Dia desses eu estava a conversar com uma amiga alemã, quando ela perguntou-me se eu sabia como dizer “olá” na língua dela. Eu, do alto da minha ignorância, respondi que “sim! Não é heil?!”. A hostilidade pairou sobre nós por uns segundos. Então ela explicou-me que o heil era o termo utilizado pelos nazistas para “bater continência” para seu líder, Hitler e que tal termo era malquisto por lá, já que eles (os alemães) não gostam de serem ligados à Segunda Guerra, que é um passado obscuro, que ainda os persegue, apesar dos constantes esforços de mudar tal imagem perante o resto do mundo.
É mais ou menos isso que os personagens de A Onda discutem no início do filme: sobre a revolta que os jovens alemães, que nada têm a ver com o passado do país, nutrem por terem que “pagar” por algo que não fizeram.
Como é semana de exercícios práticos nas escolas, um dos professores, incumbido de dar aulas sobre autocracia, é confrontado pelos alunos, que acham impossível o retorno a uma política ditatorial no país. Diante disso, propõe um desafio: que eles vivam num regime autocrático durante toda aquela semana.
Os alunos não só aceitam a proposta, como (imbuídos de uma ideologia comunista) começam a enxergar no “regime temporário” algumas vantagens. É então que formam a comunidade A Onda (Die Welle, em alemão), começam a andar uniformizados, queimam suas roupas de marca e saem à procura de novos aderentes, além de outras coisas que não contarei, para não estragar o filme.
No início do filme, achei que tratava-se de mais uma dessas histórias do “professor que não desiste dos alunos rebeldes e consegue romper as barreiras da rebeldia”, mas vi que A Onda tem muito mais do que uma simples história a oferecer.
Baseado em fatos reais, que originalmente aconteceram nos EUA (na Califórnia, em 1967) e que já haviam sido explorados num premiado médiametragem de 1981, The Wave, facilmente encontrado no Youtube. Tais fatos foram transpostos para a Alemanha acertadamente, já que lá existe um conteúdo histórico que confere ainda mais densidade às discussões levantadas. A Onda é um filme muito importante e que será exibido muitas vezes nas aulas dos bons professores mundo afora. Além de discutir os métodos de ensino, debate sobre até que ponto os jovens podem ser influenciados, sobre o quanto uma ideologia exarcebada pode isolar as pessoas e gerar conflitos, sobre o quão estúpidos foram os regimes autoritários, sobre o perigo da formação de gangues e sobre mais um monte de coisas. Aproveita-se do filme quem quiser. O leque é amplo.
Como cinema, também alcança muitos êxitos: a fotografia é muito boa, variando bastantes os movimentos de câmera e os planos, com destaque para as cenas aquáticas; a trilha é adequadamente pulsante, principalmente a dos créditos iniciais do filme, também muito bons; o roteiro é bem desenvolvido e conta com um bom diretor para executá-lo.
Talvez o lado mais frágil do filme esteja no das interpretações, que poderiam ser viscerais, mas são apenas ordinárias. Nada que estrague a boa desgustação do espectador.
Vale a pena assistir, principalmente para quem gosta de uma boa discussão/reflexão após a sessão.
Trailer:
A Onda
(Die Welle, Alemanha, 107 minutos, 2008)
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Dennis Gansel
Elenco: Jurgen Vorgel, Frederick Lau, Jennifer Ulrich, Cristina do Rego
Roteiro: Dennis Gansel
Elenco: Jurgen Vorgel, Frederick Lau, Jennifer Ulrich, Cristina do Rego
Nota 8,0
2 comentários:
Meu professor de filosofia me indicou esse filme. Realmente é muito bom mesmo, eu adorei. Uma aula sobre a fragilidade da sociedade em que vivemos.
Indicadíssimo.
Lia, seu professor tem bom gosto! Muito bom o filme, não?!
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