Lírio Ferreira convidou Denise Dummont, filha de Humberto Teixeira, para acompanhá-lo na feitura de um documentário sobre seu pai. Em busca de conhecer e entender melhor o próprio pai, Denise aceitou a proposta e partiu com Lírio, em viagens nas quais ela entrevistaria pessoas importantes, que lhe contariam histórias sobre a vida pessoal e profissional dele.
Humberto Teixeira foi compositor de mais de 400 músicas e teve como grande – e quase que permanente – parceiro Luiz Gonzaga.
Gonzaga era como o seu elo de ligação com o povo. “O canhão e a pólvora”, como bem disse um dos entrevistados. Humberto fazia rima e métrica de maneira erudita e popular, ao mesmo tempo. Gonzaga, o cantor das massas. As letras de um encaixavam com a voz e o estilo do outro. Como ele mesmo disse: “O errado não é escrever errado. O certo é que é escrever como o povo fala”. Já no primeiro encontro musical dos dois, eis o sucesso: “eu vou mostrar pra vocês, como se dança o baião...”.
O diretor vai apresentando, na primeira parte do filme, a história da vida profissional do literato, poeta, escritor e músico, narrada por ele mesmo, através de um precioso depoimento que ele gravou em super 8. Ele estourou com marchinhas e sambas, mas seu grande nicho e sua grande obra veio do baião.
Um dos grandes méritos do documentário é que ele não se prende nem ao passado e nem ao presente. Há músicas mostradas em suas versões originais e outras tantas cantadas por gente ainda atuante. Sente só: Caetano, Gil, Gal, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Elba, Fagner, Belchior, Wagner Tiso, Chico, Mutantes, Zeca, Lenine, Otto, Sivuca, Patativa do Assaré, Carmem Miranda (em Technicolor!), Dalva de Oliveira, Carmélia Alves e muitos e muitos outros.
Se o remédio para a saudade for cantar, curemo-nos da nostalgia de tempos que se foram, assistindo o filme e relembrando músicas que com certeza fizeram parte da vida de todo mundo, mas que não sabemos quem as compôs.
Além de ser uma construção da memória de um grande artista nacional, O Homem que Engarrafava Nuvens (nome de uma poesia escrita por Humberto) é uma grande homenagem ao cinema nacional, por si só e pela quantidade de imagens que traz, de filmes que vão de Carmem Miranda a Oscarito e Grande Otelo. A emoção brotou quando, de repente, surge na tela Anselmo Duarte, em um de seus últimos depoimentos. Quanta preciosidade!
E quando chega Asa Branca, com sua letra triste e enternecida, duvido que alguém não se arrepie. Ainda mais cantada por ninguém menos que Maria Bethânia. Alguns podem sorrir, outros chorar. Eu chorei, de alegria e de saudades das minhas raízes.
Num segundo momento, uma crucial conversa entre Margarida Jatobá, ex-mulher de Humberto, e Denise Dummont (a filha), algumas revelações são feitas, mostrando que enfim a filha começa a conhecer o pai, que mesmo tendo-a criado, o fez com amargura por ver nela a imagem da mulher que ele tanto amara e que o deixara por outro. E no fim, em outro depoimento emocionante, Denise fala sobre o último dia ao lado do pai, quando finalmente eles pareceram pai e filha, em sua plenitude.
Quando parecia que o lado pessoal e o lado profissional já haviam sido tratados e que nada mais havia, vem então os reflexos da música dele em todo o mundo.
O Homem que Engarrafava Nuvens dá conta do pessoal e do profissional, além de fazer uma homenagem ao nosso país, com impressionante destreza.
Lírio Ferreira já havia feito um grande filme ao levar para as telonas a vida e Cartola. Agora entrega outra grandiosa obra. Sensacional!
Denise Dummont conheceu melhor o pai e nós, o grande artista.
Crítica filmada:
URL do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=PMn2KJOURsg
Câmera e montagem: Fáuston da Silva
Maquiagem: Maria Celina Gordilho
(idem, Brasil, 106 minutos, 2009)
Dir.: Lírio Ferreira
Nota 9,2
P.S.: fiquem até o fim dos créditos. Tem surpresinha pós-filme.
*estreia nesta sexta-feira (15/01)
13 comentários:
"Saudade o meu remédio é cantar!"
Bateu forte ai em?!`
É isso ai mano, cada dia melhor!
Abração!
até então eu não havia me interessado pelo filme, mas tua crítica me deixou com vontade de assistir.
abs
muito bacana, deu vontade de ver este filme!
e a ideia de fazer uma crítica filmada eu achei genial.
abraços!
Super curiosa com esse filme, mas nem vou ler, nem ver sua crítica ainda. hehe.
Viu que deixei um selo para você lá no CinePipocaCult?
bjs
Danilo - que bom que você tem assistido! O filme suscita saudade mesmo!
Bruno - este é o tipo de comentário que mais gosto de receber! Tomara que goste do filme!
Railer - muito obrigado! Que bom que vocês ficaram com vontade de ver o filme! Vale a pena!
Amanda - veja assim que puder. Mas não tinha problema assistir à crítica. Não contém spoilers, prometo! Eu vi o selo e vou colocá-lo ali, na barra lateral. Muito obrigado!
Abraços para todos!
Hey, você disse Humberto Ferreira na primeira vez! rs
Belo título!
Obs: bela cantoria no final! : )
Anna, parabéns! Você foi a única que reparou (e comentou) sobre essa falha! Nós (Fáuston, montador do vídeo e eu) só reparamos nisso depois que o vídeo já estava publicado, então não deu para consertar...
A cantoria não era prevista, mas até que ficou simpático, mesma com a desafinação, né?!
Ia comentar sobre o Humberto "Ferreira", mas vi que Anna já comentou, hehe. No mais, parabéns, tá ficando cada dia mais solto, até cantou.
O filme é um resgate muito bom, todo mundo conhece Luís Gonzaga, mas pouca gente sabe quem foi Humberto Teixeira. A filha seguir mediando as entrevistas também é muito bom. O encontro dela com a mãe foi forte. Gostei.
bjs
Pois é, Amanda. A desvantagem dos vídeos é que eu não tenho como corrigí-los. Ainda fico tão nervoso que sempre falo alguma bobagem. rsrs
Mas está melhorando.
Sabia que você ia gostar do filme.
Bjo!
Sabe onde a gente acha o DVD?
Michel, pesquisei e vi que o dvd ainda não foi lançado. Imagino que não deva demorar, pois o filme já não está mais em cartaz.
Olá...como é possível se obter o dvd deste filme tão lindo?Grata-Beth-SP- elisabethfs@terra.com.br
22/8/11-Biscoito Fino lançou...ontem.
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