Dom Hélder Câmara foi arcebispo emérito de Olinda e Recife, falecido em 1999. Mais que um líder da igreja católica brasileira (ele foi o criador da CNBB e um dos principais articuladores da Teologia da Libertação), Dom Helder Câmara foi uma liderança mundial na luta pela promoção humana contra a miséria e as injustiças.
Na década de 1970, era considerado, juntamente com Pelé, o brasileiro mais conhecido no mundo. Sua ideias integralistas e progressistas incomodavam as autoridades políticas e religiosas. As oligarquias brasileiras nutriam por ele um ódio tão grande que foram organizadas campanhas internacionais para detonar sua indicação ao prêmio Nobel da Paz – ele foi indicado ao prêmio por quatro anos consecutivos (1970 a 1973), mas as tais “forças contrárias” nunca facilitaram sua consagração. Até o Papa “podou” seu trabalho, dizendo-lhe que a função de profeta era de Pedro, então que ele se pusesse em seu lugar e parasse de viajar pelo mundo propagando sua palavra. Um absurdo.
O documentário Dom Hélder Câmara – o Santo Rebelde foi lançado em festivais em 2005, mas só agora conseguiu entrar em cartaz em Brasília. Antes tarde do que nunca, já trata-se de um filme excelente.
Fiquei super orgulhoso ao assistí-lo, já que foi a primeira vez que assisti a um filme da minha querida ex-professora de roteiro e agora amiga Érika Bauer. Agradou-me a maneira como ela conduziu o filme, sem levantar bandeira de religiões em momento algum. A intenção era apenas a de imortalizar a figura de um grande ser humano, que foi Dom Hélder.
A pesquisa de imagens de arquivo é fantástica, resgatando depoimentos de Dom Hélder, além de muitas fotos, tanto que ganhou diversos prêmios por sua pesquisa e roteiro (no Festival de Brasília, em Recife, CNBB, Varginha e no Recine, do Arquivo Nacional).
A única que me incomodou um pouco foi o som do filme. Não sei se por falha de produção ou se por falha da projeção do cinema, mas estava bem abafado. Algumas falas de Dom Hélder, especialmente quando ele conversa com uma senhora na Igreja, são ininteligíveis e a colocação de legendas nesses trechos seria muito bem vinda.
Num certo depoimento, um sujeito (cujo nome infelizmente não me recordo) sintetiza, poeticamente, quem foi Dom Hélder: “...numa Igreja esclerosada, D. Hélder foi uma lufada de ar novo...”.
O filme inicia-se muito bem, passa por um trecho arrastado, mas volta a arrebatar-nos nos últimos 15 minutos, com um desfecho lindo, ao som da música “Give Me Love (Give Me Peace on Earth)”, que serve como homenagem a D. Hélder, que viveu em função de levar mensagens de paz e igualdade pelo mundo.
Ao término da sessão, ouvi algumas conversas (que bisbilhoteiro!) e o sentimento de comoção era geral. Infelizmente, de jovens só havia eu na sala, pois seria ótimo que as novas gerações pudessem conhecer um pouco mais sobre a grande figura humana que foi D. Hélder.
Quem for de Brasília, não perca o filme, já que documentários, ainda mais nacionais, ficam muito pouco tempo em cartaz.
Trailer:
Dom Hélder Câmara
(idem, Brasil, 75 minutos, 2004)
Dir.: Érika Bauer
Nota 8,0
2 comentários:
Parabens para Érika, será que quando voltar ainda consigo pegar o filme em cartaz?
Dani, o filme sairá de cartaz durante o FIC, mas é possível que volte, a partir do dia 16.
Postar um comentário
Concordou com o que leu? Não concordou?
Comente! Importante: comentários ofensivos ou com palavras de baixo calão serão devidamente excluídos; e comentários anônimos serão lidos, talvez publicados, mas dificilmente respondidos.