Desde o Festival de Brasília, em novembro passado, que eu já havia tomado uma certa antipatia pela cinebiografia do presidente Lula. Não que eu seja totalmente contra o governo dele, pelo contrário. O que afastou as possibilidades de eu assistir este filme (dentre outras razões) foi o teatro armado pelo produtor Luís Carlos Barreto, durante o festival, querendo, inclusive, expulsar os jornalistas da sessão do filme e algumas pessoas que haviam ocupado, sem saber, os lugares que seriam da equipe do filme, chegando a ser grosseiro com o público.
Agora, às vésperas da estreia (e sem o filme nas bancas piratas), resolveram também não realizar as chamadas "cabines de imprensa" (sessão para jornalistas), que é o meio que praticamente todos os filmes usam para conseguir divulgação. Qual o pretexto? "Para evitar a pirataria". Mas só cancelaram a cabine de Brasília. Porque? Os jornalistas de outros estados não incluem-se na lista de "prováveis pirateadores" do filme dele? Aí é o seguinte: pagar para divulgar este filme eu não vou. Faria isso se fosse uma obra que valesse a pena.
Inicialmente, Lula - o Filho do Brasil teria estreia em mais de 600 salas no país, mas resolveram diminuir este número para pouco mais de 350 salas. O motivo? Talvez a empolgação menor do que o esperado, por parte do público? Talvez o medo de enfrentar o crescente número de espectadores de Avatar? Ou será porque alguns cinemas se recusaram a exibí-lo? Não sei. Eu sei que a produção de R$ 16 milhões (a mais cara da história do cinema nacional), tinha pinta de sucesso garantido, mas agora não sei mais...
Guardei um texto desde o final de novembro, do jornalista Leonardo Attuch, da Revista Istoé, que expõe uma série de motivos para não assistir o filme. O texto chama-se "Não Vi e Não Gostei". Transcrevo-o abaixo:
(23-11-2009) "Na semana passada, a alta corte se reuniu em Brasília. Mais de 1,4 mil pessoas lotaram o Teatro Nacional para assistir à pré-estreia do filme, Lula, o Filho do Brasil. Nos círculos do poder, em que o “puxassaquismo” faz parte da etiqueta social e é instrumento de ascensão profissional, compreende-se que algumas pessoas tenham sentado nas escadarias e se dependurado nos lustres do teatro. Mas, quando a produção chegar às salas de cinema, dificilmente terá a mesma recepção. E talvez entre para a história como o filme de expectativas mais infladas já rodado no País – e o que menos correspondeu a elas.
Por mais que Lula seja “o cara” e mereça a popularidade que tem, existem razões filosóficas, estéticas e morais para não se assistir ao filme. A principal: é simplesmente indecoroso que o produtor Luiz Carlos Barreto tenha rodado sua sacolinha no auge do poder petista. Com mais de R$ 12 milhões arrecadados, ele conseguiu produzir a película mais cara da história do cinema nacional. Eike Batista, aquele que queria um empurrão do Planalto para ficar com a Vale, deu R$ 1 milhão. A Camargo Corrêa, que depois de uma operação da Polícia Federal foi socorrida pelo advogado Márcio Thomaz Bastos, por sugestão direta do presidente, também entrou no consórcio, assim como duas outras empreiteiras. E a Oi, que ganhou uma lei sob medida na telefonia e há poucos dias recebeu R$ 4,4 bilhões do BNDES, também está no time dos patrocinadores. Por isso, é risível o comentário do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que, na pré-estreia, indagou: “Por que a oposição não arruma alguém para fazer um filme também?” Ora, porque não tem a chave do cofre nem a da cadeia – e talvez porque tenha compostura.
Se isso não bastasse, o principal ingrediente do filme parece ser o sentimentalismo barato daquelas produções “feitas para chorar”. A história de um herói improvável que supera dificuldades e chega ao cume da glória, carregado pelo povo. Na linha do indiano Quem Quer Ser um Milionário?, o nosso poderia se chamar “Quem Quer Ser um Presidente?”. Só que a arte de Lula sempre foi a de transformar adversidades, como a origem humilde e a falta de diploma, em vantagens comparativas no jogo da competição politica. Numa sociedade tão desigual e culpada como a brasileira, nada disso foi obstáculo ao seu sucesso – e talvez tenha até ajudado. Por tudo isso, e pelo simples fato de que teria sido mais decente esperar o fim da era Lula para rodar o filme, a produção da família Barreto não vale o ingresso nem a pipoca."
Por mais que Lula seja “o cara” e mereça a popularidade que tem, existem razões filosóficas, estéticas e morais para não se assistir ao filme. A principal: é simplesmente indecoroso que o produtor Luiz Carlos Barreto tenha rodado sua sacolinha no auge do poder petista. Com mais de R$ 12 milhões arrecadados, ele conseguiu produzir a película mais cara da história do cinema nacional. Eike Batista, aquele que queria um empurrão do Planalto para ficar com a Vale, deu R$ 1 milhão. A Camargo Corrêa, que depois de uma operação da Polícia Federal foi socorrida pelo advogado Márcio Thomaz Bastos, por sugestão direta do presidente, também entrou no consórcio, assim como duas outras empreiteiras. E a Oi, que ganhou uma lei sob medida na telefonia e há poucos dias recebeu R$ 4,4 bilhões do BNDES, também está no time dos patrocinadores. Por isso, é risível o comentário do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que, na pré-estreia, indagou: “Por que a oposição não arruma alguém para fazer um filme também?” Ora, porque não tem a chave do cofre nem a da cadeia – e talvez porque tenha compostura.
