Em declaração, os documentaristas Tim Hetherington e Sebastian Junger disseram que sua intenção, ao fazer Restrepo, era retratar a rotina dos soldados numa guerra, com todo o tédio e medo que estes vivenciam num campo de batalha. Assim, os cineastas passaram um ano acompanhando um grupo de soldados que servia os EUA na Guerra do Afeganistão, na região deste país denominada Vale do Korengal.
A base militar onde estavam os soldados do filme foi tida como uma das mais perigosas bases norteamericanas no Afeganistão e seu nome foi dado em homenagem ao médico do batalhão, Restrepo, que morreu em serviço.
Como uma versão real de Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2009), Restrepo só intenciona mesmo seguir os soldados, sem a necessidade de fazer uma análise explícita da guerra, ou seja, sem entrevistar autoridades dos EUA ou tentar ouvir líderes talibãs. Mas ouve os soldados, que dão suas entrevistas e relatam suas experiências e sentimentos em relação aquele período.
Assim, o filme assume sim, um lado. O lado destes soldados, que querem se vangloriar de ter servido a pátria e querem se vitimizar por participar de momentos tão crueis. Alguns parecem ter orgulho de sua contribuição à nação, outros demonstram tristeza e arrependimento. O fato é que só eles têm o direito de se expor. Os soldados e a população do outro lado da guerra não são ouvidos e temos ali apenas um lado da moeda. Mesmo assim, é possível extrair qualidades e defeitos dos soldados, especialmente nos momentos em que a câmera capta sua rotina, sem entrevistá-los.
Aqueles homens parecem não ter tanta vontade de estar ali e comemoram quando recebem a notícia de que em breve irão embora. Em um momento de guerra ativa, eles se revelam desesperados com a possibilidade de perder algum dos seus companheiros e ali deixam toda a sua fragilidade à mostra, sem nenhuma máscara. É quando se mostram humanos e não máquinas a serviço do país.
Mas não há como sentir pena deles. Eles também optaram por ir para lá, mesmo não tendo noção real do que os esperava. E mais: se mostram verdadeiros animais com sede de vingança e comemoram imensamente – e gritam e xingam odiosamente – quando matam um dos soldados inimigos.
O maior mérito do filme pertence aos cineastas, corajosos de passarem um ano inteiro num lugar tão perigoso, em prol de mostrar seus registros para o mundo. Mas é difícil acreditar que existem herois numa guerra ou que existe alguma justificativa plausível para a existência dela, ainda mais depois de assistir a um filme como estes - não que seja necessário assistí-lo para tirar qualquer conclusão neste sentido.
Também é difícil sentir alguma simpatia pelo filme, que causa mais indignação do que admiração. Restrepo é filme para ser visto uma vez só e depois estocado numa prateleira empoeirada da memória, junto de uma penca de outros filmes que tratam do mesmo tema, com as mesmas opiniões e cenas, que ninguém tem mais vontade de ver.
Trailer:
(idem, EUA, 93 minutos, 2010)
Dir.: Tim Hetherington e Sebastian Junger
Nota 6,0
1 comentários:
Dito e registrado, Mau.
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