Eu não faria isto, mas atendendo a pedidos, darei minha opinião sobre a cerimônia de ontem.
Quanto à cerimônia em si, achei boa a ideia de ter dois apresentadores, o que tira um pouco o ar egocêntrico de antes, quando a maioria dos comediante estavam lá, super nervosos, tentam mostrar - e nem sempre conseguindo - o quanto eles são engraçados hô hô hôw. Isso não significa que ambos os apresentadores foram bem. Steve Martin tem ótimas tiradas (apesar de eu não gostar da maioria dos seus filmes), mas Alec Baldwin? Não entendo a paixão estadunidense por essa família.
As apresentações de dança foram tremendamente enfadonhas e desconexas. Aquelas pessoas dançando street dance músicas de ritmos completamente diferentes ficou muito estranho, não acham?! Eu preferia as apresentações da "melhores canções", mesmo que isso tomasse um pouco mais de tempo.
E que satisfação ver o gênero "horror" homenageado, numa festa que sempre o renegou! Assim como foi um grande avanço indicar "filmes de efeitos visuais" de alguns anos para cá, seria um grande avanço reconhecer, nos próximos anos, o mérito de filmes de suspense/terror/horror. Afinal, já se passaram dez anos desde que O Sexto Sentido foi indicado...
No mais, muito interessante a apresentação das categorias de melhor ator e atriz, com "amigos" falando um pouco de cada indicado. Isso valoriza os prêmios. Só não precisavam fazer discursos tão inflamados, demorados e forçados.
Quanto à imprensa, tenho algumas considerações. Hoje, passeando por alguns sites de notícias, vi que a maioria das chamadas enfatizava o fato de que "Avatar perdeu para Guerra ao Terror". Desde quando perde-se algo que nunca se teve? E foi só Avatar que não ganhou o Oscar? Este festejo grosseiro em cima de Guerra ao Terror mais me parece uma comemoração da não consagração do filme de James Cameron do que propriamente uma concordância de que Kathryn Bigelow fez uma obra melhor.
Não cheguei a acompanhar o TNT, mas ouvi/li muita gente reclamando dos comentários do Rubens Ewald Filho. Não duvido que sejam pertinentes, até por que sinto muito desdém da parte dele com relação a artistas e filmes. É como se levasse as críticas para o lado pessoal. Mas não estou aqui para julgá-lo, afinal ele é, inegavelmente, um grande profissional.
Quanto à patética exibição da Rede Globo, que desrespeitosamente - e mais uma vez - privou os fãs de cinema de poderem acompanhar a cerimônia por completo - que saudades da transmissão pelo SBT! - e ainda entregou-nos mais notícias de fofoca do que propriamente de cinema. E quanto rancor José Wilker tem de Avatar, não?! Coisa de intelectualoides que só sabem reconhecer o valor de um filme quando ele é pequeno, de baixo orçamento, feito na base de muito mendigamento e privado de várias possibilidades por causa de grana. Um filme tem valor não pelo quanto custou, mas pelo que ele é e não é porque a finalidade dele não é reproduzir pensamentos profundos e pseudocult nas pessoas (o que eu acho que Avatar é capaz também) que ele é menos do que outro. Cada facção do cinema tem o seu valor. Renegar o que Avatar significa para a sétima arte e o que ele pode influenciar daqui para frente é tapar os olhos para uma realidade. Guerra ao Terror ter sido financiado com tão pouca grana (US$ 11 milhões) é um grande feito, mas vá perguntar para Kathryn Bigelow e os outros produtores do filme se eles não gostariam de ter tido mais dinheiro para fazer o filme?
Guerra ao Terror mereceu o Oscar de melhor direção e isso muito significa para o cinema e quebra tabus, a partir do momento que uma mulher leva, pela primeira vez a estatueta. Também mereceu levar o prêmio de melhor filme? Talvez. Tem seus méritos e quer queiram seus detratores ou não, ele inova na linguagem cinematográfica do seu nicho, assim como Avatar, Bastardos Inglórios e Distrito 9 também o fazem e também mereceriam levar o prêmio, que infelizmente, só pode ser entregue a uma obra.
Não vi o filme de Sandra Bullock - me recuso a baixar um filme que está prestes a estrear, como muita gente já fez - e não posso dizer se achei merecido ou não. Mas adorei a escolha de Jeff Bridges como melhor ator, os quesitos coadjuvantes foram igualmente justos e a categoria de filme estrangeiro foi uma grata surpresa. O Segredo dos Seus Olhos era minha aposta mais arriscada de deu certo! Uma pena que as categorias de roteiro não foram justas. O que é o roteiro de Preciosa diante de Amor Sem Escalas, In The Loop ou Distrito 9? O quão original é o roteiro de Guerra ao Terror diante do brilhantismo de Bastardos Inglórios? Estes prêmios demonstram a força que tem uma campanha de marketing numa premiação POLÍTICA como o Oscar.
E a fotografia de A Fita Branca merecia ter ganho de Avatar (mais uma vez, prevaleceu a campanha ao invés do mérito), assim como melhor som e melhor edição de som mereciam ter ido para Avatar, ao invés de irem para Guerra ao Terror.
