Demorou até que Abbas Kiarostami, principal diretor iraniano da atualidade, saísse do seu país para contar histórias em outras paisagens. Resolveu fazê-lo com um roteiro sobre relacionamentos e sobre o que é autêntico ou reles cópia.
O cenário escolhido para a discussão foi a região da Toscana italiana, cuja beleza contrasta com a falta de romantismo em que viverá a dupla principal do filme. Ali, a rotina tranquila do povoado inspira a instropecção.
James Miller é um escritor que ganhara renome com o lançamento do seu novo livro, Copie Conforme, prêmio na Itália como o melhor estrangeiro do ano. Elle é uma admiradora e questionadora do trabalho dele e comparece à uma palestra que ele deu na cidade, às vésperas de sua volta para a Inglaterra. Impedida pelo filho de assistir a palestra, Elle convida James a fazer um passeio por Lucignano, na Toscana. O escritor aceita o convite.
A conversa entre os dois inicia-se como relação ídolo-fã e aos poucos transforma-se em discussão de relacionamento, como se fossem marido e mulher, numa construção de relacionamento que nunca fica clara. E isso não importa.
O interessante é a brincadeira que Kiarostami faz sobre o que é autêntico ou cópia, entre o real e o irreal, entre o que tem ou não valor e intensidade na vida. Ele mesmo coloca na boca de um dos seus personagens, à certa altura: “não há nada de simples em ser simples”. É a síntese desta sua nova obra. Não é simples entendê-la e não é simples gostar dela.
Como este é um filme sobre um casal (ou pseudocasal), era preciso encontrar atores que segurassem o abacaxi com vontade. Juliette Binoche (O Paciente Inglês) o fez como nunca. Está entregue e naturalmente bela. Em contrapartida, o estreante em cinema William Shimell entrega uma atuação apática, antipática e ofuscada pela experiente parceira.
O longa possui sequências ótimas, como a discussão bilíngue entre o inglês e a francesa; a forma com que a personagem feminina se mostra cheia de camadas, mas nunca perde a coragem de enfrentar o outro, denotada pelos olhares diretos constantes para a câmera, são desconsertantes.
O problema é que nem sempre competência e boa execução é sinônimo de genialidade. O diretor faz, sim, um bom filme e sua proposta é clara, mas seu ritmo é insosso. Ao contrário de sua obra de maior valor, “Gosto de Cereja”, não é prazeroso assistir “Cópia Fiel”.
Kiarostami construiu uma relação ambígua e fiel como a uma relação real, original, mas convenhamos: discutir relacionamento é chato e fica ainda mais massante quando se é apenas o espectador.
Trailer:
(Copie Conforme, França/Itália/Irã, 106 minutos, 2010)
Dir.: Abbas Kiarostami
Com Juliette Binoche, William Shimell
Nota 6,0
4 comentários:
Hahaha, genial o final do seu texto: "mas convenhamos: discutir relacionamento é chato e fica ainda mais massante quando se é apenas o espectador."
Andarilho, muito obrigado! Inspiração advinda do conhecimento de causa!
O PROBLEMA ´E JUSTAMENTE ESSE ..".SER APENAS UM ESPECTADOR."..
sE FOSSE ALGUÉM QUE VIVE A VIDA E NÃO SÓ A OBSERVA ENTENDERIA - OU SENTIRIA, FRUIRIA MELHOR...
SiNTA MAIS...Há momentos de só sentir, mesmo sem saber a razão e o porque^....
moreira.penha - Pra que tanto grito? Estou até surdo agora... Quanto ao filme, eu bem que senti, mas não gostei nada do que senti (e sabendo a razão e o porquê).
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