mudar sua maneira de assistir documentários, para sempre.



Trailer:


Santiago
(Brasil, 80 minutos, 2007)
Dir.: João Moreira Salles

Nota 9,6
P.S.: descobri que, no site da VideoFilmes, ainda há exemplares do filme à venda. Para quem se interessar, eis o link.

sábado, 19 de setembro de 2009

Caro Sr. Horten

O velho Odd Horten sempre foi um sujeito caladão, homem de poucos amigos. Dedicou a vida à profissão (ele é maquinista), recebendo até uma homenagem muito peculiar dos colegas de trabalho, pelos 40 anos de serviços prestados. Em seu último de trabalho, pela primeira vez, ele perde o trem e passa a perambular pelo interior da Noruega, ainda sem chão, por não saber o que fazer com a novidade da aposentadoria.

O diretor e roteirista Bent Hamer (do chatíssimo Factotum) dessa vez acerta um pouco mais ao tratar, de maneira incisiva, dos efeitos que uma aposentadoria pode ter na vida de um workaholic, como o inicial desnorteamento por não ter atividades que substituam o trabalho e o consequente aceleramento da senilidade.


O curioso cartaz denuncia o espírito do filme, ou seja, muitas situações bizarras estão por acontecer. Horten conhecerá várias pessoas, tão excêntricas quanto ele, enquanto repensará sua vida.


Mas não esperem uma comédia rasgada. As bizarrices são plausíveis e as piadas virão em poucos momentos, lentamente soltas, como lento é o ritmo do filme. Talvez seja esse o grande inimigo do filme: o ritmo.


Em contraponto, somos agraciados com uma bela fotografia, com enquadramentos muitíssimo parecidos com os de Wes Anderson (Os Excêntricos Tenenbaums, A Vida Marinha com Steve Zissou), quase sempre estáticos e abertos – valorizando a simetria e a profundidade dos ótimos cenários –, à exceção das panorâmicas do trem (igualmente bonitas), que atravessa todo o interior do gélido país.


Outro acerto do filme é a trilha sonora, cheia de barulhinhos e instrumentos diferentes, mas muito agradável, num ritmo tranquilo e sem colaborar para o sono que algumas cenas causam.


Interessante como cada profissão tem as suas brincadeiras internas. Neste caso, os maquinistas reúnem-se para adivinhar a qual modelo de trem pertence determinado som de apito ou quantas pontes existem entre uma linha e outra.


Pronto. Não há muito mais o que se discutir sobre o filme. É simples, lento, com bonitas imagens e por vezes, divertido.


Gosta desse tipo de filme? Está sem sono? Caro Sr Horten é uma boa pedida para quem quer passar o tempo com algo diferente... e nada mais.


Trailer:



Caro Sr Horten
(O' Horten, Noruega/Alemanha/França, 85 minutos, 2007)
Dir.: Bent Hamer
Com Baard Owe, Espen Skjønberg, Ghita Nørby
Nota 6,8



Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!


-------------o----------------o---------------o---------------o---------------


Comentário pós-post: esta semana recebi mais um selo, o "Este Blog Acerta em Cheio", dessa vez conferido pela Amanda Aouad, do ótimo CinePipocaCult, um dos blogs que mais gosto e acompanho desde que comecei a postar. Muito obrigado pelo carinho, Amanda!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Verdade Nua e Crua

Impossível não comparar A Verdade Nua e Crua com A Proposta, principalmente pela proximidade dos dois lançamentos. Pareceu-me que eu estava assistindo ao mesmo filme, só que agora nada delicado e com doses cavalares de grosseria.

Mas a fórmula de ambos é idêntica. Tão idêntica que vou usar o mesmo parágrafo contido na crítica que fiz sobre o recente filme com Sandra Bullock. Eis:

“A história? A mesma de sempre. Duas pessoas que se odeiam têm, por um motivo qualquer, que conviver mais intimamente. Daí o ódio aos poucos vira amor, vem um obstáculo e separa os dois, que agora farão de tudo para ficar juntos e as situações absurdas para que isso aconteça rolarão soltas."
Novamente e só para situar: ela (Katherine Heigl) é a produtora de um programa de tv matutino à beira da extinção. Ele (Gerard Butler) é um apresentador desbocado (odiado por ela) que acaba sendo contratado para elevar a audiência do programa dela. Como a moça é a encruada e o cara é o descolado que sabe tudo sobre conquista, eles fazem um trato pessoal: caso ele consiga arrumar para ela um namorado, ela admite então sua competência. Caso contrário, ele pede demissão. Mas é óbvio que os papéis serão invertidos, pois romances folhetinescos pedem isso. Pronto! Dou um doce (mentira) para quem adivinhar o final do filme.

