Steven Soderbergh definitivamente não é um grande diretor. Durante um tempo, eu achei que fosse, quando ele emplacou Erin Brockovich, Traffic e 11 Homens e um Segredo. Depois, ele voltou às suas origens, fazendo filmes alternativos (Bubble, Che Partes 1 e 2, Confissões de Uma Garota de Programa), mas particularmente, eu não gosto desse lado dele, porque quando ele faz filme sem compromisso com bilheteria, esquece que existe público e faz filme para si e quem quiser que se vire para entendê-lo.
Com O Desinformante, ele assume um meio termo, mas isso não é bom nem ruim. É exatamente a junção das suas duas facetas.
O protagonista do filme é Mark Whitacre (Matt Damon), um químico e executivo da empresa ADM, que fabrica componentes de diversos produtos alimentícios, quase tudo à base de milho (na época em alta na indústria). Acompanhando a “moda do milho”, Mark tornou-se um cara rico e requisitado, mas um vírus ataca a chamada lisina produzida pela empresa. Até que Mark recebe um telefonema suspeito de um cara que se apresenta como executivo japonês, dizendo que tem informações sobre o vírus, mas que somente as fornecerá mediante o pagamento da quantia de 7 milhões de dólares... mensais! Num piscar de olhos (e não se sabe por quê), o FBI entromete-se na história e faz com que Mark vomite as informações que tem, inclusive a denúncia de que a ADM faz parte de um cartel controlador do preço do milho em todo o mundo. Julgando-se esperto, Mark mente para o FBI, para a ADM, para a esposa e para quem estiver na sua frente, achando que pode levar vantagem da situação. Começa então uma teia de mentiras e investigações.
O grande problema de O Desinformante é o excesso de tecnicismo. É tanta informação sobre assuntos de pouco alcance popular que quem piscar pode não entender patavinas do filme. Não é como Prenda-Me se For Capaz, por exemplo, que também tem um sujeito mentiroso que se dá bem em tudo, mas que todo mundo entende as tramoias que ele faz, porque Spielberg sabe jogar as informações na dose certa, sem confundir o público.
A dose errada torna (quase) tudo ininteligível. Quem entende do assunto, gosta. Quem não entende, fica com a essência, mas não pega os detalhes. Isso num filme tão verborrágico como esse me deixa com a impressão de que estou sendo ludibriado, porque fico meio perdido e não gosto nada disso.
Mas este não é o único problema. Soderbergh tentou imprimir um tipo sutil de comédia, mas de comédia o filme pouco tem e de drama também tem pouco. Só sabemos que trata-se de uma comédia através da trilha toda engraçadinha, como a de alguns filmes de Woody Allen. Um trilha pastelão para um filme assim não caiu bem de jeito nenhum, apesar de, isoladamente, ser boa.
São poucos os momentos divertidos, como o discurso do milho no começo do filme ou a comparação que o pprotagonista faz entre ele e uma borboleta azul, laranja e amarela.
Outro pilar de sustentação é Matt Damon, rechonchudo e de bigodinho, em uma de suas melhores interpretações, o que pode render-lhe uma vaga na categoria de melhor ator do Oscar, caso o ano seja morno de atuações masculinas. Apesar do grande esforço do ator, eu não consigo deixar de pensar que Phillip Seymour Hoffman faria muito melhor do que Damon.
Os figurinos e os cenários da década de 90 não convencem, pois a lembrança que tenho (posso estar errado) é que as roupas, os móveis, os cabelos e a tecnologia daquela época eram bem mais modernos do que o mostrado no filme.
Fiquei com a impressão de que o roteiro era bom de se ler (pois daria pra pegar os detalhes com calma), mas a execução atropelou-se e não traduziu-se num bom filme.
Sem muito charme nem graça, não há trilha que consiga amenizar a tragédia.
Soderbergh quis ser Irmãos Coen, mas ficou só na intenção.
(The Informant!, EUA, 108 minutos, 2009)
Dir.: Steven Soderbergh
Com Matt Damon, Scott Bakula
Nota 5,0
1 comentários:
Pseudo...O filme é legal
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