Retrato das amarras empregatícias que se formam ao longo dos anos, La Nana mostra a dificuldade de uma mulher em contratar mais uma empregada, para ajudar a veterana Raquel nos afazeres da casa.
O problema é que Raquel representa todo o medo corporativista do desconhecido. Ela é tudo o que um administração renovadora não precisa: tem resistência a mudanças e apodera-se dos bens e pessoas do seu ambiente de trabalho como se fossem de sua propriedade, boicotando toda e qualquer tentativa de implementação de novas políticas e contratação de novos funcionários. Para ela, o comodismo é a melhor saída e ela fará de tudo para que a rotina não mude.
Analisando assim, La Nana parece um filme cheio de teorias, desses chatos usados em aulas dos cursos de administração. Mas é o contrário disso: um filme denso, realista, que causa identificação imediata com qualquer pessoa que tenha tido em sua casa uma mesma doméstica por muitos anos.
É real o apego da empregada com os patrões e os filhos destes e o medo que esta tem de um dia não fazer mais parte da família. Ela já está na casa há tantos anos que já acostumou-se a flagrar o patrão pelado pela casa ou encontrar os lençóis do filho adolescente grudentos de você-sabe-o-quê. Sente-se à vontade, inclusive, para brigar com a filha mais velha dos patrões, cuja relação é a mais delicada. Ter zelo pela casa é muito bom, mas em excesso, torna-se um problema. Vai dizer que você não reconhece esta personagem...
A preparação de elenco é excelente e a atriz Catalina Saavedra dá uma aula de expressão e interpretação na pele de Raquel, sem precisar de exageros ou caras e bocas. Outros destaques são a empregada maluquinha Lucy (Mariana Loyola, uma simpatia) e o adolescente Lucas (Agustín Silva), de uma espontaneidade incrível.
Apesar de alguns erros de sonoplastia (os barulhos produzidos não se encaixam com as imagens), o filme é bem produzido, com um roteiro simples, mas muito bem escrito, rico em situações e personagens bem construídos e com uma narrativa nada cansativa.
La Nana é o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia.
Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Sundance, como melhor drama, além de um prêmio especial concedido à atriz Catalina Saavedra.
Tomara que consiga distribuição no Brasil.
(idem, Chile/México, 95 minutos, 2009)
Dir.: Sebastian Silva
Com Catalina Saavedra, Mariana Loyola, Agustín Silva
Nota 8,7
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