O Oscar é feito de política, justiças com atraso - tanto com relação a indivíduos específicos quanto a gêneros e raças - e muitas injustiças também. Polêmico, é importante para o cinema, mesmo que não concordemos com suas escolhas. Afinal, é impossível agradar a todos, assim como é difícil não opinar.
É isso. Pronto, falei.
6 comentários:
Concordo com você que não é educado dizer "Guerra ao Terror vence Avatar", mas é que a disputa entre marido e mulher (ops ex)estava tão grande que esqueceram dos outros, principalmente de um gênio incompreendido chamado Tarantino. Ainda assim, gostei do resultado no geral, a cerimônia foi chatinha, mas faz parte, já vi piores. Senti falta da apresentação das canções originais, adorei a apresentação da melhor animação e odiei os resultados de melhor roteiro.
bjs
Infelizmente tive que assistir pela metade na Globo e ainda ouvindo os comentários anti-Avatar do José Wilker. Senti falta da apresentação das canções originais também, mas adorei a homenagem ao John Hughes (que tive que assistir no YouTube já que a Globo não transmitiu). Quanto aos prêmios, acho que você disse tudo, alguns merecidos, outros por marketing e política.
Fred, gostei muito dos seus comentários! Concordo plenamente com sua observação de que há um festejo grosseiro, mais parecendo uma "comemoração da não consagração do filme de James Cameron do que propriamente uma concordância de que Kathryn Bigelow fez uma obra melhor". Acho que isso não tem nada relacionado com qualquer disputa de exs e sim, com alguns egos inflados, bem ilustrados na pessoa do José Wilker.
Bj. Isabel.
Fred concordo com muita coisa que vc disse. Eu não suporto a transmissão com o Rubens Edwald Filho, assisto só a cerimônia no SAP. Agora como esse ano não pude ver pela TNT assisti na Globo e nossa, a transmissão começa pela metade, eles comentam de vestidos das atrizes, e o José Wilker é pior do que o Rubens. Um saco os comentários dele e que ressentimento é esse com Avatar. Na internet em qualquer lugar pseudo-cult era a mesma coisa, raiva de Avatar, só porque um filme que tem efeitos não pode ganhar prêmio? A mesma coisa com os filmes de terror/suspense que nunca mereceram o devido respeito da Academia. Falando nisso não entendi nem o porquê de terem adiado o filme do Scorsese, será que foi pra ele não ser indicado por causa do gênero do filme dele?
E realmente, o roteiro de Preciosa é tão inovadoooor, foi a maior sacanagem com Amor Sem Escalas. E o do Bastardos não preciso nem falar.
No quesito atuação, tirando o filme da Sandra Bullock que eu também não vi, achei todos os prêmios de atuação merecidos, apesar de ter torcido muito pra Vera Farmiga.
E gostei muito do filme do Campannela ter ganho o de filme estrangeiro.
E o que vc falou no final é bem verdade...o Oscar é marketing e lobby no fim das contas. Quem decidem são os velhos judeus e não a gente né? hehehe
Fred concordo em número, gênero e grau com vc! Apesar de nbão ser especialista em cinema, afinal de contas só assisto para me divertir e não analiso coisas técnicas vc sabe, achei a transmissão da Globo o ó! José Wilker dava a impressão de que não tinha visto nada dos filmes e que só estava ali prá fazer par com a outra apresentadora (que aliás não lembro o nome e tudo que fazia era realmente transmitir fofocas dos famosos!) Mas o que realmente me chateou foi eles terem cortado a transmissão sem nenhuma cerimônia, fazer aquela tradução meio porca e nem sequer convidar uma pessoa com um mínimo de amor a 7ª arte e que tenha acompanhado os concorrentes em suas devidas categorias pra fazer comentários pertinentes pelo menos!
Amanda 1 - a "disputa" imposta pela mídia entre marido e mulher foi uma tática que deu certo para ambos os filmes, pois eles ofuscaram a campanha dos outros e polarizaram, provavelmente, os votos. Mas isso só prova que o maior interesse da imprensa é em fofocas e não na sétima arte.
Amanda 2 - não vi a homenagem ao John Hugues, porque também fiquei à mercê da Rede Globo. Vou procurar o vídeo na internet.
Isabel - é exatamente isso. Avatar desperta inveja naqueles que não têm condição de concorrer com algo parecido e que preferem o comodismo de fazer filmes pequenos a encarar o desafio de uma produção tão grande como esta. Se bem que o Wilker, nem querendo conseguiria fazer algo minimamente parecido. Ficou parecendo dor de cotovelo!
Fiu - o filme do Scorsese não foi adiado, até onde sei. Aliás, depois da "justiça" que tentaram fazer aos filmes de suspense/terror, é bem capaz que Ilha do Medo receba algumas indicações no ano que vem. Afinal, a política pede isso!
Marie - você voltou! José Wilker ama a sétima arte e já foi uma escolha mais amena do que Rubens Ewald em outros anos, mas o resentimento dele neste ano, com Avatar, o impediu de comentar dignamente a cerimônia. Já com a Beltrão aconteceu o contrário: ela é uma simpatia, mas não entende o suficiente de cinema para apresentar o Oscar. É só mais um fato para o hall de arrogância da Rede Globo...
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