Está em cartaz há alguns dias este filme peruano, vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim. Um caso raro na cinematografia peruana, já que o país não tem tradição. Mas se você pensa que trata-se de um filme cômico ou esquisito, engana-se imensamente.
A Teta Assustada é um filme delicado, que fala sobre a doença homônima. Os índios creem que é trasmitida de mãe para filhos, através do leite materno, quando a gravidez é fruto de algum transtorno ou ato violento.
Fausta, fruto desse tipo de gestação, cresceu com medo de tudo e de todos, sempre arredia e com olhar cabisbaixo. Para se proteger dos maus tratos que a mãe sofreu, implanta uma batata na vagina.
Sua mãe morre e ela quer dar-lhe um enterro decente, ao invés de enterrá-la no quintal de casa, como sugere o seu tio.
Como Fausta não tem dinheiro, embalsama a mãe e sai à procura de emprego. Consegue um, na casa de uma senhora pianista.
O filme inicia-se com a mãe, já no leito de morte, cantando o estupro que sofreu, durante uma ação do grupo guerrilheiro comunista Sendero Luminoso, no Peru da década de 80. O ritmo é lento e os enquadramentos são chapados, com raros momentos de movimentação de câmera, o que explicita a intenção da diretora Claudia Llosa, de manter um certo distanciamento da protagonista. São enquadramentos duros, mas muito bonitos.
Senti um certa influência dos filmes iranianos, tanto na concepção estilística (árida, lenta e realista) quanto no desenvolvimento do roteiro, que parte de uma ideia simples, mas bastante original e cheia de simbolismo, poesia e delicadeza.
A protagonista é seca, mas percebemos o quanto ela sofre por não ser de fácil socialização, mas não perde a coragem nem desanima diante das atrocidades que a vida lhe reserva. Ela extravasa cantando suas lamúrias, que permeiam as melodias que inventa e que saem da sua boca de forma bela e natural. Mérito da atriz Magaly Solier, bela peruana, de traços exóticos e que acaba de ganhar um kikito de melhor atriz, em Gramado.
Ouvi alguns comentários preconceituosos do tipo: “eu é que não vou assistir um filme com esse título bizarro, eca!”. Não se assustem com o título. Assistam o filme e garanto que farão um programa de muito bom gosto.
Trailer:
(La Teta Asustada, Peru/Espanha, 95 minutos, 2009)
Dir.: Cláudia Llosa
Com Magaly Solier
Nota 8,0
6 comentários:
O título inicial no Brasil seria "O leite da Amargura", mas acabou sendo a tradução literal. Também acho uma bobagem o preconceito com o nome, é um belo filme, com certeza.
Esse filme já está na lista. Assistirei em breve, mas aposto que vou adorar!
Amanda, "O Leite da Amargura" é piegas até o talo! Prefiro a tradução literal mesmo. Pelo menos desperta curiosidade.
Caíque, se puder, assista logo. Pelo menos aqui em Brasília, o filme ficou duas semanas em cartaz e hoje saiu. Uma pena.
Eu estou sutilmente interessado em assistir a esse filme. Acredito que, se não fosse pela mídia em torno desse filme - todos os Blogs falam a respeito -, eu não ia querer conferir um filme cujko título é tão feio. É feio mesmo, não tem atrativo, e olha que eu assisto a filmes cujos títulos são bem incomuns.
Imaginei que o filme demoraria mais para chegar aqui, mas que bom que lançaram logo nos cinemas. Eu é que não tenho previsão de quando terei oportunidade de ver. Espero que logo. Parece ter uma atmosfera bastante carregada, embora as imagens inspiram um toque todo feminino.
Luís, não acho o título feio, acho estranho. Mas gosto de tudo que é diferente e este é um filme bastante diferente, a começar pelo título. Pode assistir que acho que você, como sujeito culto que é, gostará! Abraço!
Rafael, mude de cidade! Os cinemas da sua cidade não te merecem! ehehe
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