É notória a paixão e o respeito de Martin Scorsese pelo cinema. E o que digo não é óbvio. Boa parte das pessoas que fazem cinema, seja no Brasil ou fora dele, não assiste cinema. Com o diretor de Os Infiltrados e Gangues de Nova Iorque, dentre tantos outros, a história é diferente. Ele não só é um dos grandes mestres do cinema atual, como está em constante busca de aprendizado com os outros mestres, sem desdém ou arrogância. Não raramente é possível vê-lo em documentários ou programas que expliquem a história do cinema ou que façam uma análise de tal.
Tal aglomeração de estudos e práticas fica evidente no novo filme de Scorsese, Ilha do Medo.
Em 1954, os agentes federais Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) investigam o desaparecimento de uma interna do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, localizado no ilha Shutter. Chegando no local, eles encontram uma rebelião de presos, devido a um furacão que se aproxima da ilha, o que impossibilita-os de sair de lá.
Usando de referências de filmes de suspense/terror, como O Bebê de Rosemary (Roman Polanski), O Iluminado (Stanley Kubrick), O Sexto Sentido (M Night Shyamalan) e coincidentemente com a dolorosa carga de terror psicológico de Anticristo (Lars von Trier), Scorsese mostra que é capaz de realizar grandes obras em quaisquer gênero que se engaje. A trilha, os enquadramentos, o tratamento dado à fotografia e os diálogos do roteiro são todos muito bem utilizados para criar a atmosfera de um clássico filme do estilo.
Como o personagem de Leonardo DiCaprio tem muitos pesadelos, o diretor aproveita a oportunidade para entregar ao espectador cenas lúdicas com a dose certa de surrealismo e efeitos visuais.
São poucas as pistas soltas sobre o mistério que envolve a ilha Shutter e seu habitantes, o que fará muita gente ficar impaciente por uma resolução dos fatos, já que por boa parte da projeção o roteiro parece não querer que o espectador entenda muita coisa do que está vendo. Mas uma cena crucial elucida o caso, bem ao modo hitchcockiano de encerrar filmes, com cada detalhe (excessivamente) explicado.
Como uma andorinha só não faz verão no cinema, o diretor contou com uma equipe técnica de primeira e com um elenco sensacional, com nomes como Mark Ruffalo, Emily Mortimer, Ben Kingsley, Jackie Earle Haley, Max von Sidow, Michelle Williams e Patricia Clarkson, além da boa atuação de DiCaprio.
Ilha do Medo foi muito bem recebido pelo público norteamericano (já ultrapassou a marca dos US$ 100 milhões de dólares arrecadados), apesar de ter estreado no último Festival de Berlim com certo desdém da crítica – fato não incomum para filmes do gênero.
Se o longa entrará para o hall dos clássicos de terror, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: Scorsese é um mestre e soube bem aproveitar suas referências, os mestres, com carinho.
Trailer:
(Shutter Island, EUA, 138 minutos, 2010)
Dir.: Martin Scorsese
Com Mark Ruffalo, Emily Mortimer, Ben Kingsley, Jackie Earle Haley, Max von Sidow, Michelle Williams e Patricia Clarkson
15 comentários:
o filme é muito chato! é uma pena. Scorsese foi capaz de segurar um excelente suspense na re-filmagem de Cabo do Medo e nesse ... nada.
Scorsese é mestre, mesmo!
Vou conferir em breve... sua crítica me empolgou mais ainda.
Abs!
Prezado Fred, concordo que o filme seja muito bem realizado, e que Scorsese seja um craque da narrativa. Porém, para quem é fã incondicional do classico expressionista alemão "O Gabinete do Dr. Caligari", a principal reviravolta da trama passa de suspeita a certeza em poucos minutos. Em tempo, não estou 'entregando' o filme, a critica em um jornal do Rio já houvera citado o filme de Robert Wiene. Restando assim admirar como Scorsese vai homeopaticamente nos infiltrando na mente de Di Caprio (bom ator), e curtir a tecnica, trilha, elenco (que bom ver o grande Max von Sydow ainda atuando), esfregando as mãos para as inevitáveis explicações do roteiro e, principalmente, engolir seco ou sorrir de canto de boca no arremate, genial, da última cena.
