O filósofo Friedrich Nietzsche realmente não serve para ser personagem de filme. Ao menos não pelas mãos dos chamados diretores de filmes de arte. Muita profundidade agrupada resulta em um produto arrogante e autoexaltador.
Foi o que aconteceu no Brasil, quando Júlio Bressane resolveu rodar uma obra intragável – chamada “Dias de Nietzsche em Turim” – só com declamações de escritos do filósofo e foi o que aconteceu com este novo filme do diretor húngaro Béla Tarr, exibido nesta terça-feira (15), em competição no Festival de Berlim.
Depois da exibição de uma obra atual e leve como o também em competição “The Future”, quem se arriscou a conferir este outro competidor levou um balde de água fria. Foi como se a marcha tivesse sido mudada da quinta para a ré, imediatamente.
De fotografia belíssima, em preto-e-branco, e estética de fome, “The Turin Horse” retorna a 1889, em Turin. Nietzsche sobe em um cavalo de transporte e em seguida perde a consciência. Acorda em algum lugar no meio rural e passa a conviver com um fazendeiro e sua filha, um cavalo e uma carroça (!). Do lado de fora da casa rústica, apenas uma ventania assopra.
Acreditem ou não, esta sinopse refere-se a todos os 150 minutos de filme, divididos em dias, que para o espectador podem parecer meses. Mas é preciso dizer que, quem sobrevive até o fim da sessão tem uma boa surpresa.
Deslocado no tempo, o longa de Béla Tarr talvez encontrasse espaço maior na época em que filme de arte era sinônimo de lentidão e absoluto marasmo. É obra restrita, feita para (muito) poucos.
Cinema para crítico intelectualoide, encontraria “The Turin Horse” lugar na preferência do júri da Berlinale? A resposta, só no próximo sábado (19).
1 comentários:
Deslocado no tempo? Espaço maior? Espaço de uma grande obra pode-se medir pela sua audiência ao longo do tempo. Muitos dos campeões de bilheteria do agora não o serão... Este primor de arte visual será! Não precisa ser crítico de cinema; é mole de se ver
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