Vencedor dos prêmios de Melhor Filme (Público) e Melhor Atriz (Nanda Costa) no Festival do Rio, Sonhos Roubados vem para retratar o cotidiano de três amigas que moram em uma favela carioca.
Jessica, Sabrina e Daiane têm sonhos de consumo que não poderiam realizar tão cedo pelos meios comuns e encontram na prostituição uma forma de satisfazer seus desejos materiais. Uma é mãe e enfrenta problemas de guarda da filha por causa da sogra. A outra tem 14 anos, sofre assédio do tio e sonha em fazer uma festa de 15 anos. A terceira é sozinha, mas encontra num perigoso “amor repentino” uma esperança de constituir família.
O longa é baseado no livro “As Meninas da Esquina”, de Eliane Trindade – que também adaptou a história para o cinema – e é dirigido por Sandra Werneck, que já emplacou sucessos como Pequeno Dicionário Amoroso, Amores Possíveis e Cazuza. Sandra mantém a regularidade dos seus filmes anteriores, mas ainda não conseguiu realizar uma obra realmente impactante. Mais uma vez, ela dirige bem o seu elenco – com destaque para Marieta Severo, que carrega suas cenas “nas costas” –, mas esquece de trabalhar melhor algumas cenas.
É difícil acreditar em tudo o que se vê até um pouco mais da metade do filme. As cenas mal desenvolvidas tiram o crédito da história e as problemáticas são mal resolvidas. Falta força dramática, o que nos remete a outros filmes irregulares como Antônia e Anjos do Sol, além de falas pré-estabelecidas, cujas gírias soam ultrapassadas ou no mínimo artificiais. Não é como em As Melhores Coisas do Mundo, cuja naturalidade é imensa e os atores incorporaram às suas falas as expressões do seu cotidiano. Aqui, as três meninas protagonistas, assim como o preso (MV Bill) parecem apenas repetir o que está escrito no roteiro. Eu, pelo menos, não acreditei na verdade deles.
A história só começa a funcionar após muito tempo, depois que as “verdades” já foram enfiadas guela abaixo do espectador. Aí a coisa flui, mas já tarde para que o filme alcance voos maiores.
Na parte técnica, Walter Carvalho (um dos nossos mestres da fotografia) realiza mais um consistente trabalho, mas o filme peca numa das áreas mais deficientes do cinema nacional: a edição de som, que escolhe barulhos desconexos para os seus respectivos produtores, além de serem muitas vezes ultrapassados (como o toque de celular, que mais parece brinquedo de criança).
Sonhos Roubados tem seus méritos, mas este tipo de filme – que podemos chamar de “favela de estúdio” – já não tem encontrado mais espaço no cinema nacional. Confesso que dessa vez, infelizmente, não acho que Sandra irá emplacar mais um sucesso em sua boa carreira.
Trailer:
(idem, Brasil, 85 minutos, 2009)
Dir.: Sandra Werneck
Com Nelson Xavier, Marieta Severo, Ângelo Antônio
Nota 6,0
4 comentários:
filme brasileiro sempre tem que mostrar desgraça! OMG!
Tipo de filme que eu passo, mais uma vez o cinema nacional traz a "favelação" no cinema? tsc!
Gisele, o cinema do mundo inteiro mostra suas desgraças. As nossas desgraças são estas, então elas são mostradas. É normal. Só acho que poderíamos variar mais o assunto, que também poderia ser sobre desgraças, só que sobre outras desgraças.
Cristiano, a intenção da "favelação" de Sandra Werneck era boa, mas nem tudo funcionou...
Não se trata de mais um filme de "favelação". Sandra Werneck traz finalmente o olhar feminino sobre o tema. E sem deixar suas personagens fadadas a um final triste, a ideia de uma possibilidade de final feliz é presente no filme e as meninas, apesar de tudo, são felizes, se divertem, amam e acreditam em sonhos.
Além disso, traz à tona a questão da prostituição infantil sem olhares preconceituosos, retratando um tema que devemos pensar.
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