O que mais admirou-me ao assistir A Fuga da Mulher Gorila foi o fato de o filme ter sido rodado com apenas 10 mil reais, orçamento tão baixo que, em alguns casos, não dá para fazer nem curta-metragem, que dirá um longa.
O diretor e roteirista Felipe Bragança já trabalhou com Karim Aïnouz na minissérie Alice, da HBO, e no belo O Céu de Suely, cujo roteiro foi coassinado por ele. Este é seu primeiro longametragem como diretor.
Filmado em apenas oito dias, em pontos da BR-101, que liga o Rio de Janeiro a Campos, o longa conta a história de duas irmãs que partem numa van – a mesma usada pela equipe do filme para transportar os equipamentos –, apresentando seu show, o famoso truque da Mulher Gorila (já explorado antes em Lisbela e o Prisioneiro).
Trata-se de um road movie, dividido em vários capítulos, que exploram os cenários de interior e de beira de estrada, praia, boates de quinta e a amizade feita com alguns pelo caminho, sem deixar de lado as histórias pessoais e o autoconhecimento das duas irmãs.
É claro que, com um orçamento tão baixo, não dava pra ter um cuidado técnico tão bom, por causa dos poucos equipamentos (e nem sempre de alta tecnologia) que a equipe dispunha. Talvez por isso a fotografia seja ruim, escura demais à noite e estourada demais nas cenas em que contava-se com a forte luz do sol. Mas alguns deslizes poderiam ter sido evitados. Há planos embaçados, com cores desreguladas, coisa que a simples técnica de “bater o branco” resolveria.
Outro ponto fraco é a captação de som direto. Seria preciso legenda para entender alguns diálogos dos personagens.
O elenco atua direitinho, exceto em alguns momentos de interpretações excessivamente teatrais. Mesmo assim, rende bons momentos, especialmente nas cenas em que as irmãs cantam, com vozes suaves, músicas singelas de letras bonitinhas.
Sem grana e com muita vontade de fazer cinema, Felipe Bragança e sua parceira de produção e montagem Marina Meliande entregam um filme enxuto, cheio de sutilezas e muito agradável de se assistir.
Um bom representante da cena independente nacional. Prova de que nem sempre o dinheiro vem em primeiro lugar no cinema.
Teaser:
(idem, Brasil, 86 minutos, 2009)
Dir.: Felipe Bragança
Com Morena Cattoni, Flora Dias, Pedro Freire
Nota 7,2
Horários do filme no FIC Brasília: sexta-feira 13/11, às 18:40, com presença do diretor.
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