A abertura com bonequinhos de porta de banheiro já denuncia os estereótipos machistas e reducionistas que estão por vir: mulheres têm o coração na cabeça (são românticas) e homens têm o coração lá-onde-vocês-estão-pensando (querem sexo). É a tal “verdade feia” (tradução literal do título original) que o filme se propôe a mostrar.

O ritmo inicial é acelerado e os diálogos bem diretos, economizando (em termos) o tempo de quem já sabe o que há por vir. Mas as piadas são extremamente grotescas, ultrapassando os limites do mal gosto em vários momentos.

Outro detalhe que não posso deixar de comentar: por que diabos uma produção orçada em U$ 38 milhões economiza com efeitos toscos de cromaqui, como nas cenas no interior do carro e na cena final, uma panorâmica, num festival de balões, com o casal a bordo de um deles? Fora os cenários, cujas árvores são esculpidas em marfim claro (sério!) e parece que a qualquer momento veremos os refletores do estúdio, como nos filmes hollywoodianos da época dos musicais artificiais (não que eu tenha algo contra eles, pelo contrário). É de uma tosquice desnecessária, já que a grana disponível lhes permitia filmar sem elementos falseadores.

Apesar disso e por mais que não queira, preciso admitir que o filme tem seus (poucos) momentos engraçados, mas não passa disso.

Toda a fórmula para agradar ao público feminino está lá. Tanto que há “o cara sarado sem camisa”, os momentos “tchuqui-tchuqui”, a sempre esperada declaração de amor em público e o gran finale (!) em que o casal se beija e vivem felizes para sempre.

A verdade nua e crua que consegui extrair da história é que a tevê está uma decadência só e que Hollywood não perde a oportunidade de arrecadar umas verdinhas.

Se estiverem afim de passar tempo com filmes bobos, pelo menos escolham outro filme. Este aqui está mais para perda de tempo do que para passatempo.




Trailer




A Verdade Nua e Crua
(The Ugly Truth, EUA, 96 minutos, 2009)
Dir.: Robert Luketic
Com: Katherine Heigl, Gerard Butler, Eric Winter
Nota 4,0




Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!*

(o filme estreia nesta sexta-feira, 18-09)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Os Quatro Vértices de Um Triângulo Obtuso

Surpresinha! Quero muito saber o que vocês acharam deste curta.

Foi o início de tudo, em 2007. Apesar de tosco na técnica, orgulho-me de ter começado com a carreira com este curta.

Foi feito com alunos do então 1º semestre do curso de Audiovisual da UnB.

A direção e o roteiro são assinados por Pedro Oswald, a produção e a fotografia foram feitas por este que vos escreve (que na época ainda assinava como Frederico Burle) e a trilha original é de Antonio de Luna.

O curta passou no FIC Brasília 2007 e no Festival Brasileiro de Curtas, no Rio, em 2008, além de ter sido incorporado ao acervo da Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Nada mal para um produção de zero de orçamento.

Para quem quiser baixar, eis o torrent.

Divirtam-se!


domingo, 13 de setembro de 2009

Gigante

Estou (finalmente) pegando gosto por 2009. Os filmes mais interessantes têm vindo dos lugares mais improváveis e isso é ótimo. Dá um respiro extra ao cinema.


Desta vez, a surpresa vem do Uruguai.



Gigante conta a história de um vigia de supermercado, roqueiro, que apaixona-se por uma das faxineiras do local, mesmo nunca tendo interagido com ela. Constrói o amor platônico através das câmeras de onde faz a vigilância. Sua obsessão pela menina extrapola o ambiente de trabalho e ele começa a seguí-la por todos os lugares, mas sem a intenção psicótica que muitos possam pensar. Vira uma espécie de “anjo da guarda” dela.



Vencedor do Urso de Prata em Berlim (perdendo apenas para A Teta Assustada), além de outros prêmios por lá e mais 3 kikitos em Gramado (crítica, ator e roteiro), o filme não trás muita inovação, mas ganha o espectador na simplicidade do roteiro e na sua brilhante condução, ambas funções assinadas pelo argentino radicado no Uruguai, Adrián Biniez. O diretor declarou que o que mais lhe interessava era o voyeurismo em si e não a ética de tal prática; escolha acertada, pois o filme não foi feito para discutir questões sérias, apenas contar uma história divertida e muito cativante.



