“Quem não se comunica, se trumbica!” - diria Chacrinha.
“Ou não!” - diria Caetano.
É nesse confronto de bordões que encontro a melhor definição para Kukushka, filme russo dirigido por Aleksandr Rogozhkin.
O filme se passa em setembro de 1944, próximo ao fim da Segunda Guerra. Kukushka era o termo utilizado pelos finlandeses para designar uma pessoa de voz estridente e que conversava sem parar, então esse seria o soldado escolhido para ficar de tocaia nos campos de concentração, já que em momentos de perigo, seria ele o responsável para alertar o restante da tropa ou tentar conter o inimigo. E assim é um dos protagonistas: soldado escolhido como kukushka é abandonado preso a uma rocha, por correntes, no meio da floresta, para exercer o papel acima descrito. Muitos dias se passam, até que ele se revolta por ter sido isolado e esquecido pelo restante da tropa. Consegue então se libertar e sai à procura de refúgio. Encontra uma jovem solitária (e fogosa) morando à beira de um lago e lhe pede abrigo. Logo depois, surge um outro soldado, dessa vez russo, ferido nos campos. A jovem resolve lhe dar abrigo também. Forma-se aí um triângulo amoroso incomum. Os dois soldados são de tropas inimigas e falam línguas diferentes, mas são obrigados a conviver, pelo abrigo e pela fascinação que a tal moça causa em ambos.
Não há barreiras para o amor. A dificuldade de comunicação causada pelas línguas completamente estranhas dos soldados se torna pequena quando o importante ali é simplesmente conviver em harmonia para agradar a anfitriã. O grande problema é que os dois não podem esquecer que estão em meio à guerra e que ambos são de tropas inimigas. É nesse “pequeno detalhe” que reside a tensão do triângulo, afinal, a falta de diálogo verbal entre eles faz surgir a desconfiança e qualquer ato pode ser mal-interpretado.
Interpretações à parte (e agora me refiro às atuações dos atores), Kukushka é um grande filme, ainda que seja pequeno no quesito produção. Seu grande trunfo está no desenvolvimento competente de todas as etapas: uma idéia simples e original, desenvolvida num bom roteiro, dirigido por mãos adequadamente delicadas e com uma montagem que respeita o tempo de amadurecimento dos personagens e o tempo de construção das relações, pautadas em situações cotidianas, não tão corriqueiras, mas igualmente banais.
Por fim, para não dar ao filme um desfecho medíocre, o roteirista utilizou-se de uma antiga lenda russa, dando um toque fantástico a esta bela, mas nada piegas, história de amor.
Vencedor de 17 prêmios, dentre eles o de melhor filme russo de 2002.
Quem quiser ver o filme, segue o link do torrent, retirado do Makingoff
Ficha:
Kukushka (2002)
Dir.: Aleksandr Rogozhkin
Duração: 99 minutos
Nota: 8,2
Para quem gosta de: filmes russos; Ostrov (A Ilha)
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