A megalomania e a esquizofrenia que assolam Hollywood acabam de fazer mais uma vítima: Paul Giamatti. Sujeito de bons filmes no currículo, ele topou viver ele mesmo, neste filme em que mais vale a insanidade do que um bom roteiro.
Paul está em crise consigo mesmo e não consegue mais separar seu próximo personagem teatral de si mesmo. Numa tentativa desesperada de livrar-se dos problemas, resolve extrair sua alma e guardá-la num depósito de almas.
Depois de nada de interessante acontecer, começa então um tal de emprestar alma para cá, alugar alma para lá, um dar, vender e trocar sem pé, cabeça e muito menos fim. Um claro investimento em bizarrice e surrealismo, que não chega aos pés da genialidade de Quero Ser John Malkovich.
A confusão não se limita à história e aos quesitos técnicos. Ela se estende ao espectador – pelo menos a mim –, que por muitas vezes não saberá se a atuação é séria, quando o ator é o ator ou quando ele é o personagem. Por outro lado, isso pode ser considerado um mérito do Paul Giamatti, que mesmo não sendo genial, entrega uma ótima interpretação.
A metalinguagem vem por meio de referências a outros artistas e pela exibição de algumas cenas de outros filmes de Giamatti. À parte alguns poucos momentos engraçados, o resto é filosofia barata sobre almas, citações a Tchékov, muitos surtos, furos de roteiro e argumento mal desenvolvido.
Depois de determinado momento, a problemática em torno da peça que o ator ensaiava é esquecida e nunca mais toca-se no assunto. Fora os personagens, que vão sendo deixados pelo caminho, sem que haja algo que os amarre ou cenas que lhes dêem alguma resolução.
Completamente insano e perdido, Almas à Venda almeja ser fundo como um panelaço, mas não tem mais que a profundidade de um pires.
Depois, Giamatti (o personagem) ainda se arrisca a perguntar à sua esposa: “e se eu fosse um outro eu, no mesmo corpo, ainda assim você me amaria?”. Como ele, depois que “emprestou” a alma de outro, continuou agindo da mesma forma neurótica de antes, ela, obviamente, não entende nada. Nem eu.
Trailer:
(Cold Souls, EUA/França, 101 minutos, 2009)
Dir.: Sophie Bartes
Com Paul Giamatti, Emily Watson
Nota 4,0
6 comentários:
humm, apesar da sua avaliação negativa, fiquei curioso! Comédia esquizofrênica com Paul Giamatti (pra mim, um dos melhores atores em atividade) é um programa obrigatório. Uma pena que não vai estrear por aqui, mas estarei de olho na fita.
abraço!
vou ver e tiro minhas proprias conclusoes. ok
Engraçado que eu tive uma opinião completamente diferente. Essa é a melhor parte de ler outras críticas, quando encontramos pessoas com uma visão distinta da nossa e que nos faz querer rever um filme para entender (ou não) a outra opinião. Gostei demais de Cold Souls e também achei que é uma "cópia" de Quero Ser John Malkovich. E com direito a mistura com Brilho Eterno...
abc
Elton, eu também acho o Giamatti um dos melhores em atividade, mas me decepcionei com este filme. Tire à prova quando puder!
Rubia, quando tirar suas conclusões, me dê o feedback!
2T - entendo que, quando se consegue "entrar no clima do filme", pode-se gostar dele. Não foi o meu caso. Que bom que foi o seu.
Abraços!
Já ssisti "Quero Ser John Malkovich" e Cold Souls não chega nem próximo, é horrível...
Giamatti é uma ótimo ator sem dúvida mas, já estou quase certa que virou regra esse lance de todo bom ator ter uma filme ruim em seu currículo.
Só tendo uma boa alma mesmo para gostar desse filme... fala sério!!!
Juliana, não acho Cold Souls horrível, mas é mesmo muito fraco e não chega aos pés de Quero Ser John Malkovich. Giamatti é um ótimo ator, mas dessa vez errou na escolha.
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