Outro forte alicerce do longa está na sensível interpretação de Horacio Camadule, um sujeito tímido no filme e na vida real, onde é ainda professor de escola primária e faz teatro underground. O grandalhão interpreta um cara super sério e até triste, mas o seu jeitão encanta e suas ações corriqueiras são muito engraçadas, responsáveis pela maioria das risadas do público.



A cena do cinema é ótima, composta apenas pela sonoplastia do filme em cartaz (uma ficção científica auditivamente tosca) e a câmera fixa no público, o tempo todo. Dá para reparar nos vários tipos de espectador e no próprio vigia, o tipo irritante de espectador.



Tudo é muito bem dosado, inclusive a duração do longa. Os 85 minutos passam voando e nem dá tempo de enjoar da história. O curioso é que os dois (vigia e faxineira) não se encontram durante todo o filme, mas temos a certeza de que ela é o amor da vida dele e torcemos para que dê certo. Eu torci para isso e torço para que o filme dê certo em sua bilheteria também. Se depender das caras felizes que vi ao sair do cinema, o boca-a-boca está garantido!

Trailer (sem legendas e enganativo):



Gigante

(idem, Uruguai/Argentina/Alemanha/Espanha, 85 minutos, 2009)

Dir.: Adrián Biniez

Com Horacio Camadule, Leonor Svarcas

Nota 7,8




Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!

sábado, 12 de setembro de 2009

Mostra de Cinema Argentino agita Brasília


Terça-feira, dia 08/09, começou a mostra "Do Novo ao Novo Cinema Argentino: Birra, Crise e Poesia" aqui no CCBB de Brasília. Dia 15/09 começará também a etapa do Rio de Janeiro da mesma mostra, a maior do cinema argentino já realizada no país e estará em cartaz até o dia 28 deste mês em Brasília e até o dia 04/10 no Rio.

Além da exibição dos filmes, haverá também a participação de alguns convidados especiais, que virão do Rio e da Argentina debater conosco temas relativos à mostra*:


- 16 de setembro - 20:15 h - Relações entre o Cinema Argentino e Brasileiro, com Hernani Heffner (Cinemateca do MAM-RJ) e Tunico Amancio (UFF); estive num debate, mês passado, com o Hernani e foi ótimo. Recomendo este.

- 23 de setembro - 20:15 h - O Cinema Argentino por ele mesmo, com Diego Lerman (Cineasta argentino) e Chino Fernández (Produtor argentino); Diego é diretor do filme Tan de Repente e Chino produziu Monobloc e La Caja Negra, todos filmes em cartaz na mostra. 


Quem quiser saber mais sobre os filmes, sinopses, debates e destaques, confiram o site da mostra: Birra, Crise e Poesia.

Boas escolhas!



*os dias  e horários dos debates referem-se somente à etapa de Brasília.

Uma Prova de Amor (My Sister's Keeper)

Gosta de filmes que te façam chorar? Pois então, prepare o(s) lenço(s). My Sister's Keeper (tenho vergonha do título traduzido) é o melodrama mais cativante deste ano.

Anna (Abigail Breslin), uma garota de 11 anos, foi calculadamente concebida para que sua irmã mais velha, Kate, tivesse uma doadora compatível, no tratamento contra a leucemia. Acontece que depois de anos sofrendo cirurgias, tomando remédios e levando alfinetadas em prol de Kate, Anna resolve entrar com um processo contra os próprios pais, exigindo a “emancipação do seu corpo”. A situação da família, que já está difícil (pois Kate está prestes a morrer, caso não faça um transplante de rim) fica ainda pior. Tudo desestabiliza-se e a última coisa que parece haver é a compreensão, por ambas as partes.

Cada personagem se autoapresenta no início do filme, passando todos a narrar a história, cada qual no seu momento e contando tudo sob seu ponto de vista. Esta escolha pela narração múltipla mostra-se muito eficiente num filme como esse, que trata de uma situação tão delicada, sem lados corretos, onde cada um tem e expõe seus sentimentos e razões pelas quais são movidos. Além disso, ajudam-nos a analisar a história com lucidez as cenas no tribunal e no escritório de conciliação da juíza (Joan Cusack).

