Dizem que as histórias estão no ar. Às vezes chego a acreditar nessa máxima, mas o que penso é que, na verdade, as ideias surgem de uma necessidade quase sempre coletiva de tratar de determinados assuntos e/ou pensamentos.
Vencedor do prêmio da crítica no Festival de Veneza, Goodbye... Solo estreia no Brasil pouco tempo depois de termos visto um drama muito parecido, O Visitante. Ambos os filmes retratam o relacionamento de um estrangeiro e um nativo, nos EUA, cuja convivência há de ensinar muito a ambos. Os estrangeiro, nos dois filmes, é um africano que sonha estabelecer “vida nova” na América. O nativo, nos dois filmes, é um idoso em crise existencial. O que move cada um, ou seja, a desculpa para existir, muda de um filme para o outro, mas o que percebo é a necessidade quase que urgente de afirmar o sentimento que se criou com relação aos EUA, particularmente. O que aquele país significa? Para a maioria dos estrangeiros, uma esperança de vida melhor. Para os que cresceram e viram a história ser construída cheia de conflitos (por isso a escolha de um idoso nativo como personagem), uma decepção e mais do que isso, uma descrença de que algo pode melhorar.
Mas atenhamo-nos a Goodbye... Solo. O filme começa de forma bem direta: um senhor pega um táxi e propõe ao motorista que lhe leve, dentro de alguns dias, ao topo de uma montanha da região, denominado “Blowing Rocks”, para que possa suicidar-se. Depois de relutar, o taxista aceita a proposta e vai além. Por estar em crise com a esposa grávida do primeiro filho, vai “morar” no quartinho de motel que o senhor alugara para passar os últimos dias. O relacionamento dos dois é construído aos trancos e barrancos, já que o senhor é discreto e não aceita intromissões do senegalês, que tenta descobrir os motivos que levaram aquele carrancudo senhor a querer se matar.
O roteiro pouco enfoca nas "molas propulsoras", interessando apenas as escolhas cruas dos personagens e isso é de se entender, já que os motivos, se explorados, poderiam levar o filme para um indesejado caminho melodramático e tanto roteirista quanto diretor não demonstram o menor talento para o drama carregado, já que a cena mais folhetinesca do filme (a cena do berçário, na qual o senegalês conversa com a esposa) é a cena mais inverossímil do filme, desde a escolha do bebê até a relação do casal e os diálogos não-críveis.
De resto, as escolhas são acertadas, o ator Souleymane Sy Savane sai-se muito bem na pele do senegalês taxista e a fotografia, particularmente nas cenas de montanhas, parece pintada, de tanta beleza que consegue extrair da paisagem.
Voltando à comparação, se tivesse que escolher, eu ficaria com O Visitante (muito mais simpático e emocionante), apesar de Goodbye... Solo não ser nem um pouco de se jogar fora.
Se o tema abstrato tratado nesses filmes continuar sendo convertido em boas histórias, serão sempre bem vindos, agora, se a repetição continuar e as ideias continuarem sendo captadas nos mesmos ares, aí a diversão vai ficar chata logo, logo.
Trailer:
Goodbye... Solo
(idem, EUA, 90 minutos, 2008)
Dir.: Ramin Bahrani
Com Souleymane Sy Savane, Red West
Nota 7,0
5 comentários:
Ouvi falar por alto desse filme, mas possui uma premissa bastante interessante, embora pareça um repeteco de O Visitante. Mas se for tão bom como esse, deve valer a pena.
Você... tá vivo?
Tô com saudades, coiso.
Tem selo lá no Um Olhar Além da Tela para você !
Abraços .
Fiquei há algum tempo de ver "O Visitante" e acabei esquecendo. Vou aproveitar e ver ambos.
Rafael, não é tão bom quanto O Visitante, mas é bem legal. Vale a pena ver.
Celina, morri e minha alma comenta. hahaha
Veremo-nos em breve!
Gabriel, muito obrigado! Vou lá conferir!
Caíque, é bom que fará um bom exercício de comparação. Depois dê o seu veredicto!
Abraço, pessoal! Obrigado pelos comentários!
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