Quando Sofia Coppolla ganhou o Leão de Ouro em Veneza, muitos críticos torceram o nariz para decisão do júri, alegando que o resultado fora influenciado por Quentin Tarantino, presidente daquele júri, ex-namorado e amigo da diretora. Seria de se suspeitar, claro, mas após assistir o filme, cheguei à conclusão de que tudo não passou de despeito. Somewhere possui todos os méritos para ter arrebatado o prêmio.
Quarto longa da diretora, o filme retrata a mudança definitiva que um filho pode fazer na vida de uma pessoa, especialmente se esta pessoa for como Johnny Marco (Stephen Dorff), um ator de Hollywood que leva uma vida desregrada e vazia, perdido em meio à riqueza que a fama lhe proporciona. A primeira cena representa bem o seu momento: ele corre com seu carro turbinado em uma pista circular, em algum lugar deserto e, quando para, sai do carro, olha ao seu redor e nada nem ninguém vê.
Prestes viajar para o lançamento de seu próximo filme na Itália, Johnny é surpreendido com a visita da filha de 11 anos, Cleo (Elle Fanning), que precisará ficar com ele por alguns dias, até que sua mãe volte de uma viagem repentina. A solução é levar Cleo para a Itália, mas será difícil esconder da menina o estilo de vida que ele leva.
O argumento é igual a muitas comédias clichês que vemos por aí, mas o seu desenvolvimento e a forma sutil como a linguagem cinematográfica é utilizada é que surpreende e o faz passar longe de ser mais do mesmo.
A transição da futilidade inconsequente e descompromissada para a maturidade paterna é gradativa, natural, emotiva e reveladora, como deve ser.
Stephen Dorff encontra em Johnny Marco o melhor papel de sua carreira e não desperdiça a chance, com uma atuação decente. Ao seu lado está Elle Fanning, a grande revelação do longa. A menina se mostra tão ou mais promissora que a irmã Dakota e encanta com seu sorriso ingênuo e sua atuação espontânea. São dela os melhores momentos do filme.
Economizando nos diálogos e abrindo mão do uso de artifícios redundantes de sobreposição ou intercalagem para se explicar, Sofia Coppolla pensou bem as suas imagens e tornou-as autossuficientes. Ela está à vontade para manipular suas imagens e, talvez por isso, faça parecer que existem ali alguns pontos semelhantes com sua vida, afinal, aquele é um mundo com o qual Sofia está mais que habituada a conviver.
Somewhere é Sofia Coppolla em versão intimista plus, voltando à direção segura depois do desvairado feitio de Maria Antonieta e seguindo em frente em sua carreira cada vez melhor constituída.
Os tempos de porraloquice, por mais divertidos que sejam, passam para (quase) todos e a maturidade pode se mostrar mais interessante e realizadora.
Trailer:
(Somewhere, EUA, 98 minutos, 2010)
Dir.: Sofia Coppolla
Com Stephen Dorff, Elle Fanning
Nota 9,0
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