Na minha última sessão de ontem do festival, uma surpresa: como eu tenho credencial, confiei na programação divulgada inicialmente e entrei para a sala que correspondia ao filme Parque Via. O filme começou e de repente, o título Epitáfio surgiu na tela. Saí para reclamar, mas não houve jeito. A sessão havia mudado e eu não sabia. Nem cartaz de aviso na bilheteria não havia, mas como todos os outros filmes já haviam começado e eu não tinha conseguido encaixar Epitáfio na minha grade, resolvi assistí-lo, afinal não parecia ser um filme ruim. E que bom que não foi.
O filme começa em 1979, quando, no fim da vida, Jeong-nam Park folheia um antigo álbum de fotos, relembrando fatos de 1942, quando ele começara a carreira de médico no Hospital Anseong. Naquela época, ele apaixonara-se pelo corpo de uma moça que chegara ao necrotério, sem saber que era ela a moça com a qual ele havia sido prometido em casamento. Ao mesmo tempo, chega ao hospital uma menina, única sobrevivente de um acidente de carro, que matou seus pais. A menina é atormentada pela culpa e pelo fantasma da mãe. É aí que chega o casal de médicos Dong-won Kim e In-yeong Kim, vindos para ajudar na autópsia dos corpos de soldados japoneses, vítimas de assassinatos em série. Paro por aqui, para não tirar a graça do filme.
Epitaph é um dreamlike terror, com idas e vindas no tempo, alucinações que misturam-se à realidade e um monte de imagens que só serão explicadas no final.
Tem um teor dramático muito forte, por vezes abafado pela quantidade de gritos e cenas de sustos fáceis, dessas com trilha sonora cheia de violinos estridentes e pianos graves. Na cena em que eles usam o “tã-tã-tã” de Psicose eu não contive a gargalhada.
A fotografia é um espetáculo à parte, com um cuidado pouco visto em filmes de terror. É de uma plasticidade incrível, bem enquadrada e com muita variação de planos. Até as imagens dos mortos medonhentos são bonitas.
Os Irmãos Jeong, como se apresentam os diretores, usam do terror para tratar... da morte. Mas calma, não é algo simples assim. Seria vazio, não fosse uma visão romântica que os caras têm das mortes, com toques de espiritismo, de amor além da vida e outras crenças que nem todo mundo acredita, mas que são inegavelmente poéticas.
Eu definiria o filme como um clichê complexo. História de suspense comum, mas com uma densidade poética muito grande e com uma montagem não-linear que deixa a história intrigante. Só faltou ousadia para deixar os clichês de lado.
Não demora e Hollywood adapta o filme para o formato vendável aos seus jovens desneurados.
(Gidam, Coreia do Sul, 98 minutos, 2007)
Dir.: Jeong Brothers
Nota 7,2
P.S.: as sessões do filme no FIC Brasília são gratuitas.
Saiba os horários aqui.
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