Estou impressionado com a quantidade de filmes bacanas passando no FIC deste ano.
Até os filmes dos quais eu não esperava muito estão me surpreendendo.
El Último Verano de la Boyita foi meu primeiro filme de ontem. Início de tarde, um pouquinho de sono e um calor repentino em Brasília.
Foi só começar o filme que o sono passou rapidinho. Jorgelina é uma garotinha que vai passar as férias com o pai, numa fazenda. Lá, ela faz amizade com Mario, o filho dos caseiros e, ao voltarem de um passeio a cavalo, ela vê uma mancha de sangue no assento que eles ocupavam. A tal mancha revelará segredos de Mario para Jorgelina, que o ajudará a “curar-se”, numa jornada de descoberta de sexualidade e construção de uma grande amizade.
Recomendo que assistam o filme sem buscar maiores detalhes prévios.
A diretora Julia Solomonoff já foi assistente de direção de um bando de gente boa, como Walter Salles, Luís Puenzo, Fabian Bielinsky e Carlos Sorín. Este é seu segundo longa-metragem e ela mostra a que veio, entregando extremamente sensível, cujo tema é sensível e que, nas mãos de outros, poderiam descambar para o dramalhão piegas facilmente.
A diretora optou pelo caminho da sutileza, das imagens que valem mais que mil palavras, deixando o público descobrir a história aos poucos, assim como as crianças descobrem um novo universo. A história prende a atenção sem precisar de artifícios, como trilhas, efeitos ou montagem mirabolante. Tudo muito calmo, bem como o ambiente aconchegante que serve de cenário para o filme. A única tensão fica por conta da iminente revelação, que só virá perto do final, deixando o público com a pulga atrás da orelha o tempo todo.
Os dois atores mirins são encantadores e foram as escolhas certas para trazer leveza a um filme denso. Outro destaque é o pai da menina, atencioso (apesar da aparência rude), compreensível e responsável.
A direção de fotografia é sábia, filmando o universo infantil do jeito que tem que ser, focando no que lhes atrai. Por isso, há planos de formiguinhas, grama cheia de coloridas tangerinas, cavalos, a menina nadando com a boia de pneu ou comendo alfajor com coca-cola, o menino sempre lapidando toquinhos de madeira com uma faquinha.
Os diálogos são reais. Adequam-se aos personagens. Aqui não tem essa de criança que solta frases maduras. Criança tem fala de criança e adulto tem fala de adulto.
Vejo muita gente fazendo curtas metragens sobre pré-adolescência e a descoberta da sexualidade. Este filme devia ser obrigatório para quem quer fazer algo assim. Uma aula de delicadeza e respeito ao tema.
Uma história muito bonitinha. Um filme encantador. Estou apaixonado.
El Último Verano de la Boyita
(idem, Argentina/ Espanha/ França, 93 minutos, 2009)
Dir.: Julia Solomonoff
Nota 8,4
Assistam o trailer aqui.
Horários do filme no FIC Brasília (não percam. Dificilmente o filme virá para o Brasil depois): terça 10/11, às 19:30; e sábado 14/11 às 19:50.
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