Ontem assisti ao episódio de A Grande Família, no qual Tuco resolve fazer um documentário sobre sua família.
Pois bem. Deixando a comédia de lado, as cenas gravadas pela Gina (namorada do Tuco) remeteram-me imediatamente ao O Casamento de Rachel.
O filme é contado todo com cara de vídeo caseiro e mostra a vinda de Kym para o casamento da irmã, a tal Rachel do título. Kym estava internada numa clínica de reabilitação. Toda família tem sua ovelha negra e nessa aqui, a rebelde da vez é Kym. Seu retorno à família desencadeia situações delicadas (todos temem que a qualquer momento ela possa fazer alguma besteira) e como ela é uma figura estigmatizada pela rebeldia, sua recuperação é posta em xeque várias vezes e ela será tida como a problemática. Os defeitos dos outros são escondidos pela latência dos problemas de Kym. Acontecimentos sombrios do passado podem vir à tona e situação é sempre de “tensão no ar”. É como uma torre de cartas, que qualquer sopro pode fazer tudo desmoronar.
Filmado em digital e com câmera sempre na mão, como se houvesse sempre um personagem da família captando aquelas imagens. Essa foi a escolha mais acertada do diretor Johnattan Demme (O Silêncio dos Inocentes), que ao incorporar preceitos do Dogma 95 (movimento cinematográfico dinamarquês) nos introduz de maneira definitiva no âmago daquela família. Isso traz um aspecto precioso e uma sensação de que estamos assistindo a vídeos de conhecidos nossos. Só que dificilmente uma família exporia seu lado sombrio de forma tão escancarada.
Além da direção, o filme tem outro ponto forte: a atuação de Anne Hathaway. Captada de forma tão invasiva pelas câmeras, ela não se intimida e dá um show de naturalidade. Há aqui, um caso muito bem-vindo, no qual a personagem é muito maior do que a estrela que a interpreta. Ao mesmo tempo que ela é rebelde, seu olhar denuncia a carência que ela sofre pela rejeição da família e seu andar curvado e cabisbaixo demonstra o peso que o passado lhe impõe. Merecidamente indicada ao Oscar.
O Casamento de Rachel é um dos filmes mais interessantes de 2009, mas há algo bizarro nele que não posso deixar de comentar: a tal da festa em questão. Que diacho de casamento de mau gosto! Ô mistureba de culturas. Parece a miscigenação do Brasil: há um coreano sabe-se lá de onde surgiu, um sujeito irritante tocando violino ininterruptamente (que vontade de jogar uma pedra na cabeça dele), a piscina é cercada de decoração japonesa, a cabana da cerimônia é indiana, a música de entrada é tocada por uma banda de rock, o jantar é embalado por reggae, logo após entra uma escola de samba (!) e a noite segue com hip hop, dance, muchachas...
Mas só mesmo essa festa pra trazer algo animado pro história. Os seus desdobramentos são deprimentes. A cada camada que adentramos no seio da família, percebemos um núcleo ainda mais podre. Os personagens se revelam asquerosos e em vários momentos questionamos: Kym é realmente a culpada de tudo?
A resposta para essa pergunta, só a subjetividade de cada um pode dizer.
Trailer:
(Rachel Getting Married, EUA, 113 minutos, 2008)
Dir.: Johnattan Demme
Roteiro: Jenny Lumet
Com Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Bill Irwin, Sebastian Stan, Anisa George...
Nota 7,9
18 comentários:
Olá
Estou com muita vontade de ver este filme, principalmente por ter no elenco a Anne Hathaway, dizem que ela está incrível.
até mais : )
Ainda não vi, mas não me vai escapar. Todas as crónicas sobre o filme têm sido positivas, inclusive, claro, a tua.
Abraço.
Estamos tão acostumados a vê-la em comédias, que fica difícil não se surpreender com seu talento dramático.
O filme ainda não estreou em Portugal, Red Dust? Se já estreou, corra pra ver.
Estreou no início de Fevereiro, Fred. Em breve será lançado em DVD, mais exactamente no próximo dia 17. Infelizmente é o meio pelo qual vejo a esmagadora maioria dos filmes. Não tenho tido disponibilidade para me deslocar às salas.
Abraço.
Um belo filme, e interessante sua comparação com A Grande Família. Engraçado como a mente da gente sempre nos surpreende com lembranças diversas.
Uma pena, porque o cubo mágico é insubstituível! =)
Mas assista então quando chegar em dvd, que é muito interessante.
Abraço!
Ainda bem que a mente colabora com uns insights, senão iam ficar uns posts muito padronizados, meio chatinhos! ehehe
oi FRED adorei seu trabalho
desejo sucesso.....sempre.
um beijo!! laurinha
Muito obrigado, Laura!
Seja bem-vinda!
Gostei desse filme, apesar do último ato ser prolongado demais, na minha opinião. Tenho visto a Globo copiar filmes na cara de pau há um certo tempo. Em alguma novela vi um concordo de talentos para crianças onde a família acabava ajudando a garota. Será que alguém de lá gostou bastante de Little Miss Sunshine? rs
abraço Fred!
hahaha
A Globo é a maior chupinha de idéias que já vi!
Abraço, Pedro!
Nossa, q blog bom o seu. Parabéns.
Sobre o filme, achei espetacular. A relação das 3 mulheres (a mãe e as duas filhas) pra mim foi o tema central. Todos falam da Anne Hathaway, mas achei a Rosemarie DeWitt fenomenal. É akele típico filme de pessoas horríveis com problemas estranhos, mas q acabam ganhando nossa empatia.
Mas concordo com vc com relação ao casamento em si: foi um samba (trocadinho intencional) louco!
Abs!
Esqueci de mencionar melhor a Rosemarie DeWitt. Ela realmente está muito bem, mas é que a surpresa com a atuação de Hathaway é tamanha, que acaba ofuscando o resto.
Por acaso, a personagem Kym foi a única que ganhou minha empatia. Entendi o lado da irmã, da mãe e do pai, mas meu lado "defensor dos frascos e comprimidos" (!) falou mais alto. Rsrs
Muito obrigado pelo elogio, Anderson! Apareça mais vezes! =)
Apesar de melancólico, e por muitas vezes duro, esse filme é gostosíssimo de ver; e é uma surpresa que seja realizado pelo mesmo cara que nos deu O Silêncio dos Inocentes. Toda a narrativa tem aquela atmosfera de melancolia e de feridas do passado que ainda estão cicatrizando. Nesse sentido, aquela cena da brincadeira da lava-louça para mim é a mais exemplar e mais cortante também. De uma brincadeira aparentemente inocente, surge o passado para lembrar a tragédia daquela família. Sensacional. Assim como a atuação da Hathaway, dona de uma personagem de personalidade forte, mas também de uma fragilidade incrível. Enfim, amo esse filme, um dos melhores do ano.
Sim, e tu não gostou da festa? Pois eu tava doido pra estar lá, muito bacana justamente pela grande diversidade de culturas. Nunca vi um casamento assim, e é filmada com tanta graça que me pareceu A festa.
Quando começou a cena do lava-louças, achei-a completamente desnecessária. Mas quando surgiu o tal prato na história, achei sensacional! Uma brilhante sacada.
Quanto à festa, no frigir dos ovos, foi divertida. Mas senti um pouco de exagero, principalmente por aquele violinista irritante ficar tocando para todo o sempre.
O filme não é O melhor do ano, mas com certeza estará entre eles.
Abraço!
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