Impossível não comparar A Verdade Nua e Crua com A Proposta, principalmente pela proximidade dos dois lançamentos. Pareceu-me que eu estava assistindo ao mesmo filme, só que agora nada delicado e com doses cavalares de grosseria.
Mas a fórmula de ambos é idêntica. Tão idêntica que vou usar o mesmo parágrafo contido na crítica que fiz sobre o recente filme com Sandra Bullock. Eis:
“A história? A mesma de sempre. Duas pessoas que se odeiam têm, por um motivo qualquer, que conviver mais intimamente. Daí o ódio aos poucos vira amor, vem um obstáculo e separa os dois, que agora farão de tudo para ficar juntos e as situações absurdas para que isso aconteça rolarão soltas."
Novamente e só para situar: ela (Katherine Heigl) é a produtora de um programa de tv matutino à beira da extinção. Ele (Gerard Butler) é um apresentador desbocado (odiado por ela) que acaba sendo contratado para elevar a audiência do programa dela. Como a moça é a encruada e o cara é o descolado que sabe tudo sobre conquista, eles fazem um trato pessoal: caso ele consiga arrumar para ela um namorado, ela admite então sua competência. Caso contrário, ele pede demissão. Mas é óbvio que os papéis serão invertidos, pois romances folhetinescos pedem isso. Pronto! Dou um doce (mentira) para quem adivinhar o final do filme.
A abertura com bonequinhos de porta de banheiro já denuncia os estereótipos machistas e reducionistas que estão por vir: mulheres têm o coração na cabeça (são românticas) e homens têm o coração lá-onde-vocês-estão-pensando (querem sexo). É a tal “verdade feia” (tradução literal do título original) que o filme se propôe a mostrar.
O ritmo inicial é acelerado e os diálogos bem diretos, economizando (em termos) o tempo de quem já sabe o que há por vir. Mas as piadas são extremamente grotescas, ultrapassando os limites do mal gosto em vários momentos.
Outro detalhe que não posso deixar de comentar: por que diabos uma produção orçada em U$ 38 milhões economiza com efeitos toscos de cromaqui, como nas cenas no interior do carro e na cena final, uma panorâmica, num festival de balões, com o casal a bordo de um deles? Fora os cenários, cujas árvores são esculpidas em marfim claro (sério!) e parece que a qualquer momento veremos os refletores do estúdio, como nos filmes hollywoodianos da época dos musicais artificiais (não que eu tenha algo contra eles, pelo contrário). É de uma tosquice desnecessária, já que a grana disponível lhes permitia filmar sem elementos falseadores.
Apesar disso e por mais que não queira, preciso admitir que o filme tem seus (poucos) momentos engraçados, mas não passa disso.
Toda a fórmula para agradar ao público feminino está lá. Tanto que há “o cara sarado sem camisa”, os momentos “tchuqui-tchuqui”, a sempre esperada declaração de amor em público e o gran finale (!) em que o casal se beija e vivem felizes para sempre.
A verdade nua e crua que consegui extrair da história é que a tevê está uma decadência só e que Hollywood não perde a oportunidade de arrecadar umas verdinhas.
Se estiverem afim de passar tempo com filmes bobos, pelo menos escolham outro filme. Este aqui está mais para perda de tempo do que para passatempo.
Trailer
A Verdade Nua e Crua
(The Ugly Truth, EUA, 96 minutos, 2009)
Dir.: Robert Luketic
Com: Katherine Heigl, Gerard Butler, Eric Winter
Nota 4,0
Saiba se o filme está em cartaz na sua cidade!*
(o filme estreia nesta sexta-feira, 18-09)
6 comentários:
Fred, acredito que Gerard Butler e Katherine Heigl tem certa química e funcionam melhor que Sandra Bullock e Ryan Reynolds - e tenho dito.
Abração! fica bem!
Tem um selo para você lá no blog. Minha vez de retribuir sinceramente a nossa "parceria"
bjs
Oi, adorei seu blog, mas não encontrei o espaço pra colocar meu endereço de e-mail para receber newsletter...
Bjim
p.s.: meu email é: gabihbi@yahoo.com.br
Fred, realmente é de mau gosto... Mas tenho que confessar que, apesar de já ter assistido vários filmes idênticos, a fórmula me agrada. Gosto de assistir naqueles momentos em que não quero pensar, sabe? Hehehe...
A propósito, dei uma de Fred Burle hoje, muito menos qualificada para tal obviamente, mas falando de filme. Assisti ontem ao documentário Enron: os mais espertos da sala. Esse sim é um daqueles em que o cinema é capaz de educar. Mas será que nós aprendemos? Lembrei-me de você!
E olha que o trailer é legal...
Passando também para avisar que o Cinema O Rama está de cara nova.
abraço
Cristiano, eles podem até ter "certa química", mas isso não quer dizer que o filme seja bom.
Amanda, muito obrigado pelo selo, mais uma vez. Citei-o no post atual, aí em cima. Beijo!
Anônimo, seu pedido é uma ordem! Acabo de inserir no blog essa opção de newsletter. Agora você já pode se cadastrar! =)
Lu, também gosto da fórmula, serve como válvula de escape, esvazia a cabeça! ehehe
Não assisti Enron, mas lembro de ter lido coisas boas a respeito. Não acho que aprendamos e nem acho que devemos confiar piamente no que esses documentários dizem, porque sempre veem cheios de intenções políticas. Mas servem para pensar e isso já é bom. Vou postar esta semana sobre um documentário sensacional, que pode ajudá-la a ter uma noção mais clara sobre como analisar um filme e sobre a ética no documentário. Vale a pena conferir: chama-se Santiago.
Pedro, como eu escrevi no post, o trailer engana. Mudaram o lugar das falas e fica parecendo que é algo, mas no filme é bem diferente. Não confie.
Abraço, pessoal!
Postar um comentário
Concordou com o que leu? Não concordou?
Comente! Importante: comentários ofensivos ou com palavras de baixo calão serão devidamente excluídos; e comentários anônimos serão lidos, talvez publicados, mas dificilmente respondidos.