Escolhido para representar o Brasil no Oscar, Salve Geral estreia com a aura de bom filme (afinal, venceu a disputa com ótimos filmes, como O Contador de Histórias, Feliz Natal e A Festa da Menina Morta) e cercado de expectativa de boa bilheteria, algo que ainda não aconteceu este ano com um drama nacional, mas que o diretor Sérgio Rezende tem experiência em fazer.
O filme conta a história de Lúcia, professora de piano, uma mãe desesperada para tirar o filho da cadeia. Sem dinheiro para pagar o advogado, acaba envolvendo-se com a facção criminosa paulistana denominada Comando (ou PCC), responsável pela onda de terror que invadiu São Paulo no fatídico Dia das Mães de 2006.
A história política é baseada em fatos reais (imagino que todos se lembrem), mas a história central é fictícia. Foi a maneira que Rezende encontrou de mostrar as mulheres por trás do Comando e os motivos que as levam a perder a integridade.
A personagem Lúcia é concebida como uma metáfora à sociedade, que acha fácil julgar as questões sociais, vive numa “redoma”, mas que ao ter uma proximidade grande com aquele mundo, passa a agir como o “sistema” deles impõe e além disso, entende as razões deles e põe em xeque tudo aquilo que a conduzia moralmente, ao ponto de envolver-se inclusive emocionalmente com um dos chefes da organização.
Numa cena crucial, ela conversa com a irmã sobre as barbáries que estão acontecendo na cidade e desabafa: “Só não quero ser juíza de nada.” Uma pena que tal cena tenha sido mal explorada, pois era o momento dos roteiristas/diretor elaborarem melhor a sua visão e principalmente, o momento para Andréa Beltrão arrebatar definitivamente o público com sua interpretação – sensacional, é bom que se diga – mas que não tem uma cena em que realmente emocione, sendo sempre muito dura e amargurada.
O elenco todo está muito bem (composto em sua maioria por atores de teatro), com destaque para Denise Weinberg, no papel de Ruiva, a sujeita que mantém a “fachada” para o Comando e que aproxima Lúcia à organização. Que medo dela!
Outro destaque fica a cargo da trilha sonora, assinada pelo estreante em cinema Miguel Briamonte. A música que permeia toda a ação é bem forte, com ritmo insandecido, com toda a tensão e pulsação que a situação pedia.
Salve Geral é uma megaprodução, bem executada, mas que não passa disso. Falta algo e eu julgo que seja um pouco mais de intensidade, há muita economia. Usa poucas imagens de arquivo, economiza na emoção dos personagens e nas cenas de ação do filme. Ainda que soasse “atração” para o grande público, mais cenas de perseguição, tiroteiro, assaltos e afins não faria mal ao filme. Poderia ser mais “soco no estômago” e menos “água-com-açúcar”.
Certa hora, um dos presidiários diz um dos lemas do Comando: “Nosso grito se espalhará pelo país. Se for para amar, amaremos. Se for para matar, mataremos.” O grito deles espalhou-se por São Paulo e pelo país, mas a julgar pelo que vi, o grito de Salve Geral (o filme) dificilmente ecoará mundo afora, quiçá no Oscar.
Ainda assim, Salve Geral é um bom filme e merecerá se for prestigiado pelo público brasileiro.
Trailer:
Salve Geral
(Brasil, 119 minutos, 2009)
Dir.: Sérgio Rezende
Com Andréa Beltrão, Denise Weinberg
Nota 7,0
* a partir de sexta-feira, 02/10.
4 comentários:
Parabéns pela entrevista Fred, ficou excelente. Já o filme 'salve geral' não conseguiu salvar nem a si mesmos. huahauaauha, muito fraquinho.
Parabéns pela entrevista Fred, ficou excelente. Já o filme 'salve geral' não conseguiu salvar nem a si mesmo. huahauaauha, muito fraquinho.
Muito obrigado, "anônimo"!
O filme não é ruim, vai...
Mas está longe de ser uma grande obra.
Abraço!
O Trailer é interessante pena não dizer o mesmo do filme, Rezende é um diretor corajoso de encarar um roteiro desse, A trilha até que se sobre sai nos momentos Stoyboard do filme, más se perde ao acompanhar o roteiro.
Valeu Burle pela oportunidade de comentar.
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