Ao término de Alamar, eu ainda não tinha chegado a alguma conclusão. Não sabia se acabara de assistir um documentário ou uma ficção. Depois de pesquisar, encontrei a resposta: trata-se de uma ficção; o que o torna ainda mais impressionante. Mas o gênero em que se encaixa não é o mais importante.
O garoto Natan é filho de pais que acabaram de se separar e que antes de ficar definitivamente sob a guarda da mãe (italiana), segue com o pai (mexicano), para passar uns dias numa palafita, a fim de ser apresentado intimamente à cultura paterna. Lá, ele conviverá apenas com a beleza marítima e com alguns pouquíssimos pescadores da região.
Não fosse a empatia dos personagens – que possuem os seus respectivos nomes reais – o filme poderia ser um desastre insosso. Mas é difícil não se render à rotina tranquila de pai e filho, às belezas do mar e à contemplação do que há de mais primitivo.
Alamar é como um Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Kim Ki-Duk, 2003) e pai, filho e avô são budas mexicanos do mar. A inserção naquele universo pelas imagens deslumbrantes captadas nos impulsiona a imergir na história e nos fazer parte dela, como os documentários observativos de Robert Flaherty.
A câmera participa intensamente da rotina deles e em alguns (poucos) momentos os próprios denunciam a presença dela, como se realmente fossem atores sociais sendo acompanhados por um documentarista. Mas é louvável o esforço em não registrar ângulos repetitivos e fazer “miséria” de posse de tão poucos equipamentos e equipe.
Pedro González-Rubio escreveu, dirigiu, produziu, filmou e montou este filme com notável domínio da técnica. Com uma decupagem excelente, que vai do plongée às zenitais com naturalidade, ele capta a estonteante beleza da região de Chinchorro (atol do mar do Caribe) de maneira que poucos conseguiriam fazer. Fez desta ficção documentário, com maestria.
Ele resume toda a história em uma introdução com fotos e a partir do momento que pai e filho chegam à palafita, tudo o que se sucede é calmo e o pensamento é induzido à reflexão. É a extração de muita informação pelo nada, que muito contém. Filosófico, mas é verdade.
A ode aos pescadores, ao mar e à vida simples impregna e sensação que fica é a de que muita coisa aconteceu em 73 minutos, uma nova experiência foi vivida e o gostinho foi de quero-mais.
Trailer:
(To The Sea, México, 73 minutos, 2009)
Dir.: Pedro González-Rubio
Nota 9,0
2 comentários:
o cinema mexicano tem muito a oferecer. é o caso de 'lake tahoe' e 'o assassino sentimental de máquinas'. espero que o festival promova uma mostra para este país em breve.
Pedro, obrigado pelas dicas! Eu tenho o Lake Tahoe, mas não vi ainda. Este outro eu não tinha ouvido falar, mas tentar encontrá-lo. Seria ótimo uma mostra de filmes mexicanos no festival do rio ou de SP. Não lembro de terem feito nenhuma.
Abraço!
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