A tradição albanesa do Kanun dá o pontapé inicial para o filme “The Forgiveness of Blood”, último filme em competição no Festival de Berlim 2011. Conhecida pelos brasileiros por ter sido retratada em “Abril Despedaçado” (baseado num livro do escritor albanês Amir Kadaré), o Kanun consiste na prática executada nos “feudos do sangue”, quando a morte de um indivíduo deveria ser sanada pela sua família, através da morte de um membro masculino da família do assassino.
O costume fora banido pelo regime stalinista de Enver Hoxha e durante seus quarenta anos de existência, apenas uma morte foi registrada, mas voltou a ser praticado em 1992, com o colapso do comunismo no país. Desde então, quase dez mil homens já foram mortos em decorrência do Kanun.
Nascido em Los Angeles (EUA), o diretor Joshua Marston (Maria Cheia de Graça) passou um tempo na Albânia, entrevistando pessoas, pesquisando sobre a tradição. Decidiu contar a história pela perspectiva de quem comumente não é focado. Ao contrário de “Abril Despedaçado” e outros filmes baseados no tema, em que o ciclo vicioso de matar-aqui-morrer-acolá domina as histórias de vingança, “The Forgiveness of Blood” se concentra no jovem Nik, que é obrigado a ficar preso em casa, depois que seu pai é acusado de ter matado o membro de uma outra família.
Esta prisão domiciliar é a forma usual de demonstrar respeito pela família do morto e evitar que a vingança seja feita.
O diretor imerge assim, o espectador numa clausura angustiante, junto com o seu protagonista, assim como acompanha a apreensão dos outros membros de sua família que, apesar de poderem circular pela cidade, têm suas restrições e são dominados pelo medo de algo pode acontecer a qualquer momento. É uma perspectiva mais dolorosa, o que não faz do filme uma obra melhor do que a que o diretor brasileiro Walter Salles fez em “Abril”.
Mas é um filme bem construído, com uma trilha sonora que entra apenas em momentos muito precisos. Constitui uma alternativa sobre um costume cruel, que afeta muita gente, mas que parece não ter fim.
Foi um bom encerramento para um festival cuja competição contou com filmes excelentes, mas também incluiu na sua corrida filmes que não mereciam estar em nenhuma mostra.
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