Depois de servir ao Serviço Naval Russo, o jovem Asa retorna ao bando nômade de sua irmã, na Hunger Steppe (região desértica do Cazaquistão) para iniciar a indesejada carreira de pastor de ovelhas. Ao mesmo tempo, Asa precisa conquistar a única solteira elegível da região: sua misteriosa vizinha Tulpan. Mas ela não gosta dele, por causa das suas “orelhas grandes”. Mesmo desapontado, Asa não desiste e continua sonhando com uma vida que talvez não seja possível naquele lugar.
O diretor Sergei Dvortsevoy demonstra bastante competência em seu primeiro longa metragem e entrega um filme sensível, regional (mas cheio de simbologias universais) e muito interessante do ponto de vista da cultura cazaque.
Com o tom sofrido de Camelos Também Choram e com o ritmo calmo dos filmes iranianos, Sergei utiliza pessoas comuns, para representarem os personagens, que surpreendem pela emoção que passam, de maneira impactante e real. Mas as crianças são insuportavelmente espontâneas: uma grita e a outra canta o tempo inteiro. É o único ponto insuportável do filme.
Existem duas cenas de partos de ovelhas no filme que podem fazer com que algumas pessoas saiam no meio da sessão. São cenas muito fortes e dão ânsia de vômito. Apesar disso, o segundo parto é emocionante e simboliza a libertação do personagem e o alcance da sua almejada autoafirmação. É preciso estômago e coração forte para vê-la.
Um filme que mescla documentário e ficção com tanta sutileza que fica difícil sabermos onde termina um e começa o outro.
Enfim, Tulpan significa para o Asa a esperança de uma vida melhor e abrirá os seus (e os nossos) horizontes.
Um dos filmes mais bonitos que vi em festivais no ano passado e que só agora estreia no circuito comercial.
Vencedor do prêmio Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2008, além de outros: Asian Film Award, Cottbus Film Festival of Young East European Cinema, Dubai International Film Festival, International Film Festival of India, Karlovy Vary International Film Festival, Montréal Festival of New Cinema, Tokyo International Film Festival, Zurich Film Festival, além do British Film Institute Awards.
Trailer:
(idem, Cazaquistão/ Alemanha/ Polônia/ Rússia/ Suíça, 100 minutos, 2008)
Dir.: Sergei Dvortsevoy
Nota 8,4
2 comentários:
Oi Fred. Sou leitora do seu blog e moro em Bsb. Já ate te vi em algumas sessões de filmes! Muito bom o seu trabalho por aqui.Parabens!
Mas o que me faz escrever é na verdade uma coisa que tem me incomodado e pensei que talvez você pudesse me sanar uma duvida. Boa parte dos filmes que eu espero ansiosamente estreiam no Brasil, mas não aqui na capital. Exemplos como Fantastic Mr Fox, A serious man e o proprio Tulpan, pra não fazer uma lista extensa aqui. Por que isso acontece na verdade? E não existe alguma maneira de tentarmos trazer esses filmes para cá?
Desculpe usar os comentários do blog para esse tipo de discussão, mas espero que você possa me esclarecer. Obrigada!
Oi, Naiara!
O que acontece é que esses filmes têm poucas cópias para distribuição no Brasil, por se tratarem de produções menores. Infelizmente, o mercado maior concentra-se no Rio e em São Paulo, então os filmes estreiam primeiro por lá, para depois virem para cá. Muitas vezes demoram tanto a vir que a data de lançamento em dvd fica próxima e eles acabam vindo direto para locadora. As distribuidoras menores não têm escritórios de representação em Brasília e isso dificulta a vinda e a divulgação desses filmes por aqui.
Não que isso justifique o absurdo que é o isolamento da nossa capital, assim como a maioria das outras capitais brasileiras, cujo público é privado de ver filmes tão bons quanto estes que você citou.
É uma pena. Uma lacuna que espero que seja preenchida um dia, especialmente em Brasília, cujo público de cinema é o terceiro maior do país.
E da próxima vez que me vir, pode me cumprimentar. Eu não mordo!
Abraço!
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