Em novela mexicana, quanto mais trágica é a vida do(a) mocinho(a), melhor. Parece que Alejandro Gonzalez Iñarritu confundiu os nichos e levou esse lema para o cinema, com seu novo longa, Biutiful.
O diretor de Babel, 21 Gramas e Amores Brutos – todos de roteiros complicados e resolvidos com originalidade – desta vez resolveu assinar também a história do seu filme, mas não alcançou tanto êxito quanto na direção.
O enredo de Biutiful sofre pelos excessos. São duas horas e vinte minutos de muita, mas muita tragédia. Uxbal, personagem de Javier Bardem, é um homem que descobre que é portador de um câncer maligno, sem possibilidades de operação. Só lhe restam alguns meses de vida. É então que ele fará o possível para deixar mulher e filhos numa situação confortável. Acontece que a mulher é toda problemática e não se sabe se ela tem condições de criar os filhos.
Mesmo com esta nobre e evidente preocupação, Uxbal sofre com uma realidade cruel que o destitui da capacidade de amar e de perdoar. Acentuando o mergulho depressivo que o personagem faz, Iñarritu tece um retrato da sociedade marginal de Barcelona, com o ciclo de drogas, os imigrantes desesperados, a miséria. Pode ser um panorama fiel à realidade, mas tudo num só filme vira uma tragédia. Melhor seria se a história se concentrasse no pequeno núcleo que cerca o protagonista. Toda a história de contexto e dos imigrantes fica ali, quase solta, com pouca influência direta na história. A impressão é de que há uma necessidade enorme de mostrar que tudo está acabado e só alguns poucos trilharão um caminho de redenção.
Mas é claro que nem tudo é perdido e, mesmo com vários minutos excessivos de película, Iñarritu conta bem a história de Uxbal, numa atuação poderosa de Javier Bardem, ator espanhol que já conseguiu a façanha de ser indicado três vezes ao Oscar e que demonstra uma capacidade de mutação ímpar. É bonito ver a sua constante metamorfose. É muito fácil ter raiva e compaixão e sofrer com o seu Uxbal.
Para alguém com o currículo do Iñarritu, esta não é uma grande obra. Mesmo assim, é acima da média dos dramas que vemos por aí.
Trailer:
(idem, México/Espanha, 148 minutos, 2010)
Dir.: Alejandro González Iñarritu
Com Javier Bardem
Nota 7,5
3 comentários:
Eu também achei uma tragédia, mas me refiro ao roteiro do filme que parece não saber muito bem como fazer o filme andar e investe em subtramas todas mal desenhadas e resolvidas. O filme mistura imigrantes ilegais explorados, mulher paranóica, irmão traira, um caso homossexual mal encaixado na história, um pai ausente, filhos pequenos por criar, uma doença terminal e a mediunidade num samba do crioulo doido, sem conseguir dar consistência a nenhuma dessas vertentes. Chega ser espantoso! Fiquei muito decepcionado com o filme. Resta somente a atuação sensacional do Bardem.
Oi, Rafael. O roteiro deste filme é um grande erro. Se tivessem dado mais alguns tratamentos, talvez percebessem que tanta tragédia junta não era necessária. Uma pena, mas o Bardem vale o filme.
Abraço
Eu gostei simplesmente por isso, a captação desse cenário com núcleo meio disperso no entanto foi como uma pequena novela mesmo. Está entre os meus preferidos.
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