Esporadicamente, surge no cinema algum filme protagonizado por um portador de Síndrome de Down. Em 1998, o francês “O Oitavo Dia” comoveu quem o assistiu e fez relativo sucesso no Brasil. Recentemente, o tema foi também tratado em uma novela das oito. Agora é a vez do cinema espanhol abordar o assunto, com “Eu, Também” (Yo También, no título original).
O ponto em comum destes trabalhos é a tentativa de mostrar o quanto os portadores desta anomalia cromossômica são capazes, desde que tratados da forma correta desde criança.
“Eu, Também” parte do princípio institucional de inserção social e dos direitos dos portadores de Síndrome de Down. Assim, vemos sequências de aulas de dança, cuja função será explicada um pouco depois, com a inserção de uma trama paralela.
Como trama principal, o acompanhamento de Daniel, primeiro portador da síndrome a obter o diploma de ensino superior na Europa. Em seu primeiro dia de trabalho em um departamento de assistência social, Daniel apaixona-se por Laura, uma colega de trabalho. Os dois criam fortes laços de amizade, o que causa temor na família dele, pelos desdobramentos que o relacionamento pode tomar.
Lola Dueñas (Volver; Mar Adentro; Fale Com Ela) e o estreante Pablo Pineda ganharam por seus papéis neste filme os prêmios de melhor atriz e melhor ator no Festival de San Sebastian de 2009. Merecidamente, diga-se de passagem. Eles se entregam para os personagens, e entre si, numa impressionante química, formando um casal cativante.
É do foco na relação dos protagonistas que vem o grande mérito do filme, que também aborda ainda – e também com sutileza – a paixão entre dois jovens (ambos portadores de Down), através da já citada trama paralela, que serve como segundo questionamento: é possível – ou seja “aceitável” a melhor palavra – um Down apaixonar-se e ter um caso com uma pessoa sem a anomalia? E num romance entre dois portadores, ambos têm dissernimento para fazer suas próprias escolhas?
À parte a anomalia ser utilizado como um diferencial, todo o resto da construção de roteiro é baseada no mesmo velho arco dramático de centenas de outros filmes: Daniel é o mocinho coitado que se apaixona pela mulher “desvirtuosa”, que acha que não tem mais salvação e que acha que não pode, não deve e talvez não queira assumir nenhum affair com o mocinho. E por aí vai.
Pelo menos a trama desenvolve bem, o tema é tratado com respeito, boas sequências garantem as risadas e as lágrimas do espectador e a trilha cumpre o seu papel de encher-nos os ouvidos de músicas-para-nos-fazer-sentir-felizes.
De realmente diferente, há o clímax, resolvido com uma elipse pouquíssimo utilizada nestes momentos e que resolve de forma inteligente a sequência.
Se não atinge o patamar de obraprima, ao menos (o filme) cumpre com destreza aquilo que se propõe.
Trailer:
(Yo También, Espanha, 103 minutos, 2009)
Dir.: Antonio Naharro, Álvaro Pastor
Com Pablo Pineda, Lola Dueñas
Nota 7,5
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