A pressão em cima de “Tron – o Legado” era grande pelo fato de o primeiro ter sido um marco para o cinema, um dos primeiros a usar recursos tecnológicos como parte da narrativa. Muitos esperavam que a sequência tivesse o mesmo impacto, mas como exigir de um filme tamanha revolução, diante das centenas de obras que usam tão bem os efeitos visuais?
É bem verdade que, se o novo Tron entregasse uma história inteligente ele já se destacaria em meio às baboseiras que costumam usar toneladas de efeitos para atrair o público. Mas escrever uma boa história que desse sequência a algo que já não era bom – o primeiro é cultuado, mas definitivamente tem um péssimo roteiro – era tarefa árdua.
Os roteiristas Edward Kitsis e Adam Horowitz (ambos da série Lost) tentaram, mas não conseguiram ir muito mais além do que a superficialidade entregue pelo original de 1982. O argumento é bem construído, mas os diálogos são de doer na alma.
Tudo se inicia com uma conversa entre Kevin Flynn (o protagonista da primeira parte, novamente interpretado com competência por Jeff Bridges) e seu filho, Sam (Garrett Hedlund, fraquíssimo), em meados dos anos 80. Kevin desaparecera do mundo real e anos depois, Sam descobre que o pai ainda está vivo, dentro de um programa de computador. Sugado para dentro do mesmo universo, Sam reencontra o pai e juntos tentaram escapar de lá.
O fiapo de história consegue entregar alguns poucos momentos de reflexão filosófica, mas o que mais interessou ao estúdio foi a possibilidade de usar aquele pretexto para deitar e rolar com o uso dos efeitos. E foi isso que fizeram: sob a direção do estreante Joseph Kosinski, que antes trabalhava no departamento de CGI da Disney, “Tron – o Legado” é um show de pirotecnia e psicodelia, que abusa do neon para hipnotizar o espectador, que diante de tanto pisca-pisca pode nem perceber onde se encontra o maior trunfo visual do filme: a reconstituição facial de Jeff Bridges como há quase vinte anos. Sua versão jovem computadorizada é rica em texturas, rugas e expressão facial e são poucos os momentos em que fica claro que aquilo não passa de uma animação.
É difícil prever como tais efeitos surtirão numa tela normal de cinema mas, se vistos numa boa tela 3D e/ou IMAX, proporcionarão uma grande viagem ao espectador. Uma grande rave ao som alucinógeno da dupla francesa Daft Punk, que assina a trilha sonora e ainda faz uma pequena aparição no filme. Tão bom quanto o seu som, somente a atuação neurótica de Michael Sheen – a própria reencarnação do espírito “sexo, drogas e rock 'n' roll” oitentista.
Trailer:
(Tron Legacy, EUA, 125 minutos, 2009)
Dir.: Joseph Kosinski
Com Jeff Bridges, Michael Sheen, Garrett Hedlund, Olivia Wilde
Nota 8,0
4 comentários:
É por aí mesmo, uma viagem imagética com uma história rasa. A trilha de Daft Punk é muito boa também.
Amanda, a trilha do Daft Punk é o coração do filme. Não fosse ela, o ritmo seria perdido e tudo teria menos graça. Muito boa!
Depois de contabilizar os defeitos do filme ele ainda tem nota 8? Jura?
Dada, juro. Os defeitos do filme, como relatados, são pequenos diante das suas qualidades. A visão positiva da crítica está bem clara, não?!
Abraço
Postar um comentário
Concordou com o que leu? Não concordou?
Comente! Importante: comentários ofensivos ou com palavras de baixo calão serão devidamente excluídos; e comentários anônimos serão lidos, talvez publicados, mas dificilmente respondidos.