O cinema francês, apesar de ser algumas vezes intelectualoide, frequentemente presenteia o público com filmes de conteúdo humanista e com categoria, faz pensar. E sabe tocar, como poucos, em temas religiosos sem tomar partidos ou criar polêmicas – exceto em casos raros, como “Je Salue Marie”, do Godard.
“Homens e Deuses” é ambientado nos anos 90, durante a Guerra Civil, na Argélia. Oito monges franceses viviam para ajudar a população, fazendo-lhes consultas e oferecendo-lhes medicamentos. Após o massacre de estrangeiros por um grupo fundamentalista islâmico, inicia-se uma onda de violência no local e os monges terão de decidir se voltam para a França ou se ficam e correm o risco de serem alvo dos fundamentalistas.
O filme foi vencedor do Grande Prêmio do Festival de Cannes e tem como protagonista Lambert Wilson, que interpreta com serenidade e discrição o frade líder dos monges, Christian. Ao seu lado, um ótimo elenco, que inclui ainda um simpático Charles Herin, esbanjando sabedoria como o mais velho dos monges, Amédée.
Com pouquíssima trilha sonora e elenco de apoio que parece ter sido escolhido no local, suas (pouco mais de) duas horas funcionam quase que integralmente como tempo de reflexão, mas sem soarem piegas ou como lavagens cerebrais religiosas. É algo mais próximo da reflexão do modo de vida que Kim Ki-Duk fez em “Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera”.
O diretor Xavier Beauvois utiliza com inteligência questões que envolvem política, para além da simples decisão dos monges de ficar ou partir. Envolve também pensar no próximo antes que em si – e isso é algo duro de se colocar em prática. E como a sabedoria na maior parte das vezes utiliza de poucas palavras para se fazer entender, Xavier também o faz através dos diálogos enxutos do roteiro.
“Homens e Deuses” une o silêncio do cinema de arte francês com elementos neorrealistícos iranianos, resultando numa obra calma, densa e extremamente bem realizada. Feito para extrapolar as fronteiras daquele país e ganhar o público (que admira o cinema engajado e que gosta de uma boa história) mundo afora.
Trailer:
(Des Hommes et Des Dieux, 122 minutos, França, 2010)
Dir.: Xavier Beauvois
Com Lambert Wilson
Nota 9,0
5 comentários:
Vi na mostra ano passado e me arrependi muito (pois só pude ver poucos filmes). pensando racionalmente sobre ele, concordo com o que vocÊ disse. Mas minha opinião é bastante inconsistente: achei muito mas muito chato.não pelo silêncio, não pelo contexto... vocÊ sabe como o filme foi recebido na frança?
Submarina, o filme foi muito bem recebido na França, tanto pela crítica quanto pelo público. Arrecadou mais de 27 milhões de dólares em bilheteria, número alto para os padrões de bilheteria francesa, especialmente quando se trata de um drama de arte. Respondido?
Abraços
Fred, parece realmente um ótimo filme, daquele tipo que tem um significado e que nos faz pensar. Só tenho lido elogios... verei muito em breve.
Bruno, o filme merece os elogios.
Abs
não gostei de nada!
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