Diretor do elogiado Dias de Glória, Rachid Bouchareb não conseguiu empolgar com seu mais recente filme, Destinos Cruzados. O mesmo levou dois prêmios no Festival de Berlim de 2009 (Urso de Prata de Melhor Ator e Menção Especial do Júri), o que já é significativo, para um filme que não não sai do lugar em momento algum.
A história gira em torno de Elisabeth e Ousmane. Ela, cristã fervorosa, mora sozinha próximo ao Canal da Mancha, cuidando da lavoura, após ter perdido o marido numa guerra. Ele, muçulmano, guarda florestal na França, também não possui um núcleo familiar bem constituído. Ambos têm filho morando em Londres, a estudo.
Depois de um atentado terrorista em 2005, em que um ônibus foi explodido em plena capital inglesa, Elisabeth e Ousmane partem para lá em busca dos filhos, que não dão sinal de vida há alguns dias. Ao chegar, descobrem que a filha dela e o filho dele mantinham um relaciomento.
Apesar de entregar uma excelente atuação, Sotigui Kouyaté – falecido em abril deste ano, aos 73 anos – não consegue superar a antipatia causada pela construção da personagem na outra ponta da história.
Pelo roteiro e na pálida interpretação de Brenda Blethyn, a mãe Elisabeth – talvez propositalmente, mas inadequadamente – passa a imagem de tudo de ruim que pode haver numa mulher: amargurada, preconceituosa religiosa e racialmente, não enxerga nada além do próprio umbigo e, por causa disso, nunca percebeu o que se passava com a filha.
É duro assistir um filme cuja protagonista é tão seca e ressentida com a vida, sem nenhuma perspectiva e vontade de mudar a situação. Ainda mais duro é saber que aquele tipo existe aos montes por aí.
O roteiro falhoso e a direção pesada de Rachid Bouchareb, aliados a uma montagem chapada, constituem um filme sem fluidez, cujas mudanças de temperamento da protagonista acontecem repentinamente e sem naturalidade, só encontrando algum respiro e sutileza na simpatia e serenidade de Sotigui Kouyaté.
Com tudo isso, a hora e meia do longa parece ainda mais longa e quando chega o final, o impacto é mínimo diante da vontade de terminar a sessão.
Trailer:
(London River, Inglaterra/França/Algéria, 87 minutos, 2009)
Dir.: Rachid Bouchareb
Com Brenda Blethyn, Sotigui Kouyaté
Nota 4,5
3 comentários:
Ótima crítica Fred. Em Dias de Glória o preconceito é um tema desenvolvido de forma interessante, embora eu perceba na direção de Rachid Bouchareb uma densidade entorpecente, apesar de impactante. Eu acho a Brenda Blethyn uma ótima atriz, desde "Little Voice" e "Pride & Prejudice", por sua vitalidade cênica. Se em "Destinos Cruzados" ela perdeu a naturalidade eu confeço não ficar inclinado a assistir.
A história parece ser extremamente interessante e fiquei curioso em conhecer, mesmo você citando que o longa é mal desenvolvido.
Abraço
Dan Jung, mui obrigado! Eu confesso nunca ter reparado na Brenda Blethyn antes. Mas se você já conhece-a melhor, talvez possa perceber se ela está aquém das suas outras interpretações ou não.
Hugo, o argumento é bom. Pena que foi desperdiçado.
Abraços
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