Crítica: Eu Matei Minha Mãe

Geralmente, um diretor de cinema estreia na função, em longas metragens, somente após os trinta anos de idade... e olhe lá. Por isso, é de se admirar que um jovem com apenas vinte e um anos já esteja na sua terceira incursão no formato.

O canadense Xavier Dolan não só conseguiu o feito como o fez muito bem, a ponto de ganhar 17 prêmios em festivais, três deles em nada menos que Cannes 2009, por este filme. Na época desta produção, o diretor tinha apenas 19 anos.

Além de dirigir, Xavier produziu, escreveu e atuou no longa, que conta uma história semi autobiográfica (!), na qual o adolescente Hubert vive, aos 16 anos de idade, uma crise de relacionamento com a mãe. Eles se tratam de maneira histérica, sempre brigando e raramente têm momentos calmos, de uma família normal. Além disso, Hubert nunca contou para sua mãe sobre sua homossexualidade.

Sem absolutamente nada de inovador como argumento, o roteiro ganha força nos diálogos intensos e naturais, sem apelações para cenas chocantes ou lições de moral. É honesto até nos momentos de óbvia parcialidade, quando fica clara a visão que o diretor tem da própria mãe, pintando-a cheia de defeitos e poucas qualidades.

A explicação do curioso título vem logo no começo e sistematicamente o tema de “matar a mãe” retorna, como se fosse uma necessidade psiquíca de autodefesa ou tentativa de libertação.

A excelente fotografia muitas vezes recusa o convencional ao enquadrar os personagens assimetricamente, colocando-os no extremo limiar da tela; em outros momentos revela uma grande influência da nouvelle vague, especialmente nos trechos de depoimentos do protagonista, focado (e desfocado) em preto e branco, em planos próximos nos quais ele conversa com a câmera. Nestes momentos, a figura do ator sobressai-se à do personagem, denotando a sinceridade e provável veridicismo daquelas falas.

Com todo o cuidado técnico, que inclui uma trilha sonora primorosa, não é de se estranhar o sucesso de crítica que o filme fez, assim como não será de se estranhar se este garoto Xavier Dolan se torne, daqui há alguns poucos anos, um dos diretores mais cultuados da atualidade.

Eu Matei Minha Mãe é um excelente retrato do fim de uma etapa da vida (o de “matar a mãe” para ser independente). Fim que, neste caso – mas que nem em todos os casos – representa um belíssimo começo.

Trailer:

Eu Matei Minha Mãe

(J'ai Tué Ma Mère, Canadá, 96 minutos, 2009)

Dir.: Xavier Dolan

Com Xavier Dolan, Anne Dorval, François Arnaud, Suzanne Clement

Nota 8,5