Como devem agir os pais nesta situação? O que fazem os irmãos? Como se sente a irmã leucêmica?

Ainda bem que o filme não se prende no debate jurídico. Apenas o tem em poucos momentos, pois este faz parte do todo e as questões levantadas o diretor opta por não opinar, deixando para os espectadores uma penca de polêmicas a serem debatidas após a sessão.

O que é fato é que o câncer é uma desgraça na vida de qualquer família, destroça sem dó e não há uma cartilha para seguir ao lidar com a doença. Cada um convive com ela como pode.

O belo roteiro é baseado no romance de Jodi Picoult e a direção hipersensível fica a cargo de Nick Cassavetes, que já levou muita gente às lágrimas antes, com Diários de Uma Paixão (2004). Muita boa também é a montagem não-linear, cheia de sutis flashbacks, que ajudam a amarrar todas as pontas soltas, até que tudo se explica no embate visceral entre mãe e filha no tribunal.

Apenas uma coisa me incomodou: afinal, quem era a morena que estava sempre com a família? Nunca vi uma personagem ser tão mal desenvolvida. A criatura está sempre por perto, mas ninguém nunca se dá ao trabalho de apresentá-la. Só depois do filme, pesquisando, é que descobri que a fulana era a tia dos meninos, mas continuo sem saber se era irmã do pai ou da mãe. Mas não precisava nem existir, a inútil.

Cameron Diaz até que se esforça no papel da mãe, mas ainda está longe de oferecer uma grande atuação num filme dramático. O show mesmo fica por conta das irmãs adolescentes. Abigail Breslin (de Pequena Miss Sunshine) cresceu, mas continua sendo uma simpática garota-prodígio e Sophia Vassilieva é uma grata surpresa.
Para fechar o pacote, ainda tem a tradicional “trilha sonora emocionante”, a coisa mais clichê do filme, mas que tem músicas lindas.

Entrei para a sessão, com o meu habitual pacotão de pipocas, mas sequer consegui terminá-lo. Em poucos minutos de história contada, minha garganta já havia dado um nó e por ela não descia mais nada. A sessão parecia ser composta de pessoas gripadas: um funga-funga só.

Quanto mais bagagem de vida você tiver, mais identificar-se-á e fará um balanço da própria vida. Essa é a principal função do filme e ele a cumpre com louvor.

Assisti e saí do cinema uma pessoa melhor.

Trailer legendado:


Uma Prova de Amor
(My Sister's Keeper, EUA, 109 minutos, 2009)
Dir.: Nick Cassavetes
Com Abigail Breslin, Cameron Diaz, Sofia Vassilieva, Alec Baldwin, Joan Cusack
Nota 7,7


Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cartola - Música Para os Olhos

Tenho os dois pés atrás com a produtora Globo Filmes, mas vez por outra eles acertam, pelo menos na intenção. Com este filme já acertaram de cara, ao decidir fazer um documentário sobre o grande sambista da Mangueira, ao invés de filmar roteirinhos de toque de caixa para colocá-lo como herói fictício e vender ingresso fácil, como já fizeram com várias personalidades anteriormente.

Cartola se apoia em imagens de arquivo e depoimentos atuais para contar não somente a trajetória do sambista, como também do próprio samba, já que o cantor/compositor permeia toda essa história, compondo inclusive o que teoricamente seria o primeiro dos sambas.

O diretor Lírio Ferreira (do ótimo Árido Movie) teve um vasto material de arquivo e depoimentos em mãos, para compilá-los harmonicamente em cerca de 90 minutos de película.

Com os depoimentos atuais ele foi muito infeliz, pois estão ali falas de pessoas por vezes até importantes para a história do samba, mas que em nada acrescentam ao documentário, ocupando espaço de muita coisa que poderia fazer deste um filme ainda melhor. Por mim, nenhum deles seria colocado na edição final, ainda mais com medonhas legendas de apresentação das personalidades, que mais parecem emprestadas de algum quadro de “entretenimento para bobos” do Fantástico, subestimando a inteligência e o bom gosto do espectador.

Já o material de arquivo, esse sim eleva o nível do filme ao alto patamar do artista em questão.O trabalho dos profissionais de cinemateca para resgatar as imagens foi excepcional. O filme contém cenas preciosas de Cartola conversando e/ou cantando entre amigos, cenas raras de aparição dele na mídia e momentos mais familiares também.

