Tem uns filmes que eu sempre postergo assistir, não sei o porquê. Acabo assistindo-os, por um “acidente de percurso”. Foi o que aconteceu com Casa de Areia e Névoa. Talvez não fosse mesmo o caso de ter urgência em assisti-lo, mas pelo menos foi interessante e me envolveu.
Trata de um desses casos que causam revolta em quem assiste, pelo estrago que uma atitude arrogante do Governo pode fazer na vida das pessoas.
Kathy (Jennifer Connely) sofre profunda depressão por ter sido abandonada pelo marido. Por causa disso, passou a viver escondida em casa. Acaba expulsa pelo governo, sob o pretexto de que não pagava seus impostos. Antes mesmo que ela recorresse para conseguir retomar seu bem, a casa é vendida a “preço de banana” para os Behrani, uma família de imigrantes iranianos, cujo chefe (Ben Kingsley) o fez com a intenção de vendê-la posteriormente pelo quádruplo do preço, a fim de restabelecer sua vida financeira. Como não consegue a ajuda que esperava da advogada, Kathy resolve fazer suas próprias tentativas de retomar sua propriedade, mas obviamente encontrará a resistência e a hostilidade do Sr Behrani.
O que mais perturba é que ambas as partes interessadas não sabem como resolver o caso, mas como as autoridades desprezam seus pedidos, eles começam um confronto pessoal às escuras e acabam tomando atitudes estúpidas e burras, que, no caso de Kathy, ainda conta com a ajuda de seres externos, como o policial que conhecera no dia da expulsão e que acaba tendo um romance com ele, que é casado.
Além da questão da posse da casa, está também em pauta o tratamento dispensado aos imigrantes nos EUA.
O roteiro é baseado no best-seller de André Dubus III, que depois de uma pesquisa, descobri que ele recusou mais de 100 (!) ofertas de diversos estúdios para adaptarem sua história. Fiquei imaginando: com tantas ofertas, esperava-se que o roteiro escolhido fosse uma obra-prima, mas esse não chega nem perto disso, é apenas regular. Coitado do autor! Deve ter lido tanta podreira... Mas pelo visto gostou desse, já que até uma ponta ele faz no filme (vi o nome dele nos créditos de elenco, mas não reparei em que momento aparece). Só não consigo entender, mais uma vez, por que diabos esse povo cisma em colocar os personagens estrangeiros para falar em inglês entre si. Não faz sentido e isso, para mim, é motivo de perder muitos pontos.
O filme tem sustentação maior nas interpretações, principalmente de Ben Kingsley, um ator competente e que nos faz crer que ele realmente é um iraniano. A cenografia também é de muito bom gosto e adequada ao clima sóbrio do filme, que é ainda ajudado pela boa fotografia de Roger Deakins (dono de um currículo invejável), com ênfase na névoa citada no título, que envolve a casa, dando um tom sombrio, como se tudo estivesse caminhando para a mais completa decadência. Além da trilha sonora, indicada ao Oscar.
Quase deixei de gostar do filme a partir de determinado momento, quando a história beirou o grotesco e parecia que tudo ia desandar, não fossem os fatos justificáveis pelo rolo compressor de ignorância mútua que toma conta dos personagens, que, em meio ao desespero, fazem uma escolha errada atrás da outra, culminando num final inimaginável no início do filme, mas que fica previsível no decorrer do filme.
Casa de Areia e Névoa é um bom filme, mas é mais indicado para aqueles que gostam dos “baseados em fatos reais” absurdos que pipocam por aí.
Achei interessante colocar os links de duas críticas completamente opostas sobre o filme. A positiva é do Omelete e a negativa do Contracampo. Fiquem à vontade para escolher a de vocês. Eu fico com o meu meio termo!
Trailer (sem legendas):
(House of Sand and Fog, 126 minutos, EUA, 2003)
Direção: Vadim Perelman
Roteiro: Vadim Perelman e Shawn Lawrence Otto, baseado em livro de Andre Dubus III
Produção: Michael London e Vadim Perelman
Música: James Horner
Fotografia: Roger Deakins
Com Ben Kingsley, Jennifer Connelly, Ron Eldard, Shohreh Aghdasloo
Nota 7,5
6 comentários:
Eu não sei direito qual a minha opinião... Sei que foi um filme que me emocionou bastante quando o vi, mas não parei para pensar tanto sobre ele, quem sabe não o faça agora..
Abraços...
Não sei se seria um boa você revê-lo. É um bom filme, mas não para ver outras vezes.
Gaste tempo com algo novo! =)
Abraço!
Acho "Casa de Areia e Névoa" um filme marcante. Primeiro pelas atuações - todos estão ÓTIMOS. Segundo pela pesada história. E terceiro pela direção do Vadim Perelman! Sem falar da trilha do James Horner, claro.
Você citou exatamente os bons pontos do filme, Matheus.
Resta saber se o diretor vai continuar mostrando bons trabalhos ou se foi só sorte de principiante...
Naum tem dublado
7,5???
Porra...Q crítica ridícula! o justo era 9,5!
Postar um comentário
Concordou com o que leu? Não concordou?
Comente! Importante: comentários ofensivos ou com palavras de baixo calão serão devidamente excluídos; e comentários anônimos serão lidos, talvez publicados, mas dificilmente respondidos.