Coração Vagabundo é mais um entre os montes de documentários musicais que têm sido produzidos no Brasil. Felizmente, a modinha não trás consigo (pelo menos até agora) resultados ruins e este é mais um bom exemplar desta safra nacional. A diferença é que, neste caso, não se trata de uma cinebiografia. A intenção não é a de contar a vida e a carreira de Caetano. Portanto, não há depoimentos e nem imagens de arquivos.
O diretor Fernando Grostein Andrade simplesmente quis registrar a rotina do artista, durante sua turnê do cd Foreign Sound por Nova York, São Paulo e Tóquio. Essa escolha foi muito boa, já que Caetano é uma figura muito interessante e agradável de se ouvir e o fato de ser acompanhado de perto por muitos dias e estar à vontade diante das câmeras faz com que ele solte suas opiniões peculiares a todo momento e aos poucos absorvemos o que realmente interessa, que é a essência dele, tanto como cantor quanto como pessoa.
Não há aqui um trabalho de desconstrução da imagem, mas uma confirmação daquilo que todos já pensavam. É óbvio que há sempre uma moderação diante das câmeras e Caetano deita e rola, porque já é descolado no assunto assédio e faz das filmagens aquilo que bem quer e não mostraria um lado que pudesse denegrir sua imagem, se é que ele tem esse lado. Fala com a calma de um legítimo baiano e seus pensamentos vão sendo proferidos sem nenhuma agressividade, mesmo quando relacionados a assuntos polêmicos.
O diretor conseguiu depoimentos de gente do quilate de Pedro Almodóvar e David Byrne.
Em certo momento, Caetano está rouco e precisa descansar a voz. Diz então ao diretor: “Você hoje fará um filme de Bergman... só silêncio. Ou de Antonioni... só um homem e uma parede!”. E eis que surge ninguém menos que Michelangelo Antonioni, contando sobre sua aproximação com o cantor. Privilégio para poucos.
Há também momentos muito engraçados, como a impagável sequência do docinho japonês, na qual até a câmera treme, pois nem o diretor conseguiu segurar o riso.
Mas o papel mais importante que Coração Vagabundo – o Filme exerce é, na minha opinião, o de conscientizar-nos da importância que esse cara tem para o Brasil. Sua música tem um alcance inimaginável no estrangeiro e leva consigo um boa imagem dos tupiniquins. Na passagem pelo Japão, vemos gente que aprendeu um pouco de português para poder cantar as músicas dele. Isso é algo que deve-se valorizar muito em um artista como Caetano. Percebe-se que ele tem importância na música mundial e não só por aqui.
Coração Vagabundo é Caetano por ele mesmo. Portanto, quem gosta dele vai gostar ainda mais e quem não curte, continuará não gostando... ou não!
Trailer:
(Brasil, 60 minutos, 2009)
Dir.: Fernando Grostein de Andrade
Nota 7,0
5 comentários:
Eu gostei muito do filme, principalmente por esse formato de não ser uma cinebiografia. A edição é muito boa e o tempo passa sem que a gente perceba.
fredzinho, não te devo mais nada. Já te favoritei! :D Tô curiosa pra ver este novo filme do Caetano. Bjo
O tempo é um ponto forte do filme, Amanda. Também senti passar muito rápido, mas também, 60 minutos só seria lento em filme iraniano, né não?! Foi um acerto não fazer uma cinebiografia do Caetano, já que a história é bem conhecida, então não seria novidade fazer um filme sobre ele nesse formato.
Beth, até que enfim você pagou esta dívida, né?! rsrs
E você que gosta de música, tem perdido muitos filmes desse gênero. Tomara que possa vê-los todos em dvd.
Beijos para as duas!
Tenho a impressão de que os bonscantores brasileiros são mais queridos lá fora do que aqui. Tipo a Rosa Passos.
Estou curiosa sobre esse filme.
Em alguns casos, como o da Rosa Passos, concordo, Celina. Mas no caso do Caetano, é meio difícil falar isso, já que ele é um ícone por aqui.
Bjo!
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