Depois de tantos dias assistindo a filmes alternativos, durante os festivais aqui de Brasília, foi um choque voltar ao circuito comercial. Impressionante como o ritmo, a montagem, a narrativa, trilha, atores, é tudo muito diferente. Pelo menos o filme da vez não era ruim, mesmo não sendo uma preciosidade.
Julie & Julia é o novo filme de Nora Ephron (Mensagem Para Você), que conta as histórias de Julia Child, uma famosa chef de cozinha, autora do livro Mastering the Art of French Cooking, e Julie Powell, uma atendente de SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), que resolve criar um blog, no qual relataria o desafio autoimposto de fazer, em 365 dias, as 524 receitas constantes no livro de Julia Child, seu ídolo.
As duas tiveram histórias parecidas (o filme é baseado em fatos reais) e isso fez com que a diretora resolvesse contar as histórias com uma montagem paralela e linear, como se comparasse a trajetória das duas mulheres. Ambas envolveram-se com a culinária como forma de sair da rotina tediosa, mesmo não tendo muito jeito com a cozinha. Aprenderam tudo com força de vontade e determinação em alcançar seus objetivos.
O roteiro baseia-se em dois livros: a história de Julia Child foi inspirada pelo livro My Life in France e a de Julie, pelo livro Julie & Julia, escrito pela própria Julie Powell.
As histórias separam-se por uma diferença de 40 anos e é interessante que Nora Ephron optou por não usar efeitos de fotografia para distinguir as duas épocas. O espectador percebe nitidamente que se tratam de décadas diferentes apenas pelos figurinos e cenários, que são obviamente bem cuidados, senão tal distinção seria dificultada.
O início do filme é recheado de cenas forçadas, diálogos clichês e personagens fake (os coadjuvantes). Nada de espantoso, em se tratando de um filme de Nora Ephron. A Julie é tida como uma coitada, as ações mostram isso, mas quer algo mais chato do que você estar vendo toda a situação explicitamente e ainda ter que ouvir pessoas te explicando tudo, como se os seus neurônios não fossem capazes de entender tudo? Esta necessidade absurda que os americanos têm de colocar tudo em palavras torna os filmes redundantes. Irrito-me com isso. Sinto minha inteligência subestimada.
Outra coisa que me deu agonia: a sonoplastia. Ninguém merece ouvir barulhos de pessoas comendo, um shlep-shlep sem fim. Mas isso passa depois de um terço de filme.
A história fica mais divertida quando as duas, cada qual em sua época, começam a aprender a cozinhar e vão cumprindo o desafio de fazer receitas cada vez mais elaboradas. Ao mesmo tempo, cada uma passa pelas crises emocionais de quem almeja ser um escritor reconhecido, uma com as recusas de publicação do seu livro e a outra com as incertezas e o desânimo que dá em todo blogueiro em começo de “carreira”, sem saber se o projeto vai chegar a algum lugar, se as pessoas estão lendo o blog (e gostando), se tanto trabalho para manter o projeto de pé vale a pena.
Meryl Streep está bem engraçada (apesar de caricata) no papel de Julia Child e Amy Adams parece, aos poucos, conseguir se livrar do estigma de fragilzinha, no papel da Julie Powell. O filme seria a coisa mais sem graça do mundo, não fosse o talento dessas duas atrizes.
Julie & Julia é um filme muito divertido, clichê, mas alguns respiros de originalidade. Eu esperava um filme excelente. Não foi, mas gostei mesmo assim.
Quem for assistir, reparem em como eles filmaram o planossequência que encerra o filme, no trabalho de movimentação de câmera e de mudança de iluminação. Muito bom!
Trailer
(idem, EUA, 123 minutos, 2009)
Dir.: Nora Ephron
Com Meryl Streep, Amy Adams, Stanley Tucci, Chris Messina
Nota 7,6
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