Guido Contini (Daniel Day-Lewis) é um cineasta de renome da década de 60, prestes a filmar sua nona obra, mas, sofrendo de pressão por parte do público e imprensa, tem um bloqueio criativo e não sabe o que fazer com o novo filme, chamado Itália. Guido buscará inspiração nas mulheres que o cercam: sua esposa (Marion Cottilard), sua mãe (Sophia Loren), sua amante (Penélope Cruz), a protagonista do seu filme (Nicole Kidman), a figurinista e conselheira (Judi Dench), uma repórter sedutora da revista Vogue (Kate Hudson) e uma prostituta (Fergie, vocalista do grupo Black Eyed Peas) que revelou-lhe “mundos novos” na sua infância.
O filme é uma releitura da peça teatral homônima da Broadway, que por sua vez era inspirada na obraprima 8 ½, de Federico Fellini. O diretor escolheu para o elenco, segundo ele mesmo declarou, artistas que Fellini aprovaria. Sei.
O elenco inteiro se preocupou em encarnar a alma italiana, com sotaques e aparências, inclusive Fergie, fazendo o que mais sabe: cantar e dançar, sem muitas falas. Daniel Day-Lewis é um ator impressionante. Encarna seus personagens com uma força tão grande que fica difícil não vangloriá-lo por qualquer papel que interprete. Seu Guido Contini é uma grande homenagem a Marcelo Mastroianni (que interpretou o personagem em 8 ½) e a Fellini, em sua fase de “bloqueio criativo”. Ah, se todo bloqueio criativo fosse assim! Em volta dele, as mulheres todas brilham, mas as estrelas de Marion Cottilard e Penélope Cruz têm mais intensidade. A segunda está cada dia melhor e protagoniza o melhor número musical do filme, usando todo seu poder de sedução.
Nine conta ainda com uma direção de arte que cuidou muito bem desde os grandiosos cenários, ruas e carros elegantes até a criação de um cartaz de filme no mesmo estilo em voga na década de 60 e uma direção de fotografia impecável, com variações de cenas entre o preto-e-branco e o colorido e excelentes escolhas de ângulos e movimentação de câmera.
Até aqui, tudo muito bom. O problema é que Nine sofre do mal que acomete muitos filmes em Hollywood: retrata uma época e um país (neste caso, a Itália), mas é todo falado e cantado em inglês. Continuo achando isso inadmissível e isso estraga qualquer filme, para mim. Admiro Tarantino, que em seu Bastardos Inglórios não abriu mão das línguas e pôs alemão falando alemão, inglês falando inglês e francês falando francês. O único sopro de italiano em Nine são uns poucos versos da música cantada por Sophia Loren, que logo volta a falar o bom (?) e velho inglês.
Para lá da sua primeira metade, as mulheres que cercam o diretor bloqueado têm suas importâncias na vida dele reveladas e a história se esvai em cenas que parecem estar lá apenas para preencher espaço, o que faz o filme, de menos de duas horas, parecer ter três horas de duração.
Talvez um pouco mais de capricho no roteiro e uma montagem mais enxuta lapidariam a obra.
Nine é um filme divertido e cheio de brilho no começo, mas cansativo e (quase) apagado no final. Prometia ser um grande filme, mas infelizmente ficou só no “quase”.
De qualquer forma, não saiam do cinema antes dos créditos subirem. Há cenas dos bastidores e ensaios para os números musicais, bem interessantes e pertinentes.
Trailer:
(idem, EUA/Itália, 118 minutos, 2009)
Dir.: Rob Marshall
Com Daniel Day-Lewis, Penélope Cruz, Marion Cottilard, Judi Dench, Nicole Kidman, Kate Hudson, Fergie e Sophia Loren
6 comentários:
Só eu que fiquei decepcionado com esse filme?
Quer dizer, não é tão ruim quanto muita gente fala, mas não chega perto do que aparenta.
Algumas coisas absurdamente lindas, outras completamente desnecessárias. É sempre assim, odeio quando eu fico empolgado com um filme...
Eu só não fiquei decepcionado porque já havia lido antes sobre o filme, Mr Dalloway. Talvez por isso não tenha achado tão ruim assim. Consegui me divertir com alguns números e não levei a sério a história, que é vazia. Aí deu pra gostar um pouquinho!
Eu gosto tanto do Daniel Day-Lewis que morro de medo de vê-lo cantando e isso quebrar meu coraçãozinho.
Celina, ele não paga mico não, para seu alívio!
Daniel Day-Lewis está ótimo, mesmo cantando, Maria. Vá sem medo.
Quanto ao filme, eu não achei uma decepção, talvez o roteiro pudesse ser lapidado como você falou, mas achei as sequências bem condizentes. Eu não esperava nada dele e achei que foi aquilo que poderia ter sido, talvez as expectativas é que estavam acima, não sei. Mas, olho para Nine e não vejo nada que o desmereça em relação a um Chicago, por exemplo, que foi tão aclamado. Um musical bem feitinho. Agora, concordo que o final é quase um anti-clímax, bem diferente da cena no picadeiro de 8 1/2.
bjs
Amanda, eu até esperava algo dele, na época que as notícias foram soltas. Depois de algumas críticas lidas e da falta de indicações às premiações, abaixei a expectativa.
E concordo com você: não entendo porque de tantas pedras jogadas nesse filme. Não é excelente, mas é divertido e bem produzido, apesar do final.
Bjo!
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