Uma hora isso haveria de acontecer.
Finalmente (e infelizmente), Almodóvar quebrou sua sequência de filmes excelentes (Tudo Sobre Minha Mãe; Fale com Ela; Má Educação; Volver) e voltou ao patamar de obras medianas, como A Lei do Desejo e Matador.
A história de Abraços Partidos gira em torno de Lena, uma mulher linda que quer ser atriz. Ela casa-se com o ex-patrão e quando tem a chance de atuar num filme do conhecido diretor Mateo Blanco, tem que conviver com o filho do marido, escalado por ele para fazer um “making of” do filme (como forma de vigiar a mulher). Mas esta é só uma parte, a de meados da década de 1990. A outra parte passa-se, intercaladamente, em 2008, quando o diretor Mateo Blanco, já cego, recebe uma proposta do filho do marido de Lena (!), para escrever um roteiro para ele.
Com Abraços Partidos, Almodóvar troca o requintado pelo requentado. Requentado porque tem muito, mas muito mesmo, de Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos. Além de algumas cenas declaradamente refilmadas daquele filme, Abraços Partidos tem atuações, roteiro e estrutura narrativa parecidos com a obra de 1988. Não que fosse ruim, pelo contrário, mas é que os tempos mudaram e a linguagem criada por Almodóvar evoluiu e este novo filme soou-me como “um passo atrás”. A única (e infeliz) diferença perceptível é que esta nova obra tem menos cores do que o usual do diretor. O forte colorido aparece apenas nas cenas de metalinguagem – as melhores do filme, por sinal. Na história principal, tons mornos predominam.
Mas, como eu já disse, o filme não é ruim. As interpretações são adequadas, a fotografia é ótima e a montagem é excelente, levando com sutileza e clareza a sua não-linearidade. E é claro, Penélope Cruz está cada dia mais bonita.
No finalzinho do filme, um personagem profere a seguinte frase: “Os filmes precisam ser terminados, ainda que às cegas”. A impressão que tive é que Abraços Partidos foi terminado assim. Uma alma mexicana dissipada no escuro.
Trailer:
(Los Abrazos Rotos, Espanha, 127 minutos, 2009)
Dir.: Pedro Almodóvar
Com Penélope Cruz, Blanca Portillo
Nota 7,0
*estreia na sexta-feira, 04/12.
10 comentários:
Hum... Vou vê-lo hoje e volto pra comentar...
Retiro o que disse, o convite que me prometeram para pré-estreia de hoje voou...
bjs
filmezinho mais ou menos.
hahaha. E aí, Amanda! Conseguiu vê-lo depois da estreia? Esse povo que promete e não cumpre...
João, acho que não é um filme tão ruim. Agora, pra ser um filme do Almodóvar, é mais pra menos do que pra mais... Na verdade, é mais do mesmo e isso é chato.
Hey, estou lendo 'Conversas com Almodóvar', e talvez a vida imita mesmo a arte e vice versa, pois ele conta que foi procurado por um homem muito rico do ramo petrolífero dizendo que sua esposa ameaçava abandoná-lo e disposto a agradá-la a qualquer custo atendeu o pedido de criar uma produtora de filmes onde pudesse atuar como atriz. Foi assim que Maus Hábitos nasceu! A esposa em questão era Cristina S. Pascual.
Bj.
Ah, muito legal isso, Anna!
Almodóvar tem muito de incorporar os fatos da vida dele nos filmes. Neste, ele refaz a si próprio, com as cenas de Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos refilmadas...
Sabe aquela idéia de "é daquele diretor, então vou gostar"? Pois bem, é como eu funciono com Almodovar. Não consigo achar os filmes dele ruins. òbvio que prefiro uns a outros, mas... ainda adoro todos.
Mr Dalloway, nunca achei um Almodovar ruim. Existem alguns, como Abraços Partidos, que estão abaixo da média dele, mas que não deixam de ser bons.
É... as "cores de Almadóvar" andam desbotadas.
Rodrigo, é só um desbotada de leve! Na próxima ele volta à melhor forma, espero!
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