A mania de querer se hollywoodizar não é algo exclusivo do Brasil de algum tempo atrás. Ela também afeta outros países, como a Austrália, que levou para as telas esta autobiografia do bailarino chinês Li Cunxin, com tudo que um filme sessão da tarde hollywoodiano tem direito.
O roteiro, adaptado por Jan Sardi (Diário de uma Paixão), trás uma penca de diálogos baratos e situações que abusam dos estereótipos chinês e estadunidense, para contar a história do menino que foi escolhido, aos 11 anos, dentre alunos de uma escola do interior chinês, para integrar a escola de dança Madame Mao, em 1973. Em 1979, Li foi convidado a fazer parte da Companhia Houston de Ballet, nos EUA, onde faria um intercâmbio de três meses. O choque de culturas e a perspectiva de uma nova vida mudaria para sempre a vida do bailarino.
A constante comparação que a roteirista faz entre EUA e China, sempre apontando que os EUA é mais e melhor que a China em tudo, é algo de inacreditável arrogância e mal gosto. A limitação já se inicia com o exagero na caracterização do capiau chinês que se deslumbra com a cidade grande – sendo que o cara viveu anos numa cidade do tamanho de Pequim.
Por outro lado e por ironia do destino (ou não), o elenco ocidental – sem exceção – está péssimo, com um agente de balé (Bruce Greenwood) de dar vergonha em qualquer intérprete de gays dos anos 80 e um elenco de apoio que tem toda razão de não terem feito mais nada de importante na carreira.
Em contrapartida, tem-se Joan Chen (O Último Imperador), brilhando como a mãe de Li, e Chi Cao, encarnando com visível dedicação o protagonista, não só como atuação, como na dosagem do aprendizado do inglês e, principalmente, nas inúmeras cenas de dança, todas brilhantemente executadas, algumas até emocionantes. As peças de balé escolhidas para compor o filme, aliás, são uma mais bonita que a outra. Elas fizeram realmente parte da carreira do verdadeiro Li Cunxin. Entende-se, então, o porquê de ele ter tido reconhecimento internacional.
Algumas imagens de arquivo são usadas para ilustrar alguns momentos históricos da China e ajudam bem a situar e a compreender os momentos do filme.
Clichês à parte, a obra dirigida por Bruce Beresford (Dirigindo Miss Daisy) prova que para derrubar uma bela história de vida é preciso muito. Felizmente, os defeitos de roteiro, elenco e má influência hollywoodiana não foram suficientes para tirar a simpatia desta agradável biografia “água com açúcar”.
Trailer:
(Mao's Last Dancer, Austrália, 117 minutos, 2009)
Dir.: Bruce Beresford
Com Chi Cao, Joan Chen
Nota 7,0
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