Se isso não bastasse, o principal ingrediente do filme parece ser o sentimentalismo barato daquelas produções “feitas para chorar”. A história de um herói improvável que supera dificuldades e chega ao cume da glória, carregado pelo povo. Na linha do indiano Quem Quer Ser um Milionário?, o nosso poderia se chamar “Quem Quer Ser um Presidente?”. Só que a arte de Lula sempre foi a de transformar adversidades, como a origem humilde e a falta de diploma, em vantagens comparativas no jogo da competição politica. Numa sociedade tão desigual e culpada como a brasileira, nada disso foi obstáculo ao seu sucesso – e talvez tenha até ajudado. Por tudo isso, e pelo simples fato de que teria sido mais decente esperar o fim da era Lula para rodar o filme, a produção da família Barreto não vale o ingresso nem a pipoca."
(Leonardo Attuch, Revista Istoé, 23/11/2009).
Agora cabe a cada um assistir ou não a este grande candidato a "mico do ano". Eu não vi e não gostei. E você?
Lula - o Filho do Brasil
(idem, Brasil, 2010)
Dir.: Fábio Barreto
Com Glória Pires, Juliana Barone, Rui Ricardo Diaz, Milhem Cortaz
9 comentários:
É esse "não vi e não gostei" que eu acho o grande perigo. Muita gente não está analisando o filme como arte em si, mas analisa com ideias (e preconceitos) partidários. Li uma matéria no site da RollingStone que acho que cabe aqui:
"Até agora as manifestações da "crítica" demonstraram preconceito. Há quem diga que não viu e não gostou. Outros, que se trata de uma antecipação do embate eleitoral. Na verdade, até agora não se leu uma crítica isenta sobre o filme Lula, o Filho do Brasil."
http://www.rollingstone.com.br/secoes/novas/noticias/7208/
O blog é ótimo, mas acho que a transcrição do texto do Leonardo Attuch foi totalmente fora de contexto.
nao vi, nao vou ver e nao gostei
e o acidente com o diretor nas vesperas da estreia seria de uma ironia tao grande se nao fosse tragico
vergonha? eu teria
jadielalvesfsa@hotmail.com
VI E GOSTEI,QUEM TEM HISTÓRIA CONTA QUEM NÃO TEM CRITICA.
É uma pena mesmo que um filme se misture tanto com política que não consigamos separá-los. Mas, eu vi e gostei da obra em si, só poderia ter sido lançada em outro momento.
Pessoal, há vários motivos para não corroborar com a hipocrisia que ronda o filme. O motivo pelo qual resolvi transcrever o texto do Attuch foi porque ele explica bem a situação. Se realmente quisessem fazer uma obra para ser julgada como arte, poderiam tê-lo feito em qualquer momento, exceto agora.
Entreatos, por exemplo, é um filme excelente, que foi lançado sem alarde e numa época em que não interferiria em nada na construção da imagem do presidente.
Eu acho o Lula um bom presidente, mas o oportunismo dos Barreto e a falta de respeito que eles reservam à imprensa dão margens a este tipo de não-crítica. Nós, críticos, trabalhamos (e muito) para divulgar os filmes. Se eles acham que a imprensa quer piratear o filme deles, preferindo nem sequer oferecer as tradicionais sessões de imprensa, nós, da imprensa, também temos o direito de escolher se veremos ou não o filme, como qualquer outro espectador.
Eu escolhi não ver. Talvez o faça, só que em outro momento (que com certeza não será enquanto o filme estiver em cartaz).
André, o post não é uma análise, porque eu não escreveria uma crítica sem ver o filme.
Anônimo 1 - acho uma covardia julgar o acidente do diretor como "ironia do destino". Isso não se faz. Por pior que sejam os filmes dele, torço pela sua recuperação.
E Amanda, você disse bem. É uma pena lançá-lo neste momento. Fica difícil separar política com cinema. Por isso, deixo para vê-lo depois que o "momento de mistura" passar.
Abraço a todos e viva a democracia!
=)
"...porque não tem a chave do cofre nem a da cadeia – e talvez porque tenha compostura."
FATO!
Opa fundo branco! Vlw fredin! xD abrass
De nada, Zé!
Então vamos lá, Bruna. Vou responder do jeito que eu entendi: eu concordo com você e com o que diz o Emir Sader. Não levaria em conta as críticas ao filme que focam no preconceito com o presidente, que é uma figura importantíssima na história nacional e que ajudou a criar uma identidade e um orgulho nacional em muita gente que antes não o tinha, por falta de identificação.
Fosse por isso, talvez eu tivesse assistido o filme, apesar de que a história não me empolgou muito.
O motivo maior da minha desistência foi mesmo a conduta da distribuidora e principalmente do produtor, que foi estúpido e ofensivo com a mídia em vários momentos. Além disso, vangloriar-se de "não ter usado verba pública" é, para mim, uma hipocrisia (vide as explicações do Attuch, em seu texto).
Enfim, deixa para lá. Em outra época e depois que a birra passar, assistirei ao filme.
No mais, muito obrigado por criar coragem e comentar! Seja bem-vinda!
Não vi e não gostei? Muito estranho. Como pode aderir e escrver uma frase dessas que é a consagração do preconceito?
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