O esquema utilizado é o mesmo de Vinicius, só que desta vez a mistura de cenas fictícias com depoimentos atuais e imagens de arquivo não foi tão harmônica e conveniente como no “docudrama” dirigido por Miguel Faria Jr.

Mas não interessa: qualquer defeito é perdoável diante da oportunidade que nos é proporcionada de conhecer melhor a história do samba e do (talvez) maior sambista de todos os tempos e ainda sermos brindados com o próprio, cantando suas músicas cheias de poesia e critério.

Uma ótima pedida para quem quer ver um filminho em casa.


Cartola – Música Para os Olhos

(Brasil, 90 minutos, 2006)

Dir.: Lírio Ferreira

Nota 7,5

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Up - Altas Aventuras

Estou bem decepcionado com o que acabo de ver no cinema. Não que a nova animação da Pixar seja ruim, longe disso. Mas é que criou-se um alvoroço em cima do filme e a expectativa estava nas alturas. Daí foi como se o balão tivesse murchado.

Primeiramente, deixo aqui o meu protesto. Os estúdios Disney/Pixar acostumaram-nos com seus curtas, mimos que sempre precederam suas produções e que dessa vez... ué, cadê? Tiraram o doce da criança. Paciência.

Começa então o filme. Somos apresentados a Carl Fredricksen, garoto bicho-grilo, todo desengonçado, que conhece Ellie, uma menina superativa e bem extrovertida. Eis que surge uma paixão de criança, que continua na adolescência e de repente, lá estão os dois casados. Em uma única sequência, sem falas, apenas acompanhada de uma adequada trilha sonora, o roteiro consegue condensar uma linda história de amor, até a chegada da velhice e da triste separação do casal pela morte. Ellie sempre teve um sonho: o de ir para a América do Sul, conhecer as florestas de lá. Como Carl sofre sério risco de ser mandado para um asilo, resolve realizar o sonho da esposa e para isso, leva consigo a casa onde os dois moravam. Ele só não esperava ter companhia nesta aventura.

Os roteiros da Disney sempre me pareceram meio iranianos em sua essência. Os temas são comuns e cheios de lições. As histórias são ainda mais simples, podendo ser resumidas em uma frase: o peixe que vai atrás do filho perdido, o carro que tem baixa estima, a família de heróis em crise, os brinquedos e/ou monstros que tomam vida, o ratinho que sonha em ser chef de cozinha. E por aí vai. Talvez Wall-E seja o mais rebuscado de todos, com roteiro bem mais elaborado. O que eleva o padrão de qualidade desses filmes é que eles pegam um fio de história e desenvolvem-na com maestria. É por isso que fazem sucesso: temas de imediata identificação desenvolvidos com muita criatividade, não esquecendo nunca as doses cavalares de bom humor.

Dessa vez, o tema central é um tema que toca lá no fundo, aperta o coração e (se o tiro for certeiro) faz dele picadinho: a saudade. É nesse ponto que o filme me ganhou. O amor de Carl pela esposa é tão grande que emociona... e muito! Em determinado momento, Carl descobre algo que Ellie fez durante a vida que é de chorar baldes, dependendo do grau de sensibilidade que o espectador tiver. Eu, por exemplo, fiquei com vergonha, mas quando olhei para os lados, vi que não era o único se debulhando em lágrimas. Numa cena de dois minutos, Up consegue transbordar todo o sentimento que P.S. Eu Te Amo tentou passar em 120 minutos e não conseguiu.

A “licença para surrealidades” dada aos desenhos é muito usada aqui, mas algumas coisas me incomodam e talvez por isso eu não tenha venerado por completo o filme. Não me agrada quando, em filme de gente, animais começam a conversar com os humanos, a menos que a história se passe em um mundo paralelo, o que não é o caso. Mesmo que isso seja (mau) justificado, não era necessário usar de tal (péssimo) artifício para conquistar o público e a Pixar nunca precisou usá-los. Gosto de filmes de bichos/seres inanimados falantes e gosto de desenhos com humanos, mas misturá-los, na minha opinião, soa apelativo. Isso é coisa para filmes medíocres, sem criatividade.

