O título é assim mesmo, emendado. Deixei o original porque gosto mais. No Brasil ficou Azul Escuro Quase Preto. Confesso que ao assistir o filme, não encontrei uma explicação objetiva para chamá-lo assim, mas depois li uma entrevista do diretor e roteirista, que explicava-se, dizendo que esse é o estado de espírito em que encontram-se os personagens. Entendi.
O projeto do filme começou a se desenhar quando o diretor e roteirista espanhol Daniel Sánchez Arévalo, formado em administração, resolveu fazer o mestrado em cinema na Universidade de Columbia. Lá exigiram-lhe que escrevesse um roteiro e ele fez um que contava a sua própria vida, denominado de Física II, curta-metragem que ganhou vários prêmios e deu ao diretor a chance de estrear em longa-metragem. Para não mexer em time que estava ganhando, Arévalo resolveu dar continuidade à história do curta.
Reuniu todo o elenco novamente (exceto o protagonista, substituído pelo também novato e revelação Quim Gutierrez), acrescentou alguns personagens e retomou os trabalhos nesse filme.
O personagem central é Jorge, um jovem porteiro nada conformado com a profissão, que estuda administração de empresas e nas horas livres cuida do pai, um senhor que sofreu um derrame e perdeu, entre outras coisas, o controle do esfíncter. Além dele, somos apresentados a Andrés, amigo de Jorge, que vive na cobertura do prédio tirando fotos de um “massagista sexual” (!) e seus clientes, do prédio vizinho. Há também tem o irmão de Jorge, Antonio, que está preso. Antonio está prestes a sair da prisão e quer que Jorge lhe faça um favor: engravidar sua namorada (já que ele é estéril), também presidiária, para que ela seja transferida para um setor melhor do presídio. Mas Jorge já tem uma relação conturbada com uma moça de classe mais “provida” e as visitas à namorada do irmão podem deixá-lo balançado. Ao mesmo tempo, o amigo de Jorge descobre que um dos clientes do massagista ao lado é seu próprio pai, que após as sessões ainda aceita outros “favores” do massagista.
É desse turbilhão de histórias que surgem situações e assuntos muito delicados de se tratar, mas também gera cenas engraçadíssimas, vindas principalmente do núcleo do amigo de pai homossexual.
Algo que me chamou a atenção foi a forma de condução do roteiro, cujo argumento chega a ser folhetinesco, mas que as reviravoltas típicas de tal são tão inusitadas, supreendentes e inesperadas (sei lá qual o termo mais adequado) que é difícil não se envolver com os personagens (extremamente cativantes e críveis) e torcer para que as histórias tenham finais felizes, diferentemente do que aconteceria na realidade. É aquela magia que o cinema causa, de vermos na tela um desejo (que é pessoal) ser realizado, já que do lado de cá isso nem sempre é possível. Mas o que o diretor quis não foi realizar na tela os desejos do espectador, e sim mostrar que o importante é tentar.
Até o lugar onde se passa a trama não é sabido em momento algum, justamente pra deixar claro que os casos podem ocorrer em qualquer lugar, ali no vizinho ou aqui em casa.
O cerne comum a todos os personagens é que eles desejam aquilo que não podem ter, mas ainda assim lutam contra o destino. Pessimista o diretor? Nem sempre. Em alguns casos, há cenas de resolução dos problemas tratados, mas em outros, a vida seguirá estagnada. Paciência, a vida é assim e assim pensou o filme o diretor.
Não é preciso elogiar ou criticar este ou aquele aspecto em AzulOscuroCasiNegro. Basta ater-se à história para chegar a conclusão de que trata-se de um filme bem acima da média.
Vale a pena conferir. Nem que seja para fugir da mesmice que Hollywood nos oferece.
Vencedor de 19 prêmios mundo afora, dentre eles 3 Goya (melhor ator coadjuvante, diretor e ator revelação).
Como é um filme difícil de encontrar no Brasil, eis aqui o torrent.
Trailer (sem legendas):
Ficha:
AzulOscuroCasiNegro
(Espanha, 100 minutos, 2006)
Dir.: Daniel Sanchéz Arévalo
Com Quim Gutierrez, Marta Etura, Antonio de la Torre, Héctor Colomé...
Nota: 7,8
2 comentários:
Não conhecia o filme, mas fique curioso com sua resenha. Deve ser um drama no mínimo interessante.
Abraço
E é, Hugo.
Assista e não se arrependerá.
Abraço
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