Ancine lança programa de expansão do parque exibidor brasileiro

A ANCINE (Agência Nacional do Cinema) lançou, dias atrás, um programa ousado de ampliação do parque exibidor brasileiro.

“Cinema Perto de Você” é um programa que visa incentivar e acelerar a criação de novas salas de cinema no país, especialmente nas regiões norte e nordeste e nas cidades do interior que ainda não possuem cinemas.

Trata-se de uma ação coordenada pelo Ministério da Cultura – MinC e pela Agência Nacional do Cinema – ANCINE, em parceria com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e social – BNDES e o Ministério da Fazenda. As ações foram planejadas para o período 2010-2014, embora envolvam efeitos que ultrapassam esse período.

O Programa se organiza em torno de um conjunto de mecanismos e ações diversificadas. Haverá linhas financeiras para estimular os empreendimentos privados, além de recursos para a abertura de salas por Prefeituras e Governos Estaduais. O programa institui instrumentos de desoneração fiscal, visando à redução dos custos dos investimentos e da operação dos complexos. Articula, também, ações regulatórias e de estímulo à digitalização.

São cinco eixos principais de ação: linhas de crédito e investimento; Projeto Cinema da Cidade; medidas de desoneração tributária; sistema de controle de bilheteria (importantíssimo e que não é feito com rigidez atualmente); e digitalização do parque exibidor.

O Brasil já teve um parque exibidor vigoroso e descentralizado: quase 3.300 salas em 1975, uma para cada 30.000 habitantes, 80% em cidades do interior. Desde então, o país mudou. Quase cento e vinte milhões de pessoas a mais passaram a viver nas cidades. A urbanização acelerada, a falta de investimentos em infraestrutura urbana, a baixa capitalização das empresas exibidoras, as mudanças tecnológicas, entre outros fatores, alteraram a geografia do cinema. Em 1997, chegamos a pouco mais de 1.000 salas.

Gráfico quantitativo de salas de cinema no Brasil (1971-2009):

É uma triste realidade este gráfico. Para chegarmos à mesma proporção dos áureos anos 70, precisaríamos ter um circuito com mais de 6 mil salas de cinema, um número três vezes maior do que o que temos hoje. Felizmente, a quantidade de salas, bem como o público, tem crescido, apesar de ainda não ser num ritmo satisfatório, pois os custos de instalação de uma sala são muito altos – uma sala comum custa, em média, R$ 1,2 milhão de reais para ser construída – e o risco de baixo retorno é grande.

Com a expansão dos shopping centers, a atividade de exibição se reorganizou. O número de cinemas duplicou, até chegar às atuais 2.200 salas. Esse crescimento, porém, além de insuficiente (o Brasil é apenas o 60º país na relação habitantes por sala), ocorreu de forma concentrada. Foram privilegiadas as áreas de renda mais alta das grandes cidades. Populações inteiras foram excluídas do universo do cinema ou continuam mal atendidas: o Norte e o Nordeste, as periferias urbanas, as cidades pequenas e médias do interior.

Geografia atual do parque exibidor brasileiro:

É visível, pelo mapa, a concentração das salas de cinema em grandes centros urbanos e, se analisarmos cada um destes pontos, veríamos que o acesso a estas salas é restrito a classes mais abastadas, tanto pela localização quanto pelos preços.

As metas do novo programa são interessantes e incluem a criação de 600 novas salas até 2014; nenhuma cidade com mais de 100 mil habitantes deverá ficar sem cinema (esta meta é sensacional); crescimento de 30% na venda dos ingressos e digitalização de metade das salas do país.

O programa é muito bom e possui um discurso antropo-filosófico muito bonito. Resta saber se conseguirá cumprir suas metas e será bem fiscalizado.

Mais informações podem ser obtidas na página do programa, no portal da Ancine: http://www.ancine.gov.br/cinemapertodevoce/index.html