Scoop marcou o retorno de Woody Allen ao gênero que o consagrou - o das comédias escrachadas cheias de humor irônico e todo o tom neurótico que lhe é peculiar-, após sua “aventura” muito bem sucedida em outros ares, no thriller dramático Match Point.
Ao contrário de Match Point, esse aqui é um exemplar que não traz nada de inovador. Na verdade, soa como uma homenagem de Allen a alguns de seus filmes, como Assassinato em Manhattan e O Escorpião de Jade, pelo clima de sociedade elitizada londrina de décadas de maior charme, no que diz respeito à ambientação criada para o desenrolar da história.
Me lembrou um pouco do humor estabanado que Allen imprimou em O Dorminhoco, de 1966.
Sondra Pransky (Scarlett Johannson) é uma jovem estudante de jornalismo, que vai ao show de ilusionismo de Sid Waterman (Woody Allen), onde é pega como voluntária para um dos números e é colocada numa caixa e lá aparece para ela o espírito do jornalista recém-falecido Joe Strombel (Ian McShane), que viu na garota a oportunidade de dar o último e grande furo de sua carreira: ele descobrira, logo após (!) morrer (!!), que o milionário boa-pinta Peter Lyman (Hugh Jackman) é, na verdade, o serial killer mais procurado pela polícia londrina. Parênteses: as cenas do presunto Strombel no barco da morte são absurdamente teatrais e toscas, mas são engraçadíssimas.
Sondra, sedenta pela primeira grande reportagem de sua carreira, vê no boato recebido do além, a oportunidade perfeita. Resolve correr atrás da notícia e com a ajuda do atrapalhado e patético mágico Sid (que se passará daí em diante por seu pai) se infiltra no meio de convivência do galã milionário, culminando numa relação amorosa e perigosa com o cidadão.
Em ritmo de comédia romântica, o que se segue a partir disso é uma sucessão de cenas cômicas no melhor estilo “trapalhão-Allen-de-ser”, justamente onde reside toda a graça do filme: na interpretação desse grande diretor/ator neurótico. Allen só peca em algumas falas, quando exagera na gagueira com o propósito de parecer estabanado, mas mesmo assim, é o que vale a pena no final.
Hugh Jackman fica aquém de sua capacidade, parecendo o tempo todo não estar à vontade, talvez por estar intimidado por lidar com um ícone do cinema como Woody Allen. Já Scarlett se esforça ao máximo em caracterizar a desengonçada jornalista, se escondendo em roupas largas e um óculos enorme, mas tudo não passa de caricatura. Além do mais, irrita o fato de ela não se assumir como cheinha (no filme) e ficar murchando barriga (nitidamente) ou Allen sendo obrigado a captar só o rosto dela em cenas que exigem um enquadramento geral de seu. O que transparece é só a química entre ela e Woody Allen e é nítido o carinho e cuidado dele com sua musa.
O desenrolar da história é muito divertido, passatempo com potencial sinestésico enorme, mas que desemboca num final sem acabamento, tudo é resolvido em cerca de três sequências, deixando a sensação de que faltou alguma coisa, a tal pergunta: “Mas esse é o final?”.
Esperava-se de Woody Allen algo mais criativo, mas tudo bem. Diante de tanta graça, entendemos que o propósito é se divertir e assim, ele se redime dos pecadinhos!
Ficha:
Scoop
(Inglaterra/EUA, 96 minutos, 2006)
Dir.: Woody Allen
Com Woody Allen, Scarlett Johansson, Ian McShane, Hugh Jackman
Nota: 6,3
6 comentários:
Lembra mesmo esse lado mais pastelão de Allen, tipo O Dorminhoco, que é um filme que eu adoro por sinal. Acho que é um dos meus prediletos dessa era "Allen na Europa".
Também adoro O Dorminhoco, Pedro! Filme "futurista" engraçadíssimo!
Acho esse filme tão sem vida! Não consegui ver muita graça nele...
Não é mesmo nem de longe o melhor exemplar de Woody Allen.
Mas pra mim foi uma boa diversão escapista...
Abraço, Matheus!
Yo también esperaba algo más de esta película. Te deja con un regusto agridulce
Eu também esperava mais deste filme. Saí com um sabor agridoce
Olá, Preste Juan! Há sempre mais para se esperar quando trata-se de um filme do Woody Allen. Mas de vez em quando, ele dá umas derrapadas, como neste caso.
E pode comentar em espanhol, acho ótimo para que eu entenda melhor sua língua!
Abraço!
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