Outra coisa que não entendi foi a presença de uma criança na história, já que a relação dela com o velhinho não é bem desenvolvida, ficando em segundo plano. Na verdade, nem tem razão de existir, já que o tema central não é esse. A impressão que tive é que a criança foi inserida na história, bem como os animais falantes, apenas para não haver rejeição ao filme por parte do público infantil. Faltou ousadia do estúdio, de assumir o idoso como protagonista e confiar no carisma que ele tem. São decisões executivas, que até entendo, mas não me conformo.

Fora isso, os bons elementos estão todos lá: cenas engraçadas, bela trilha sonora (assinada por Michael Giacchino), muita cor, ação e boas lições de moral, constituindo um programa de primeiríssima qualidade para “crianças” de todas as idades.

Quem tiver a chance de assistir a versão 3D, vá sem medo. Os efeitos, ao contrário de A Era do Gelo 3, são muito bons e justificados, aguçando ainda mais os sentidos dos espectadores, com cenas de bastante profundidade e sequências vertiginosas que só poderão ser aproveitadas se vistas com as três dimensões.

No frigir dos ovos, o saldo foi positivo, mas ficou o desejo de que chegue logo outra obra-prima da Pixar, já que desta vez não aconteceu.

Trailer em HD (legendado):


Up – Altas Aventuras

(Up, EUA, 105 minutos, 2009)

Dir.: Pete docter

Roteiro: Pete Docter e Bob Peterson

Produção executiva: John Lasseter

Vozes originais: Edward Asner, Christopher Plummer

Vozes brasileiras: Chico Anysio, Nizo Neto

Nota 7,2

Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Teta Assustada

Está em cartaz há alguns dias este filme peruano, vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim. Um caso raro na cinematografia peruana, já que o país não tem tradição. Mas se você pensa que trata-se de um filme cômico ou esquisito, engana-se imensamente.

A Teta Assustada é um filme delicado, que fala sobre a doença homônima. Os índios creem que é trasmitida de mãe para filhos, através do leite materno, quando a gravidez é fruto de algum transtorno ou ato violento.

Fausta, fruto desse tipo de gestação, cresceu com medo de tudo e de todos, sempre arredia e com olhar cabisbaixo. Para se proteger dos maus tratos que a mãe sofreu, implanta uma batata na vagina.

Sua mãe morre e ela quer dar-lhe um enterro decente, ao invés de enterrá-la no quintal de casa, como sugere o seu tio.

Como Fausta não tem dinheiro, embalsama a mãe e sai à procura de emprego. Consegue um, na casa de uma senhora pianista.

O filme inicia-se com a mãe, já no leito de morte, cantando o estupro que sofreu, durante uma ação do grupo guerrilheiro comunista Sendero Luminoso, no Peru da década de 80. O ritmo é lento e os enquadramentos são chapados, com raros momentos de movimentação de câmera, o que explicita a intenção da diretora Claudia Llosa, de manter um certo distanciamento da protagonista. São enquadramentos duros, mas muito bonitos.

Senti um certa influência dos filmes iranianos, tanto na concepção estilística (árida, lenta e realista) quanto no desenvolvimento do roteiro, que parte de uma ideia simples, mas bastante original e cheia de simbolismo, poesia e delicadeza.

A protagonista é seca, mas percebemos o quanto ela sofre por não ser de fácil socialização, mas não perde a coragem nem desanima diante das atrocidades que a vida lhe reserva. Ela extravasa cantando suas lamúrias, que permeiam as melodias que inventa e que saem da sua boca de forma bela e natural. Mérito da atriz Magaly Solier, bela peruana, de traços exóticos e que acaba de ganhar um kikito de melhor atriz, em Gramado.

Ouvi alguns comentários preconceituosos do tipo: “eu é que não vou assistir um filme com esse título bizarro, eca!”. Não se assustem com o título. Assistam o filme e garanto que farão um programa de muito bom gosto.

Trailer:


A Teta Assustada

(La Teta Asustada, Peru/Espanha, 95 minutos, 2009)

Dir.: Cláudia Llosa

Com Magaly Solier

Nota 8,0

Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!

 
Linkbão Oi Torpedo Click Jogos Online Rastreamento Correios Mundo Oi oitorpedo.com.br mundo oi torpedos mundo oi.com.br oi.com.br torpedo-online Tv Online torrent Resultado Dupla Sena Resultado Loteria Federal Resultado Loteca Resultado Lotofacil Resultado Lotogol Resultado Lotomania Resultado Mega-sena Resultado Quina Resultado Timemania baixa-facil Link-facil Resultado Loterias