Merece ser visto.
Bruno, assista assim que puder. Acho que você vai gostar!
Mario, não acho que o Scorsese tenha tido a intenção de inserir uma reviravolta na história. O filme parece-me mais uma homenagem às tantas referências dele - "O Gabinete do Dr Caligari" pode ser uma delas - do que propriamente uma intenção de criar algo novo.
De qualquer forma, que bom que gostou do filme!
O filme é péssimo. O final então...
Não percam o seu tempo.
Elaine, como você deve ter percebido, eu discordo. Mas gosto não se discute, não é mesmo?!
Esse filme é fantástico...amei!
Os efeitos visuais, principalmente no primeiro pesadelo que ele tem com a esposa,ótimos os efeitos.
A atuação de Di Caprio...aff...nem se fala, mas logo no começo do filme eu achei o papel de Mark meio apagado. o q vc acha?
Eu daria a mesma nota que vc deu ao filme.
Tb não fui mt fã do fim, mas definitivamente vale uma ida ao cinema. Fora, como Fred já disse, tem varias referencias lá. que deixam o filme bem mais interessante de se assistir.
Sophia, eu achei sensacionais os efeitos visuais, não só por serem bem feitos, mas por mesclarem terror com poesia. Muito bons! O Mark Ruffalo geralmente é mais apagado em seus papéis, mas acho que neste filme isso foi proposital, para que o público não prestasse muita atenção nele. Senão ficaria ainda mais fácil desvendar o "mistério".
Mr Dalloway, quem consegue captar as referências com certeza gosta muito mais do filme. Que bom que você entendeu a proposta do Scorsese.
Eu esperava mais do filme, acho q o final ficou deixando no ar algumas interrogações!
Kalienne, você queria ainda mais explicações? Uau!
Demorei muito para ver, mas a demora foi recompensada.
Filme belíssimo e realmente o Scorsese pra mim é um dos melhores cineastas da atualidade.
Adoro referências a outros filmes e senti muito a atmosfera de O Iluminado como você disse Fred e além dos outros filmes de terror/suspense citados. Agora também o filme fez referência, pelo menos para mim, a um outro clássico Um Estranho No Ninho. Me lembrei muito desse filme do Milos Forman, não pela trama mas pela discussão a respeito da insanidade.
Gostei também das referências aos filmes de Guerra e ao próprio Scorsese.
As atuações muito boas, sem exceções.
As cenas surreais ficaram lindas.
Teve gente que disse, mas não achei o filme nem um pouco previsível. só tem como você disse mais uma refrência...explicações Hitchcockianas.
Outra ótima crítica Fred. Acho legal o jeito que você critica os filmes sem querer se esnobe. São poucos os críticos assim. Parabéns
Fiu, eu também considero o Scorsese um dos melhores em atividade, apesar de não gostar de tudo que ele faça. Acho que a semelhança com Um Estranho no Ninho fica só na temática "insanidade" mesmo.
Muito obrigado pelos comentários e elogios. Não quero, de maneira alguma, ser agressivo ou esnobe. Vejo que atinjo este objetivo, por comentários como o seu.
Abraço!
ele era louco ou nao?
estava sendo enganado?
o misterio do farou era reau?(podi ter um porao onde tinha tortura )
ele estava tumando essas drogas mesmo?
aquela mulher da caverna era miragem?(pois nenhuma outra conseguiu tocar nele pode notar)
me responda por favor
Yuri e Pedro, quanta pergunta! Infelizmente, não sou eu quem vou te dar as respostas. Scorcese quis justamente deixar o filme em aberto, para que cada um formule sua própria versão.
É como querer responder se o peão caiu ou não no final de A Origem...
Abraços
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