Francis Ford Coppola já foi diretor cultuado por público e crítica, mas nas últimas duas décadas seus (poucos) filmes foram ignorados por ambas as partes, o que é justificável pela força perdida do diretor. “Tetro” é sua tentativa (?) de renovar a própria obra.
Realizado em formato melodramático clássico, o filme evoca esta atmosfera, mas não consegue emaná-la.
É um longa sobre dois irmãos: Bennie, um jovem servidor de um navio, e Tetro, outrora Ângelo, escritor fracassado que se mudou há dez anos para Buenos Aires, fugindo da sombra do pai, famoso maestro de ópera em Nova Iorque. A grande diferença de idade entre eles faz com que Bennie procure em Tetro explicações para o seu passado e o passado da família, mas Tetro não está nem um pouco disponível para fornecer informações.
Invertendo os tradicionais papéis da fotografia, Coppola utiliza o preto-e-branco para representar o presente e o colorido para representar o passado, como se o que se foi fosse mais feliz do que o que é, o que não é verdade, já que ambos os tempos do filme são dolorosos. A única vantagem nesta utilização é que a predominante fotografia P&B concede charme à história.
Ademais, Coppola escolhera um elenco duvidoso, cujas boas escolhas se concentram apenas no elenco latino, liderado por Maribel Verdu (“E Sua Mãe Também”) e Carmem Maura (“Valentin”). A primeira está revigorante e muito à vontade, enquanto que a segunda, apesar de entregar uma interpretação dura, bem diferente da maestria que demonstra nos filmes de Almodóvar (por exemplo), segura bem as pontas.
Já a dupla Vincent Gallo e Alden Ehrenreich, que interpretam os irmãos protagonistas, estão tão apáticos que seus trabalhos me foram indeferentes.
O clima de melodrama está mais para piegas do que para classicista e por vezes, o diretor parece não levar à sério o próprio trabalho, como se zombasse daquilo que fez. É estranho, pois, que um roteiro que seria muito bem aproveitado por um Almodóvar, torne-se um drama tão exagerado nas mãos deste outro mestre.
“Tetro” tem cara de clássico, final de clássico e diretor de clássicos. Nem por isso chega a ser um clássico. E Coppola por Coppola, eu tenho preferido a Sofia.
Trailer:
(idem, EUA/Itália/Espanha/Argentina, 124 minutos, 2009)
Dir.: Francis Ford Coppola
Com Vincent Gallo, Maribel Verdu, Carmem Maura
Nota 6,0
4 comentários:
Eu me surpreendi com o filme, não achei os dois apáticos. De fato o charme está mais na fotografia em preto e branco, mas o roteiro é interessante bem como a relação dos irmãos.
dou nota 8!
abraço
Cris, acho que gostar ou não deste filme, depende um pouco da disposição para aceitar os clichês de roteiro que ele propõe. Eu preferiria Almodovar dirigindo algo assim. Anyway, não é um filme ruim.
Abraço!
Puxa...eu gostei desse filme, gostei que só! Sem grandes justificativas, achei bonito... os quadros, as cores, a música, sentada na primeira fila com o pescoço torto e parecendo que aqueles bailarinos iam cair encima de mim. Acho que eu sou meio fácil de se encantar...
Ju, não sei se você é fácil de encantar, mas às vezes estamos de tão bom humor que fica mais fácil de gostar de qualquer filme. Mas Tetro não é tão ruim assim, para não ser gostado. Eu só não podia deixar de relatar os diversos enganos que o filme comete.
Abs
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